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    Polícia aposta em asfixia financeira no combate ao contrabando

    REYNALDO TUROLLO JR.
    ENVIADO ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU
    VINICIUS PEREIRA
    DE SÃO PAULO

    23/03/2015 02h00

    Desarticular quadrilhas especializadas em lavagem de dinheiro e em remessas de recursos para o exterior é uma das apostas para combater o contrabando no Brasil.

    A estratégia esbarra, porém, em investigações que demandam muito tempo, pessoal e recursos e, não raramente, punições que são reformadas por tribunais superiores, segundo autoridades.

    Além disso, tão logo um chefe de quadrilha é preso, um parente ou "laranja" assume seus negócios, afirmam advogados ouvidos sob a condição de anonimato.

    Em Foz do Iguaçu (PR), principal porta de entrada de contrabando vindo do Paraguai, a Polícia Federal prendeu, neste mês, quatro suspeitos de chefiar um esquema que mantinha 87 empresas fantasmas e de fachada usadas por contrabandistas e traficantes brasileiros para pagar, sem deixar rastros, fornecedores paraguaios.

    Segundo o delegado responsável pela investigação, Jackson Roberto Cerqueira Filho, do Grupo de Repressão a Crimes Financeiros da PF em Foz do Iguaçu, o esquema movimentou cerca de R$ 600 milhões em quatro anos.

    Parte do valor cruzava a fronteira fisicamente, levada por funcionários da quadrilha, e a maior parte, por um tipo de operação conhecida como dólar cabo.

    Pela investigação, as 87 empresas, em nome de "laranjas", ficavam em Foz e outras cidades paranaenses e também em Ribeirão Preto (SP).

    Compradores de São Paulo, Minas, Bahia e Goiás depositavam nas contas dessas empresas os valores que precisavam fazer chegar ao país vizinho.

    Doleiros e casas de câmbio sediadas nos dois países completavam o esquema, utilizando contas no Paraguai para efetuar os pagamentos aos fornecedores que lá estão.

    PERFIL DO GRUPO

    Assista

    Para a polícia, o perfil dos supostos chefes da quadrilha não levantava suspeitas.

    Segundo a Folha apurou, um deles, Jaimir Rezner, é gerente de um hotel e professor de administração na Unifoz, uma universidade local. Outro, Valdiney Vieira, é dono de uma loja de bebidas.

    Junto com Claudiomiro de Macedo Gomes e Eleandro Pontedura de Barros, eles são suspeitos de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e de constituir uma organização criminosa. Os quatro estão presos preventivamente.

    Advogado de Jaimir Rezner, Carlo Flores disse à Folha que o professor universitário está colaborando com a investigação e, desde 2013, não tem envolvimento com os demais suspeitos.

    Jorge Luis Nunes e David Eliezer Hayashida Petit, que representam Eleandro Pontedura de Barros e Valdiney Freitas Vieira, respectivamente, não quiseram se manifestar. A reportagem não localizou o defensor de Claudiomiro Gomes.

    Trinta e quatro laranjas que, segundo a PF, emprestaram seus nomes para a abertura das empresas fantasmas cumpriram prisão temporária e já foram soltos. Entre eles havia de empresários a empregados domésticos.

    "A mercadoria e a droga só são remetidos às pessoas que estão no Brasil porque o dinheiro chegou aos fornecedores", diz o delegado Cerqueira Filho. "Não precisa pegar o caminhoneiro, o dono da van que está levando a mercadoria, o cigarro. Vamos impedir que o dinheiro chegue. É uma forma mais inteligente de combater o crime."

    Segundo o delegado-executivo da PF em Foz, Rodrigo Costa, ações como a operação Bemol, que desarticulou o esquema, dependem de integração entre polícia e Ministério Público Federal e de um Judiciário "sensível" ao problema.

    "Temos um processo penal permeado de recursos, o que possibilita a protelação, e uma jurisprudência dentro dos tribunais superiores que, para manter alguém preso, necessariamente [ele] tem que cometer crimes com violência ou grave ameaça. Lavagem de dinheiro, via de regra, não tem violência", diz.

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