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    Contra comércio ilegal, empresas pedem que país contenha taxas e vizinhos

    RENATA AGOSTINI
    CLAUDIA ROLLI
    DE SÃO PAULO

    23/03/2015 02h00

    O peso dos impostos que incidem sobre a produção brasileira é decisivo para a proliferação de produtos contrabandeados no país, avaliam executivos de empresas afetadas pelo contrabando e especialistas presentes no fórum "O Contrabando no Brasil", promovido pela Folha nos últimos dias 18 e 19.

    Com mais tributos, os produtos nacionais tornam-se mais caros e a vantagem competitiva dos que entram ilegalmente aumenta.

    O Brasil tem a maior carga tributária da América Latina e uma das mais altas do mundo, segundo relatório produzido pela OCDE (Organização para a Cooperação Econômica) com dados de 2013.

    "Este é um país que fabrica impostos. Enquanto não conseguirmos mudar o modelo, estaremos sempre correndo o risco de dar competitividade a outros através da ilegalidade", diz Carlos Tilkian, presidente da fabricante de brinquedos Estrela.

    O setor estima que, no ano passado, de R$ 500 milhões a R$ 800 milhões foram para a venda ilegal de brinquedos.

    O presidente da fabricante de cigarros Souza Cruz, Andrea Martini, afirma que a elevação de impostos promovida pelo governo a partir de 2012 para coibir o fumo incentivou o contrabando de cigarros paraguaios.

    Hoje a empresa estima que quase um terço dos cigarros consumidos no Brasil venha do país vizinho. Sem controle de qualidade, eles têm venda proibida no Brasil.

    "Aumentou a carga tributária, pode se preparar, porque vai enfrentar evasão fiscal e contrabando", disse o ex-superintendente da Receita Federal Everardo Maciel.

    Para o empresariado, as alíquotas de importação impulsionam o comércio ilícito.

    Adilson Carvalhal Junior, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba), diz que o uísque contrabandeado ainda ocupa um quarto do mercado. "O consumidor não vê o retorno ao pagar um tributo tão alto e prefere correr o risco com o ilegal", afirmou.

    MERCOSUL

    As diferenças de tarifa dentro do próprio Mercosul (que reúne Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela) intensificam o problema. Uma parte significativa dos produtos que entram ilegalmente vem do Paraguai.

    O vizinho deveria ter as mesmas tarifas de importação que o Brasil, mas o Mercosul permite que os paraguaios mantenham 649 produtos com tarifas distintas.

    A vantagem vale, a princípio, até 2019. O prazo, porém, já foi renegociado diversas vezes. Brasil e Argentina podem manter uma lista de exceção com cem produtos até o fim deste ano. O Uruguai tem direito a 225 até 2017.

    A diferença de tributação favorece a importação pelo Paraguai de produtos chineses que são enviados ilegalmente ao Brasil.

    "Se o Mercosul funcionasse como foi pensado, o problema deixaria de existir porque os mercados seriam comuns, não teríamos que controlar as fronteiras como fazemos hoje", afirmou o ex-ministro da Fazenda e ex-embaixador Rubens Ricupero.

    AGENDA POSITIVA

    Para Ricupero, é preciso, além da repressão, colaboração entre os países vizinhos. "É de nosso interesse desenvolver o Paraguai. A balança comercial é extremamente vantajosa para o Brasil."

    Estima-se que em Foz do Iguaçu (PR) e nas cidades vizinhas haja 40 mil pessoas vivendo do contrabando.

    Segundo a Receita Federal, 30 mil veículos e 60 mil pessoas por dia passam pela ponte da Amizade, que liga Paraguai e Brasil. "É o dobro do fluxo de passageiros no aeroporto de Guarulhos", diz Rafael Dolzan, delegado da Receita Federal.

    O órgão criou em 2012 um programa para incentivar a legalização dos sacoleiros.

    Chamado de Regime de Tributação Unificada, ele permite que "microimportadores" possam trazer mercadoria do Paraguai com taxas reduzidas. Até agora, contudo, apenas R$ 3,2 milhões de mercadorias foram trazidas para o país por meio dele.

    Editoria de Arte/Folhapress
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