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    Brasil perde participação em 4 dos 5 maiores destinos de exportação

    ÁLVARO FAGUNDES
    EDITOR-ADJUNTO DE "MERCADO"
    RENATA AGOSTINI
    DE SÃO PAULO

    25/03/2015 02h00

    O governo Dilma Rousseff aponta a crise global como culpada pelo mau momento da economia e do comércio externo brasileiros, porém os números mostram que a culpa não está só no exterior.

    No ano passado, as exportações brasileiras (que acumulam três anos de queda) perderam espaço em 4 de seus 5 principais mercados em relação 2013.

    Ou seja, o Brasil vem ficando para trás onde mais interessa. O levantamento considera os dados dos países parceiros, permitindo verificar o desempenho do país ante os rivais internacionais.

    No grupo dos cinco maiores mercados, responsável por quase 60% do que o Brasil exportou em 2014, houve perda de participação na União Europeia, na China, na Argentina e no Japão. Somente nos EUA ocorreu aumento da fatia.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Em discurso em rede nacional, no início do mês, Dilma citou a crise global entre os principais motivos para as dificuldades econômicas vividas pelo país, que pode entrar em recessão em 2015.

    Os números mostram, no entanto, que outros países têm aproveitado o momento para roubar espaço do Brasil em mercados estratégicos.

    FALTA DE ESTRATÉGIA

    O caso mais drástico é o da Argentina, onde a fatia brasileira encolheu quatro pontos percentuais no ano passado.

    A crise econômica no país vizinho vem forçando-o a reduzir importações. Mas, enquanto as compras de produtos brasileiros tiveram queda de 25% em 2014, as de bens chineses caíram somente 5% e as do bloco Nafta, que reúne Estados Unidos, Canadá e México, subiram 4%.

    A China é quem mais avança sobre a histórica vantagem brasileira no mercado argentino –em 2005, os brasileiros chegaram a deter 36% das importações. Além de preço baixo, os chineses vêm oferecendo generosas linhas de crédito ao governo Kirchner.

    "Em troca de financiamento, a Argentina concedeu às empresas chinesas acesso ao mercado doméstico e a negócios em áreas estratégicas ligadas à infraestrutura, energia e agropecuária", afirmou Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco em relatório para investidores.

    Na União Europeia, cujos 28 países representam o principal mercado brasileiro, as importações ficaram estáveis em 2014 a despeito da crise. As compras de bens brasileiros, porém, caíram 8% até novembro. No mesmo período, China, Turquia, Coreia do Sul e EUA aumentaram as vendas.

    O resultado foi uma queda de 0,1 ponto percentual na fatia brasileira. A redução pode parecer pequena, mas no mercado europeu cada ponto percentual significa € 15 bilhões em vendas.

    "A Europa é fechada para alguns produtos, onde impõe barreiras técnicas. Ensaia-se há anos um acordo, mas a Argentina não deixa passar e o Brasil não faz pressão. O país se comprometeu demais com o Mercosul. Abraçou um mercado que afundou", diz Bruno Lavieri, economista da consultoria Tendências.

    A queda no preço de produtos básicos prejudicou o desempenho brasileiro na China, maior comprador de soja e minério de ferro do país.

    Mas enquanto as vendas brasileiras caíram, as compras chinesas seguiram com leve alta. Com portfólio de produtos mais amplo, Estados Unidos, Rússia e União Europeia aumentaram a participação, por exemplo.

    A indústria brasileira vem sofrendo com a queda de competitividade, diante de altos custos de fabricação. Em 2014, as vendas de manufaturados representaram 36% das exportações, a menor participação em pelo menos duas décadas.

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