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    Varejistas tentam driblar aumento do imposto sobre produtos de beleza

    ALINE OLIVEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    30/03/2015 01h20

    A cobrança do IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados) sobre a venda de produtos de beleza no atacado começa em 1º de maio, mas já causa impacto no varejo.

    Muitos empresários do ramo adotam estratégias para driblar a alta da tributação e não perder consumidores em um ano já afetado pelo crescimento fraco e dólar alto.

    Ao notar a diminuição da frequência de suas clientes, a proprietária da esmalteria Feito à Mão, em São Paulo, Vanessa Scici, passou a oferecer outros serviços.

    "A manicure é para ser consumida toda semana, mas desde o fim de janeiro, muitas clientes passaram a vir a cada 15 dias. Por isso, resolvi oferecer escova e hidratação", diz a empresária, que irá embutir o acréscimo do tributo nos novos produtos.

    "Não posso aumentar o valor de um serviço que é meu carro-chefe", explica.

    Davi Ribeiro/Folhapress
    Vanessa Scici, dona da esmalteria Feita à mão, na Mooca, percebe que as clientes vão menos vezes ao salão desde janeiro
    Vanessa Scici, dona da esmalteria Feita à mão, na Mooca, percebe que as clientes vão menos vezes ao salão desde janeiro

    Sofrerão a cobrança os produtos considerados supérfluos pelo governo, como maquiagem e esmaltes. Ficarão de fora xampu e sabonete (veja mais abaixo).

    O governo alega que a cobrança do IPI resolve uma brecha que permitia que as empresas pagassem menos do que deveriam.

    As indústrias, que já pagam o imposto sobre suas vendas, comercializam seus produtos a preços mais baixos para a empresa atacadista do mesmo grupo, diminuindo a base de cálculo do IPI. Com a mudança, o governo quer arrecadar R$ 653 milhões por ano.

    A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) estima mais que o dobro: R$ 1,5 bilhão por ano.

    "O governo precisa arrecadar dinheiro de alguma forma e nós estamos pagando o preço pelo nosso crescimento", diz o presidente da associação, João Carlos Basilio.

    O setor de higiene e beleza brasileiro cresce a taxas de dois dígitos, na média, há quase duas décadas. No ano passado, foi menor, de 4%.

    Basilio terá uma reunião com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, na quinta-feira (2), mas não está otimista. A cobrança é parte de um pacote para aumentar a arrecadação.
    no seu bolso

    Marcelo Schulman, presidente da Vita Derm Cosméticos, tem negociado com seus fornecedores para tentar minimizar o impacto da alta de preços para seus clientes.

    "Estamos buscando produtos similares para não repassar todo o aumento, mas os ajustes são inevitáveis e devemos aumentar o preço de alguns itens, como a coloração, em 7% a 8%", conta.

    Karime Xavier/Folhapress
    Marcelo Schulman, presidente da Vita Derm Cosméticos, diz que vai aumentar cerca de 7% a 8% os preços com o IPI
    Marcelo Schulman, presidente da Vita Derm Cosméticos, diz que vai aumentar cerca de 7% a 8% os preços com o IPI

    Basilio, da Abihpec, calcula que o IPI aumentará os preços do setor, em média, em 12% acima da inflação.

    A cobrança do tributo deve afetar também os investimentos em inovação.

    "O setor estava entre os três que mais investiam em inovação. Como a venda de produtos de maior valor agregado deverá ficar estagnada, não haverá recursos para ficar investindo", alerta o presidente da Abihpec.

    A alta do dólar antecipou a crise já que muitos dos insumos e produtos adquiridos no ramo são importados, diz o diretor da Beauty Fair, Cezar Tsukuda.

    Scici notou um acréscimo de 40% a 50% nos itens que adquire. "Tenho evitado comprar esmaltes importados com as cores da moda porque sei que as clientes vão usar uma vez, coisa que antes eu não fazia", diz a empresária.

    Para os especialistas, a melhor estratégia é investir na eficácia no atendimento e na gestão do negócio.

    "O comerciante terá que saber gerir seu estoque para evitar perdas", aconselha o professor da FGV, Claudio Goldberg.

    Já Marcelo Simões, diretor da TaxWeb Compliance Fiscal, diz que "é preciso fidelizar os clientes e manter atendimento e qualidade dos serviços em alta".

    Editoria de Arte/Folhapress

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