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    Crise aumenta recuperações judiciais e alimenta negócios para advogados

    RENATA AGOSTINI
    DE SÃO PAULO

    29/03/2015 02h00

    Economia parada, crédito escasso, empresas à beira da falência. Há quem veja oportunidades nesse enredo modorrento. Se nas planilhas dos economistas 2015 será de recessão, nas contas dos advogados desenha-se como um dos mais promissores.

    "Teremos um descolamento muito grande da taxa de crescimento dos escritórios e da economia. Algumas áreas serão o motor disso, como a de recuperação judicial", afirma Lior Pinsk, sócio do Veirano Advogados. Em ano de PIB negativo, o escritório estima crescer pelo menos 10%.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Nos dois primeiros meses do ano, 116 empresas foram à Justiça para tentar escapar da falência, segundo levantamento da Serasa Experian. A maior parte conseguiu.

    Em cada processo é necessário um batalhão de advogados. A empresa devedora recorre a eles para montar o pedido ao juiz e estruturar o plano de pagamentos. Quem tem a receber os procura para bater à porta da devedora em questão e tentar recuperar a maior quantia possível.

    "Achamos que o ano será mais movimentado do que no auge da crise", diz Fernando Serec, presidente-executivo do TozziniFreire, que projeta alta de 16% no faturamento. Em 2009, 670 empresas foram à Justiça pedir recuperação.

    A perspectiva de aumento no número de casos justifica-se na economia fraca, no corte de investimentos pela Petrobras e pelos efeitos da Operação Lava Jato nas finanças das empreiteiras envolvidas.

    Muitas dessas construtoras perderam acesso ao crédito e começaram a atrasar pagamentos. Na semana passada, a Galvão Engenharia protocolou seu pedido de recuperação. A próxima deve ser a OAS, e a lista tende a crescer. Os processos envolvem bilhões de reais.

    Apesar do número crescente de empresas em dificuldades, é na ponta dos credores que os escritórios correm para atuar. Pelos devedores, é preciso negociar e se indispor com bancos. E isso quase nenhuma grande banca quer –os banqueiros são grandes clientes das firmas.

    Atento ao filão, o escritório Dias Carneiro Advogados decidiu investir na frente dos devedores. Em meados de 2013, cerca de 30 advogados chegaram à firma para reforçar a área de insolvência.

    Em 2014, o faturamento triplicou, afirma o sócio Joel Thomas Bastos, especializado em recuperação de empresas. "A crise está lá fora. Aqui, não falta trabalho", diz.

    OPORTUNIDADE

    Não é apenas a área de cobrança e renegociação de dívida que anima os advogados. "A recuperação judicial é um gatilho que gera toda uma cadeia de negócios", diz Thiago Sandim, sócio do Demarest, que estima crescimento de 12% na receita.

    Durante o processo de reestruturação financeira, muitas empresas são obrigadas a se desfazer de ativos como forma de levantar recursos e pagar a credores.

    A área de apoio a auditorias nas empresas, chamada de "compliance", também cresce nos escritórios.

    Com a edição da Lei Anticorrupção e as recentes denúncias de pagamento de propina a agentes públicos, muitas empresas estão buscando a assessoria.

    "Em 2013, essa área nem sequer existia. Hoje temos dez advogados dedicados a isso", afirma João Ricardo Ribeiro, sócio do Mattos Filho.

    Segundo levantamento feito pelo TozziniFreire com 80 executivos de empresas com faturamento acima de R$ 1 bilhão, 41% elegeram investimentos em "compliance" como a prioridade para o ano.

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