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    Petrobras consegue financiamento de US$ 3,5 bilhões na China

    SAMANTHA LIMA
    PEDRO SOARES
    DO RIO

    01/04/2015 10h55

    A Petrobras anunciou ter fechado, nesta quarta-feira (1º), contrato para financiamento de US$ 3,5 bilhões (R$ 11,2 bilhões), no Banco de Desenvolvimento da China. O contrato foi fechado na China, pelo diretor financeiro Ivan Monteiro.

    É o primeiro contrato, segundo informações da companhia, dentro de um acordo de cooperação que vai vigorar entre 2015 e 2016.

    "Este contrato é um importante marco para dar continuidade à parceria estratégica entre o CDB e a Petrobras, fortalecendo as sinergias entre as economias dos dois países", diz a empresa, em nota.

    Os recursos do banco chinês chegam em momento em que a empresa faz grande esforço para preservar seu caixa. Outra medida é a redução dos investimentos, em corte próximo a US$ 14 bilhões (R$ 44,5 bilhões).

    A empresa ainda não divulgou seu balanço de 2014, porque ainda calcula as perdas que teve ao longo dos anos com corrupção.

    Uma vez revelado, o número deverá se refletir no resultado financeiro da empresa no ano.

    Em meio à crise global de 2009 e o fechamento do mercado global de capitais naquela época, a Petrobras também negociou um empréstimo com o banco de fomento chinês –que requer como contrapartida a compra de bens e serviços de empresas chinesas.

    Na ocasião, a estatal tomou um financiamento de longo prazo de US$ 10 bilhões, numa modalidade inédita até então, cuja garantia é o fornecimento futuro de petróleo. Para sustentar seu crescimento econômico, a China prioriza o acesso a reservas de petróleo e fornecimento assegurado do produto num largo horizonte de tempo.

    CRISE DA ESTATAL

    Para fazer frente à atual dificuldade de caixa, a Petrobras aumentou o valor dos projetos e investimentos que pretende se desfazer neste e no próximo ano.

    Com restrições maiores em obter crédito sem seu balanço auditado e após a perda do grau de investimento para seus títulos de dívida (sem esse selo de bom pagador, o crédito se fechou e ficou mais caro), a estatal se viu forçada a se desfazer de mais ativos (no valor de até US$ 13,7 bilhões), mesmo campos de produção, cuja avaliação de seu valor é afetado atualmente pela queda do preço do produto no mercado internacional. Já contratou bancos para negociar termelétricas, postos no exterior e uma fatia da BR Distribuidora.

    Em comunicado ao mercado, a Petrobras afirmou, na época, que os recursos que poderão ingressar no caixa da companhia com a venda de projetos e empreendimentos fazem parte do planejamento financeiro da companhia, que visa a preservação do caixa.

    Em outras palavras, a estatal pretende reduzir seu pesado endividamento –cujo vencimento da maior parte dele pode ser antecipado, se o balanço auditado não for aprovado até o final de abril. A Petrobras tinha dívidas de R$ 332 bilhões no fim de 2014. Em 2012, o primeiro ano sob a direção da ex-presidente Graça Foster, a dívida total da estatal era de R$ 181 bilhões. O indicador que relaciona dívida e patrimônio da companhia subiu de 31% em 2013 para 43% no fim do terceiro trimestre de 2014.

    Outro indicador do estrangulamento do caixa é a alavancagem (que relaciona dívida e geração de caixa): era de 2,77 em 2012 e passou para 4,63. Ou seja, a dívida, que já era quase o triplo da capacidade de gerar fundos, subiu para quase o quíntuplo.

    A estatal enfrenta ainda um processo nos EUA, lançado por acionistas minoritários e fruto das denúncias de corrupção investigadas pela Operação Lava Jato.

    Na terça-feira (31), o conselheiro da estatal e presidente da Amec (associação que representa investidores profissionais, como fundos, bancos e gestoras de recursos), Mauro Cunha, decidiu não concorrer a um novo mandato, citando "a incapacidade do acionista controlador [a União] em agir" para "reverter os inúmeros problemas" da Petrobras e pelos "abusos cometidos contra a companhia".

    Ele é um dos dois representantes no Conselho de Administração da Petrobras indicados por acionistas minoritários –os outros oito são eleitos pela União.

    Com essa crise de confiança, as ações da companhia despencaram nos últimos meses.

    OUTRAS FONTES DE RECURSOS

    Assim que publicar seu balanço com os valores da corrupção, a Petrobras pretende cobrar indenizações das empreiteiras envolvidas no esquema de desvios da Lava Jato, estratégia para evitar que a estatal tenha que se endividar mais para financiar o plano de exploração do pré-sal, conforme antecipou a Folha na segunda (30).

    A reportagem apurou que um grupo de trabalho envolvendo a Petrobras e a AGU (Advocacia Geral da União) estuda um plano de ressarcimento que garanta, ao mesmo tempo, caixa para a estatal e condições para que as empresas possam retomar os projetos paralisados.

    Os contratos deixaram de ser pagos pela Petrobras após a descoberta de que as construtoras deram propina a executivos da estatal e que muitos contratos continham sobrepreço. Uma força-tarefa trabalha para calcular quanto, afinal, teria sido desviado.

    Editoria de Arte/Folhapress
    UM PLANO PARA A PETROBRAS FAZER CAIXA Como a estatal pode levantar recursos cobrando indenizações das empresas da Lava Jato

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