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    Alvo da Operação Zelotes foi condenado por negócios no exterior

    JULIO WIZIACK
    NATUZA NERY
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE SÃO PAULO
    DE BRASÍLIA

    02/04/2015 02h00

    Alvo da investigação da Polícia Federal que apura esquema de compra de decisões do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), o empresário Victor Garcia Sandri já foi condenado pela Justiça Federal, pela mesma suspeita, a dois anos de prestação de serviços.

    O processo corre sob sigilo, mas decisão publicada em fevereiro tornou pública a condenação de Sandri, que ainda recorre da sentença.

    Sandri, que fez negócios com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, de quem diz ser amigo, é dono do Grupo Comercial de Cimento Penha, uma das 12 empresas que tiveram multas revertidas no conselho —é contra elas que a PF diz ter "elementos consideráveis de irregularidades" na atual operação.

    O esquema se valia de escritórios de advocacia e representação empresarial (lobby) para comprar voto dos conselheiros do Carf, um tipo de tribunal que julga recursos de multas da Receita.

    Autuada pelo fisco em R$ 106 milhões, a Cimento Penha teria simulado uma operação de compra de títulos do Tesouro dos EUA para "enviar recursos de terceiros para o exterior".

    A empresa nega as supostas irregularidades e recorreu ao Carf para tentar reverter o caso. Para isso, segundo apurou a reportagem, ela usou os serviços da SGR Consultoria Empresarial, um dos principais escritórios de representação investigada pela PF na Operação Zelotes.

    O processo foi revertido integralmente em favor da companhia. Em seu voto, o relator, Jorge Freire da Silva, apontou "erro flagrante da fiscalização [do fisco]".

    Mas, a pedido da Receita, o Ministério Público entrou com ação contra Sandri, que levou à condenação.

    NEGÓCIOS À PARTE

    A relação do empresário com o ex-ministro da Fazenda começou há duas décadas, quando Sandri comprou os primeiros terrenos da família Mantega para construir prédios em áreas comerciais nobres de São Paulo.

    Mantega vendeu terrenos para a Sandria Projetos e Construções, empresa de Sandri especializada no ramo imobiliário. Recebeu parte do pagamento em dinheiro e outra parte em escritórios (conjuntos) nos edifícios construídos. A transação rendeu R$ 2,6 milhões, em valores da época, além de cinco escritórios e metade de um outro e 13 vagas de garagem.

    Hoje, esses imóveis estão avaliados em cerca de R$ 30 milhões, segundo corretores.

    OUTRO LADO

    Por meio de sua advogada, o empresário Victor Sandri afirma que é amigo de Guido Mantega e nega qualquer irregularidade no processo investigado pela PF. Ele diz ser "injusta" a condenação pela Justiça.

    Segundo a advogada Dora Cavalcanti, a compra dos papéis no exterior foi um investimento normal oferecido por um banco. "Foi tudo registrado pelo Banco Central", diz.

    Cavalcanti acredita que a condenação, mantida pela Justiça, será revertida. "Não foi uma decisão unânime e ainda cabe recurso."

    A advogada desconhece que seu cliente seja alvo da PF ou tenha contratado a SGR para representar a Cimento Penha no Carf.

    A Folha tentou, sem sucesso, contato com o ex-ministro Guido Mantega até o fechamento desta edição.

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