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    Novo Ibope abre debate sobre audiência

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    03/04/2015 02h00

    A compra do Ibope Media pelo grupo WPP, o gigante de publicidade e relações públicas sediado em Londres, causa apreensão quando ao risco de conflito de interesses, tanto no Brasil como em outros países em que o instituto atua, na América Latina.

    Por 72 anos, o Ibope foi uma empresa independente, chegando a outros 16 países. Mas desde a virada do ano as suas pesquisas de audiência passaram a ser controladas pelo WPP, que abrange agências de propaganda de atuação mundial, como a Ogilvy.

    Logo depois da aquisição, o jornal chileno de negócios "Pulso" informou que "a possibilidade de que o WPP influencie a gestão de dados é uma preocupação entre os canais" do país. Para responder à preocupação, executivos do Ibope e da Kantar, como é chamado o braço do WPP que agora controla o instituto, foram recentemente ao Chile.

    Disseram o mesmo que o Ibope respondeu em nota, ao ser questionado no Brasil: "Com a aquisição do Ibope, a Kantar Media se tornou a maior empresa de medição de audiência no mundo. Ela jamais chegaria a esse porte ou alcançaria esse posto se houvesse conflito de interesse com outros ativos do WPP".

    O instituto argumentou ainda que "a independência entre as empresas do grupo é salutar para a longevidade e o crescimento dos negócios". Antes, quando do anúncio da compra, a Kantar já havia defendido seu histórico de transparência no assunto.

    RISCOS PREVISTOS

    No Brasil, onde o grupo WPP abrange agências de grande porte como Ogilvy, JWT e Newcomm/Y&R, Eugênio Bucci, professor de ética na ECA-USP, afirma que no caso "existe, necessariamente, um conflito de interesses".

    O problema, acrescenta, é "como será tratado e equacionado". "Qual é o compromisso que o grupo apresenta, para os seus clientes, de que não haverá contaminação?". A transparência não bastaria, pois "é um pré-requisito".

    Paulo Queiroz, copresidente da DM9DDB, agência ligada a concorrentes do WPP, não vê mudança: "Dos 72 anos do Ibope, 18 já são em parceria com o WPP, e durante o período o instituto prestou um serviço de excelência e credibilidade. A compra do controle não deve alterar em nada a qualidade do serviço e a idoneidade do instituto".

    No Chile, a compra levou as redes de TV a ameaçar abrir concorrência para contratar outro instituto, após 20 anos com o Ibope. O alemão GfK e o francês Ipsos teriam manifestado interesse, mas a recente conversa reaproximou Ibope e emissoras.

    No Brasil, as maiores redes já estavam divididas antes, com a Globo mantendo o Ibope, e Record, SBT, Bandeirantes e RedeTV! apoiando o GfK, cujo levantamento de audiência tinha previsão de começar nesta quinta (2).

    Em entrevista à Folha, em dezembro, o Ibope afirmou que o GfK antes era desconhecido do instituto –e que, como parte do WPP, ganhou "uma boa arma para lutar". A empresa alemã é "muito conhecida" do grupo londrino, que já a derrotou em mercados europeus. Instado a falar sobre conflito de interesses no concorrente, o GfK disse que não comenta "ações de outros players".

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