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    Crise da Petrobras cria ressaca do pré-sal e congela prédios em Santos

    LUCAS REIS
    ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

    05/04/2015 02h00

    No centro histórico de Santos, três grandes torres se destacam na zona portuária pela modernidade –e pela ociosidade. Oito anos após a euforia da descoberta do pré-sal, os empreendimentos quase todos vazios são amostras da crise da Petrobras.

    Em meio ao escândalo da Operação Lava Jato e à desaceleração econômica, a estatal freou investimentos, o que atingiu em cheio a cadeia de projetos imobiliários e outros negócios na região. A própria Petrobras recuou: planejava erguer três torres comerciais no bairro do Valongo, mas só construiu uma –e, mesmo assim, ela ainda não está totalmente ocupada.

    Davi Ribeiro/Folhapress
    Torre comercial erguida no Valongo, em Santos
    Torre comercial erguida no Valongo, em Santos

    Mais: o projeto de uma base logística foi abortado, e os investimentos previstos inicialmente pela prefeitura viraram água. A cadeia de óleo e gás, que daria suporte à estatal na cidade, não se concretizou, e o plano de revitalização do bairro –contrapartida exigida no projeto– não saiu do papel.

    Uma das torres que chamam a atenção é o Wave Offices, erguida pela Cyrela. São mais de 200 salas comerciais inauguradas há oito meses e, até o fim de março, nenhuma delas estava ocupada.

    Embora a Cyrela afirme que vendeu 84% das unidades, a maior parte no lançamento, em 2010, os proprietários não conseguem passar as salas adiante.

    Situação semelhante é do Blue Officemall, da Odebrecht, a 1,5 km do Valongo: o misto de shopping e salas comerciais (mais de 500) tem apenas 10% de suas unidades ocupadas atualmente.

    Davi Ribeiro/Folhapress
    Sede do museu da estatal ainda em obras
    Sede do museu da estatal ainda em obras

    A terceira torre do bairro é o Valongo Brasil, em obras, também da Odebrecht, com mais de 500 salas –todas foram comercializadas na primeira semana de vendas, mas os proprietários têm dúvidas sobre a viabilidade de revenda e locação agora.

    "Na onda do pré-sal, as pessoas compraram esses imóveis para ter renda no futuro. A esperança agora está na [recuperação da] Petrobras [para] voltar a investir", afirma Carlos Ferreira, delegado do Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) em Santos.

    Segundo dados da Geoimovel Tecnologia Imobiliária, entre 2011 e 2014, 3.253 unidades comerciais foram lançadas em Santos. Mas, no mesmo período, apenas 2.312 foram vendidas –saldo remanescente de 941 unidades.

    Por isso, investidores e proprietários das salas baixaram os preços e oferecem facilidades para a compra, como vouchers e entradas mais suaves, de apenas 30%.

    Quando lançadas, as salas comerciais se valorizaram e o preço do metro quadrado atingiu até R$ 9.000. Hoje, a média é de R$ 6.500.

    'SEMIBOLHA'

    O contador e empresário Gabriel Jacintho não cita valores, mas diz que seu prejuízo foi grande. Em 2011, inaugurou um espaço com 30 salas comerciais à espera de empresas do setor de óleo e gás. Teve de adaptar o perfil e hoje quase nenhum dos clientes dele é dessa área.

    "Santos teve uma 'semibolha'. Houve muito investimento, mas ninguém conseguiu vender nada", diz.

    Projetos para revitalizar a área foram elaborados pela Prefeitura de Santos e pelos governos estadual e federal.

    A prefeitura diz que tentará viabilizar uma PPP (Parceria Público-Privada) para colocar os projetos em pé. Segundo a Secretaria dos Portos, já foram investidos R$ 275 milhões no projeto para o porto de Santos, com previsão total de R$ 1 bilhão.

    Procurada, a Petrobras não comentou a situação.

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