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    Nova biografia tenta reduzir lado sombrio de Steve Jobs

    FELIPE MAIA
    EDITOR-ADJUNTO DE "MERCADO/TEC"

    11/04/2015 02h00

    Um gênio, mas também um ser humano odiável. Essa é uma das conclusões a que pode chegar o leitor de "Steve Jobs", a biografia autorizada escrita pelo jornalista Walter Isaacson e lançada apenas três semanas após a morte do cofundador da Apple, em outubro de 2011.
    Isaacson descreveu em detalhes o temperamento do icônico empresário, com "explosões de cólera" perante funcionários e rivais, a quem sabia como "ferir".

    No mês passado, ele ganhou uma nova biografia, desta vez escrita pelos jornalistas Brent Schlender e Rick Tetzeli, na qual um objetivo claro é suavizar esse lado mais negro do empresário, que chegou a negar a paternidade da própria filha.

    Em "Becoming Steve Jobs" (tornando-se Steve Jobs, em inglês), os autores o defendem. Schlender tinha um relacionamento íntimo com o criador do iPhone.

    Ele o entrevistou pela primeira vez em 1986, quando Jobs já havia sido expulso da Apple e trabalhava na criação da fabricante de computadores para universidades NeXT, que nunca decolou.

    Monica M. Davey/Efe
    Tim Cook (à esquerda) e Steve Jobs, na sede da Apple em 2007
    Tim Cook (à esquerda) e Steve Jobs, na sede da Apple em 2007

    Na avaliação dos autores, a ideia de um Jobs irascível, que tinha um ideal de perfeição praticamente inatingível e interferia em cada parafuso de cada produto, é até verdadeira, mas apenas em seu "primeiro ato" na companhia, entre 1976 e 1985.

    Nessa fase, Jobs funda a empresa com Steve Wozniak, lança os computadores Apple 1 e Apple 2, que se tornou o principal gerador de caixa da companhia até o fim da década de 1980, e faz uma bem-sucedida entrada na Bolsa. Entretanto, ele também lidera uma série de projetos que, por seus próprios erros, como concentrar-se em detalhes isolados, em vez de no produto como um todo, são retumbantes fracassos.

    Entram nessa lista computadores como o Lisa e o Apple 3 -de acordo com o livro, Jobs bateu o pé porque tinha decidido que a máquina não deveria ter uma ventoinha, para não fazer barulho.
    Isso fez com que os engenheiros tivessem de se virar para evitar que o computador não esquentasse. Não deu certo: o lançamento atrasou, o produto teve de ser lançado bem acima do preço inicialmente planejado e um grande número de compradores devolveu o aparelho porque ele apresentava "falhas catastróficas por superaquecimento".

    A falta de capacidade de liderança de Jobs foi um dos motivos de sua saída de sua própria cria, em 1985.

    VIRADA

    Mas, como, então, esse líder tão inadequado acabaria revolucionando, a partir dos anos 2000, os mercados de música, telefonia e computação móvel?

    Na visão dos autores, a chave foi o período fora da Apple, especialmente os anos dos estúdios Pixar, responsáveis por produções memoráveis como "Toy Story".

    A companhia nasceu de uma unidade dos negócios do cineasta George Lucas que foi comprada por Jobs em 1985. Ao chegar a um grupo já formado, com uma cultura própria e a habilidade de entender profundamente o chefe, ele acabou finalmente compreendendo o que significa trabalhar em grupo.

    O problema do livro é que não há aprofundamento sobre quais foram, exatamente, os episódios ou fatores que levaram a essa mudança. Há algumas dicas, mas não uma somatória razoável.

    A obra também traz a defesa de Jobs por amigos, como Tim Cook, que o sucederia na presidência-executiva da Apple -Cook revela que se ofereceu para doar uma parte de seu fígado para o então chefe, que precisava de um transplante.

    A oferta foi rapidamente negada pelo empresário. "Alguém que é egoísta não responde assim", diz Cook, que completa: "A figura dele não é entendida. Eu acho que o livro de Walter Isaacson fez um tremendo desserviço a ele".

    Talvez ambas as biografias, mesmo juntas, não consigam explicar completamente todas as facetas de Jobs.

    *Becoming Steve
    Jobs (Tornando-se
    Steve jobs)*
    AUTORES Brent Schlender e
    Rick Tetzeli
    EDITORA Crown Business
    QUANTO a partir de US$ 13
    (465 págs.)
    CLASSIFICAÇÃO Muito bom ★★

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