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    Ex-seminarista, bilionário assume o controle da siderúrgica Usiminas

    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO

    12/04/2015 02h00

    Lirio Parisotto, 61 anos, foi seminarista, gerente de recursos humanos, bancário, médico e comerciante. Hoje é dono de uma fortuna de US$ 1,6 bilhão, boa parte disso em ações, o que faz dele o 29º homem mais rico do Brasil, segundo a revista "Forbes".

    Na semana passada, o filho de imigrantes italianos –nascido numa colônia no Rio Grande do Sul, que ainda engole um erre e fala "garafa"– tomou o controle da Usiminas, uma das maiores siderúrgicas do país.

    Karime Xavier/Folhapress
    Lirio Parisotto, o bilionário gaúcho que assumiu o controle da Usiminas, brinca com o símbolo da gravadora RCAVictor
    Lirio Parisotto, o bilionário gaúcho que assumiu o controle da Usiminas, brinca com o símbolo da gravadora RCAVictor

    Em um dos movimentos mais ousados do mercado de capitais brasileiro, o bilionário, que detém só 4% dos papéis da siderúrgica, elegeu seu aliado, Marcelo Gasparino, presidente do conselho de administração.

    Nos últimos meses, a dupla visitou fundos de investimento em busca de apoio. Eles queriam aproveitar a briga entre os controladores, os japoneses da Nippon e os ítalo-argentinos da Ternium, para mudar a Usiminas.

    Nas vésperas da assembleia de acionistas, que foi marcada por acusações, Parisotto chegou a se reunir até com seu "inimigo" na empreitada, André Esteves, dono do BTG. O banco também indicou um nome para a presidência do conselho.

    Parisotto pediu o apoio de Esteves. O banqueiro disse que não desistiria, relata o empresário gaúcho, mas ofereceu vender toda a sua participação para ele desde que com um belo lucro. Não houve acordo.

    Os minoritários responderam ao apelo de Parisotto para tentar recuperar o prejuízo. As ações da Usiminas, que chegaram a R$ 42 em 2008, hoje valem R$ 4,85, arrastadas pela crise do setor e pela briga interna entre os sócios.

    "Temos um mandato-tampão e a missão é paz e amor", diz Parisotto à Folha. "É como um casal. Os controladores têm três opções: separar os bens [a Usiminas tem duas usinas], sair do relacionamento ou se entenderem."

    GARIBALDI

    Parisotto é conhecido por seu ativismo na gestão das companhias em que investe. O primeiro alvo foi a Celesc, distribuidora de energia de Santa Catarina. Decepcionado com os resultados, entrou para o conselho e chegou a denunciar casos de corrupção.

    Por isso, ganhou dos amigos o apelido de "Lirio Garibaldi", em referência ao revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi. "Ele tem esse caráter de lutador e não faz as coisas na surdina", diz Luiz Fernando Furlan, um dos acionistas da gigante de alimentos BRF.

    Desde 1998, Parisotto gere o fundo LPar, que hoje tem R$ 1,3 bilhão de patrimônio. No ano passado, o fundo teve sua pior performance com queda de 20% no lucro, mas ao longo dos anos o retorno acumulado é de 3.500%.

    Parisotto gosta de investir em ações por causa da "adrenalina". Ele já pilotou aviões e acumula 2.000 horas de voo. Avesso à ostentação, em quatro horas de conversa, deixa escapar que tem dois jatos, usa ternos Armani e possui quatro adegas com mais de 10 mil garrafas de vinho no total –uma delas no apartamento em Nova York.

    Também é conhecido das colunas sociais por outro motivo. Divorciado, namora a ex-modelo e empresária Luiza Brunet. "Mas vive cada um no seu apartamento. Ela está me enrolando", brinca.

    EX-POBRE

    Parisotto ampliou sua fortuna no mercado de capitais, mas já era rico antes disso. Ele conta que se tornou um "ex-pobre" aos 26 anos, quando acumulou o primeiro US$ 1 milhão com um negócio de videolocadora.

    Teve uma infância humilde e saiu da roça aos 13 anos para se tornar padre, mas desistiu. Chegou a se formar em medicina antes de descobrir que seu caminho era ser empreendedor. Animado com a videolocadora, resolveu fabricar CDs e DVDs.

    Em 1988, fundou a Videolar em Manaus. No Amazonas, conheceu o governador Eduardo Braga (hoje senador licenciado e ministro de Minas e Energia) e se envolveu com a comunidade local, ajudando a criar uma fundação.

    Braga e Parisotto são tão próximos que o empresário é suplente do político no Senado. "Topei porque fui um idiota. Não imaginei que me tornaria alvo de intriga", diz. Ele chegou a ter seu CPF vazado para a imprensa.

    Aos 53 anos, Parisotto deixou o comando da Videolar, mas teve que voltar alguns anos atrás. A internet engoliu o principal negócio da empresa, que deixou de fabricar DVDs em dezembro.

    Parisotto tirou R$ 600 milhões do bolso para comprar uma central petroquímica no Rio Grande do Sul e fazer uma reviravolta na companhia, que hoje fabrica plásticos.

    "Vou continuar trabalhando. No dia em que eu parar, viro alcoólatra", afirma o empresário, entre risadas.

    *

    RAIO-X LIRIO PARISOTTO

    IDADE 61 anos

    FORMAÇÃO Medicina

    POSIÇÃO 29º homem mais rico do país, com uma fortuna estimada em US$ 1,6 bilhão

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