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    Análise: Desempenho da economia chinesa não tem nada de normal

    JIM O'NEILL
    ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE

    12/04/2015 02h00

    Acabo de passar uma semana na China, onde participei do fórum Boao Ásia, conferência similar ao Fórum Econômico Mundial de Davos. O tópico de minha mesa de discussão foi o que o líder Xi Jinping chamou de "a nova normalidade" econômica: uma era de crescimento relativamente mais lento, após três décadas de expansão em ritmo de dois dígitos anuais.

    Mas o que mais impressiona na economia chinesa é o quanto ela é singular – seu desempenho continua a me espantar. Ainda que indubitavelmente enfrente agora grandes desafios, a questão crucial é determinar a probabilidade de essas dificuldades derrubarem a economia.

    Das quatro nações do grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o país liderado por Xi é o único que atingiu minhas expectativas de crescimento, até agora nesta década. De 2011 a 2014, a economia chinesa cresceu em ritmo anual médio de 8%.

    Caso continue a crescer em torno de 7% ao ano pelo resto da década, como as autoridades do país e muitos observadores antecipam, terá atingido um ritmo médio de expansão de 7,5% ao ano na década de 2010, o que bate com minhas projeções.

    O termo "nova normalidade" é uma mensagem esperta da parte dos líderes chineses, que precisam explicar ao 1,4 bilhão de cidadãos do país porque a economia já não crescerá em 10% anuais.

    Mas não há nada de normal em uma economia que já é duas vezes maior que aquela que a sucede no ranking global das maiores economias (Japão) e que possivelmente ultrapassará a União Europeia nos próximos cinco anos.

    É certo que o mercado de habitação está em crise. Algumas construtoras enfrentarão problemas de crédito e o mesmo pode acontecer a alguns governos locais. Mas os gastos do governo central representam porcentagem tão pequena do PIB do país que as autoridades econômicas têm muita margem de manobra se uma intervenção nessas áreas for necessária.

    Observadores estrangeiros especulam frequentemente que as autoridades podem estar deliberadamente exagerando a força da economia do país. Mas é igualmente possível que as dimensões de certos setores estejam sendo subestimadas – o país está passando por um boom no uso da internet, inclusive como plataforma de consumo.

    PREOCUPAÇÕES

    Preocupa-me que o governo não esteja agindo com rapidez suficiente para conferir aos milhões de trabalhadores migrantes do país residência oficial nas cidades em que moram e trabalham. A falta continuada dessa mão de obra a serviços públicos pode impedir a ascensão do consumo como fatia do PIB.

    Mas, segundo me informaram durante minha visita, a relutância do governo central em agir com mais rapidez reflete sua cautela quanto a impor imensa pressão fiscal sobre as autoridades locais.

    A poluição também continua a ser um grave desafio. Mas é igualmente necessário apontar que as emissões de dióxido de carbono caíram notavelmente em 2014.

    O mais importante é que, a despeito dos desafios que encara, a importância singular da economia chinesa agora é reconhecida amplamente.

    As recentes realizações internacionais do país – especialmente o apoio de Reino Unido, França, Alemanha e Itália à criação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, uma proposta chinesa, apesar da oposição dos EUA– implicam alto grau de confiança de que a China conseguirá enfrentar seus problemas com sucesso.

    JIM O'NEILL, antigo presidente do conselho da Goldman Sachs Asset Management, é pesquisador-visitante do Bruegel, instituto de pesquisa econômica sediado em Bruxelas, e presidente do conselho de revisão sobre resistência a agentes de combate a micróbios do governo britânico

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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