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    Novela do balanço da Petrobras quase teve um novo capítulo

    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA
    SAMANTHA LIMA
    DE DO RIO

    24/04/2015 02h00

    Novela que se arrastava havia cinco meses, a publicação do balanço de 2014 da Petrobras quase sofreu uma reviravolta nos minutos finais do último capítulo.

    Enquanto a imprensa aguardava, desde as 18h da quarta-feira (22), a divulgação dos resultados da empresa, avalizado a muito custo pela auditora independente PwC, integrantes do conselho fiscal da petroleira resolveram, às 19h, pedir mais prazo para ver os números.

    O susto foi geral. Sem o parecer do conselho, a empresa não conseguiria aprovar o documento. Integrantes do governo que acompanhavam, de longe, o curso da reunião, ficaram apreensivos.

    Ricardo Moraes/Reuters
    Com o presidente Aldemir Bendine (centro), diretores da Petrobras apresentam o resultado financeiro de 2014, quando estatal perdeu R$ 21,6 bilhões
    Com o presidente Aldemir Bendine (centro), diretores da Petrobras apresentam o resultado financeiro de 2014, quando estatal perdeu R$ 21,6 bilhões

    Segundo relatos de ministros de Dilma Rousseff, o pedido foi feito por três dos cinco conselheiros fiscais.

    Diretores e conselheiros pró-aprovação, irritados, argumentavam que a proposta era "um tiro no pé" e uma indicação de fragilidade e falta de transparência. O parecer teria de ser dado no ato, mesmo que com ressalvas.

    Dito e feito. Dois conselheiros fiscais, que representam acionistas minoritários, não assinaram o documento, que acabou sendo publicado. O "susto" fez a coletiva aos jornalistas atrasar 85 minutos.

    Antes, na reunião do conselho de administração, o balanço também não teve aval unânime.

    Os conselheiros Mauro Cunha e Silvio Sinedino (representantes dos minoritários e dos trabalhadores, respectivamente) não o aprovaram, por discordarem da metodologia. José Monforte, representante de donos de ações ON, se absteve.

    Cunha chegou a defender a conta anterior, apresentada em janeiro por Graça Foster, então presidente da Petrobras, que havia calculado a perda de valor total da empresa em R$ 88,6 bilhões.

    Preocupado com vazamento de informações, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, demoveu os conselheiros fiscais, na segunda-feira (20), da ideia de ver o balanço antes. E, antes das reuniões de quarta, conselheiros foram orientados por funcionários da estatal a deixar celulares e tablets do lado de fora da sala.

    NOVELA

    A novela sobre o balanço fez Graça sair do comando da empresa e do convívio com a amiga Dilma Rousseff.

    Auxiliares palacianos repararam que a presidente da República há algum tempo deixou de atender aos telefonemas da ex-executiva.

    "Graciosa", como era chamada pela petista nos bons tempos, era a única servidora com o privilégio de dormir no Palácio da Alvorada, residência oficial da chefe, quando visitava Brasília. Até ser engolida pela crise.

    Sem consultar ninguém, Dilma chamou Bendine, então comandante do Banco do Brasil, para um conversa menos de 24 horas depois da demissão coletiva da antiga diretoria. Precisava dele para aprovar o encruado balanço.

    Ministros contam que sua reação ao convite foi a mesma que a do staff da Petrobras: "Mas eu não entendo nada de petróleo e gás!".

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