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    Financiamento de carros novos tem queda, e de usados cresce no país

    CLAUDIA ROLLI
    DE SÃO PAULO

    27/04/2015 02h00

    Na contramão do mercado de veículos novos, o financiamento de carros usados "jovens" (4 a 8 anos de uso) cresceu quase 3% no primeiro trimestre deste ano em comparação a igual período do ano passado.

    O percentual pode parecer baixo, mas é significativo se comparado à queda de 16,8% no financiamento de carros zero quilômetro.

    Desde 2011, quando a Unidade de Financiamento da Cetip, empresa que atua nesse segmento, passou a reunir informações sobre esse mercado no país, esse foi o trimestre com maior volume de carros financiados nessa faixa –perto de 393,5 mil unidades.

    No total foram 387 mil financiamento para novos e 708,3 mil para usados, somadas todas as faixa de idade –inclui seminovo (0 a 3 anos), usados jovens (4 a 8 anos), usados maduros (9 a 12 anos) e velhinhos (13 anos ou mais).

    Editoria de Arte/Folhapress

    "Com o bolso mais apertado, atingido pela inflação, e com a confiança na economia mais afetada, o consumidor tem optado pelo usado em vez do carro novo", diz Marcus Lavorato, gerente de relações institucionais dessa unidade.

    Assim como o consumidor migrou para o mercado de novos, quando a economia estava aquecida –com renda e emprego em alta–, ele migra agora para o usado, quando as condições econômicas pioram, avalia Décio Carbonari, presidente da Anef (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras).

    A entidade representa bancos, financeiras e administradoras de consórcios ligados a 15 marcas da indústria automotiva.

    "Há uma migração evidente de consumo. Quem comprava o novo já não compra mais, agora opta pelo seminovo. E parte de quem comprava o seminovo já opta por um mais antigo, mas ainda em boas condições de uso", diz o executivo.

    CAUTELA

    Com mais medo de perder o emprego e renda retraída, o consumidor tem optado por um produto mais barato para evitar o risco de se endividar.

    Em fevereiro, a renda real do trabalhador (descontada a inflação) caiu 0,5% na comparação com fevereiro de 2014, segundo dados mais recentes do IBGE.

    Essa foi a primeira queda do rendimento em relação ao ano anterior, desde outubro de 2011. Já o desemprego subiu (0,8%) em relação a fevereiro do ano passado.

    "É o mesmo comportamento que o consumidor tem ao fazer sua compra no supermercado. Da mesma forma que o ele substitui a qualidade do queijo ou do iogurte que põe no carrinho, ele troca o carro novo pelo usado", completa Carbonari.

    Por região, metade dos financiamentos de usados jovens feita no trimestre ainda se concentra no Sudeste (50,7%). Mas, na comparação com o primeiro trimestre de 2014, Norte e Nordeste foram as regiões que mais aumentaram o número de unidades financiadas.

    Modelos populares, como Gol, Palio, Uno e Celta, lideram o ranking dos mais procurados. E o o consórcio foi a modalidade de empréstimo que mais cresceu nos três primeiros meses do ano ante igual período de 2014, apesar de o CDC (crédito direto ao consumidor) ter a maior participação nos financiamentos.

    Outras razões que levaram os consumidores a optarem pelo usado, segundo consultores desse mercado, foram os preços dos novos, que subiram de 7% a 10%, dependendo do modelo, por causa da retirada de incentivos fiscais (IPI reduzido), e o fim dos bônus (subsídios) das montadoras a revendedores.

    A média de juros cobrados ao mês nos financiamentos feitos diretos ao consumidor foi de 1,86%, segundo dados de fevereiro do BC. Mas, na negociação dos usados, pode ser menor, dependendo do modelo e das garantias oferecidas pelo cliente.

    VENDAS

    O mercado de usados somou 12,5 milhões de unidades no ano passado, segundo a Fenauto, federação que representa 48 mil revendedores no país.

    Neste ano, as vendas também crescem em ritmo acelerado. Considerando todas as categorias (seminovos aos mais velhinhos), houve expansão de 2,6% nas vendas no primeiro trimestre ante igual período de 2014. As vendas dos novos despencaram.

    "Como há montadoras que concedem até 5 ou 6 anos de garantia, o consumidor que compra um carro com 3 ou 4 anos de uso sai ganhando em dose dupla: tem a garantia da loja e ainda um ou dois anos do fabricante", diz Ilídio dos Santos, presidente da Fenauto.

    INTENÇÃO

    De uma forma geral, o consumidor não está propenso a contratar um financiamento, mas quando o assunto é carro a coisa muda de figura.

    Um levantamento feito em parceria pela Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) mostrou que, de uma forma geral, 76% dos consumidores não estão propensos a contratar um financiamento.

    Mas 51% afirmaram que poderão tomar empréstimo ainda neste ano para comprar um carro –seja ele novo ou usado. Foram ouvidos mil consumidores.

    "As vendas dos usados estão bem, mas também temos interesse que a venda dos zero quilômetro também seja retomada. Em um prazo de três meses, o mercado pode até começar a sentir falta de alguns modelos usados, os mais populares, porque há muita procura", diz o presidente da Fenauto. "O novo de hoje é o usado de amanhã."

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