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    Ministro é afastado de negociações sobre pacote e Bolsa sobe em Atenas

    KERIN HOPE
    PETER SPIEGEL
    DO "FINANCIAL TIMES"

    27/04/2015 18h18

    O desbocado ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, foi afastado das negociações depois de três meses de conversas infrutíferas com os credores internacionais para a liberação de 7,2 bilhões de euros em verbas de resgate, o que reanimou os investidores e provocou alta no mercado de ações de Atenas.

    Autoridades da zona do euro se declararam encorajadas com a decisão do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, de reformar sua equipe de negociação sobre o pacote de resgate, depois de uma reunião acrimoniosa entre os ministros das finanças da União Europeia em Riga, na semana passada.

    Na reformulação, o primeiro-ministro removeu Nikos Theocarakis, o representante expressamente selecionado por Varoufakis para as negociações, e atribuiu a responsabilidade pela coordenação da nova equipe a um integrante de seu círculo de assessores mais próximos.

    A Bolsa de Valores de Atenas subiu em quase 4,4% com a notícia, e o custo de captação dos títulos gregos com vencimento em julho de 2017 caiu em quase quatro pontos percentuais ante o fechamento de 21% na sexta-feira. O rendimento do título padrão grego de 10 anos caiu por um ponto percentual, para 11,4%. A reformulação da equipe surge no momento em que Atenas enfrenta dúvidas sobre sua capacidade para pagar em dia os mais de dois bilhões de euros em salários e aposentadorias deste mês, bem como quitar uma parcela de 750 milhões de euros do empréstimo feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que vence em 12 de maio.

    As mudanças surgiram depois que importantes ministros gregos reconheceram publicamente, nos últimos dias, que podem se ver forçados a aceitar medidas econômicas que vinham tentando evitar, um sinal de que estão preparando o povo grego para concessões.

    Autoridades da zona do euro vêm registrando sinais de crescente distanciamento entre Tsipras e Varoufakis nas últimas semanas, e vinham pressionando discretamente por um envolvimento mais direto de Tsipras e seu pragmático primeiro-ministro assistente, Yannis Dragasakis, nas discussões sobre o plano de resgate.

    O partido socialista Pasok, de oposição, disse que o governo estava "emasculando Varoufakis... e tentando enviar uma mensagem aos europeus e ao FMI de que existe a vontade política para um acordo".

    Ainda que restem diferenças substantivas entre Atenas e seus credores na zona do euro, as autoridades envolvidas nas negociações acusaram Varoufakis de bloquear o processo normal de negociação ao recusar contato com a equipe de escalão médio que fiscaliza o pacote de resgate em Atenas.

    O governo grego agora garantirá que as equipes técnicas de fiscalização do resgate em visita ao país tenham mais acesso aos ministérios. Por ordem de Varoufakis, os grupos de especialistas da União Europeia e do FMI em visita à

    Grécia estavam restritos a receber documentos e e-mails em seus hotéis, procedimento visto como tentativa de retardar o avanço das negociações.

    "Varoufakis se tornou o maior obstáculo a um acordo, na Grécia", disse Mujtaba Rahman, diretor de análise da Europa na consultoria de risco Eurasia Group. "Seu relacionamento com Tsipras e a disposição de Tsipras de alijá-lo eram a questão central para os investidores".

    As autoridades da zona do euro gostaram especialmente da substituição de Theocarakis por seu predecessor George Chouliarakis, aliado próximo do primeiro-ministro assistente, o pragmático Dragasakis.
    Chouliarakis, que voltou a Atenas alguns meses atrás depois de lecionar Economia na Universidade de Manchester, no Reino Unido, assumirá o comando das negociações cotidianas sobre o resgate em Bruxelas, retomadas com uma sessão telefônica na segunda-feira.

    Uma fonte envolvida nas negociações disse que Chouliarakis é visto como "mais construtivo" e "anos-luz" mais informado sobre os detalhes do programa do que Theocarakis.
    Varoufakis, que é não membro do partido, irritou os políticos do Syriza com seu estilo de vida vistoso e relutância em participar de reuniões de gabinete e se envolver nos detalhes da gestão da economia do país.

    Embora Varoufakis tenha retido seu posto como ministro das Finanças, Euclid Tsakalotos, ministro assistente do Exterior para assuntos econômicos, foi apontado para coordenar a nova equipe de negociação. O economista educado em Oxford é próximo a Tsipras e a indicação dele foi vista como tentativa de isolar a nova equipe de Varoufakis.

    Um representante do governo grego insistiu em que o ministro das Finanças continuaria envolvido, comandando uma nova "equipe de negociação política", e que continuaria parte "da estrutura coletiva de debate e execução" do governo esquerdista do Syriza.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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