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    Na contramão da terceirização, start-ups apostam em produção própria

    FILIPE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    04/05/2015 02h00

    Os primeiros lotes de sapatos veganos, feitos lona de algodão, garrafa pet e laminado vegetal, para a empresa Ahimsa, aberta em Franca (SP) em 2013, foram produzidos por outras confecções. Mas o fundador, Gabriel Silva, não ficou satisfeito.

    "Três fábricas prestavam serviços para nós, mas descobri que meus produtos estavam no mesmo ambiente que os feitos de couro, e eu os queria em um ambiente livre disso", explica.

    Como consequência, a empresa, que vende exclusivamente pela internet, decidiu assumir toda a produção. Começou fazendo dez sapatos por dia com equipamentos alugados. Hoje, a capacidade diária é de 30 pares, feitos por cinco funcionários.

    A opção por assumir os custos de uma indústria logo de início é o caminho oposto ao que a maioria das empresas nascidas na internet buscam em seus primeiros anos.

    Em geral, start-ups iniciam suas operações com o mínimo de custos -o que significa terceirizar o máximo de atividades possíveis ou criar modelos em que servem apenas como intermediárias on-line entre prestadores de serviço e clientes.

    Poucos querem os custos fixos de produção própria, como contratação de funcionários, aluguel do espaço físico e do maquinário, explica Guilherme Junqueira, gerente de projetos da ABStartups (associação que reúne empresas nesse estágio).

    Mas pode ser uma forma de conseguir melhor rentabilidade (a medida em que se diminuem os envolvidos na cadeia produtiva) e mais controle sobre a qualidade dos produtos, afirmam os empresários que escolheram apostar nessa via.

    Fabio Braga/Folhapress
    Os empresários Mate Penca (à esquerda), 28, e Florian Hagenbuch, 28, na sede da gráfica Printi
    Os empresários Mate Penca (à esquerda), 28, e Florian Hagenbuch, 28, na sede da gráfica Printi

    Essa mudança, alerta Junqueira, só faz sentido quando a companhia já provou que há um mercado estável para seu produto que justifique o investimento.

    "O custo de manter a indústria é constante, mas o lucro varia de um mês para o outro, dependendo de como foram as vendas", resume, Silva, da Ahimsa.

    NO MEIO DO CAMINHO

    A gráfica virtual Printi optou por uma transição gradual. Até o ano passado, a empresa, aberta em 2012, encaminhava a seis outras parceiras todas as encomendas que recebia em seu site.

    Após ter recebido um investimento de R$ 60 milhões da norte-americana Vistaprinti, decidiu construir uma gráfica própria.

    Mate Pencz, 28, fundador da empresa, explica que a centralização das operações deve ajudar a aumentar não só a qualidade dos produtos, mas também a velocidade das entregas. E deve elevar as margens de lucro do negócio para mais perto das alcançadas pela Vistaprinti, de 60%.

    A empresa continua terceirizando parte dos serviços, mas todas as encomendas passam, em algum momento da produção, pela gráfica.

    Até o final do ano, o investimento total na gráfica deve ser de R$ 20 milhões, diz Pencz. Nela trabalham 120 dos seus 160 funcionários.

    Ricardo Nobel, 25, fundador da Camisaria 1818, diz que seu negócio de camisas sob medida pela internet só é possível centralizando toda a produção.

    No site da companhia, aberta há um mês, o cliente coloca as suas medidas corporais e escolhe tecido e bordado, entre outros itens.

    A seguir, as peças são confeccionadas por um modelista, uma costureira e uma pessoa responsável pelo acabamento, que trabalham na própria empresa. Bordados e botões são incluídos por empresas terceirizadas.

    Mas Nobel planeja assumir também estas funções, assim que captar R$ 250 mil em investimentos. Isso permitirá reduzir o tempo de entrega, que hoje é de 20 dias.

    "Se eu terceirizasse tudo, não conseguiria algo próprio para nossa marca. Você não consegue roupas sob medida em qualquer confecção, é preciso de profissionais muito mais especializados."

    A mudança só foi feita diante da garantia de uma clientela em potencial, a maioria pessoas que Nobel conheceu enquanto trabalhava no mercado financeiro.

    Editoria de Arte/Folhapress

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