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    Sócios podem pôr R$ 100 milhões no Estaleiro Atlântico Sul

    RENATA AGOSTINI
    JULIO WIZIACK
    DE SÃO PAULO

    02/05/2015 02h00

    Símbolo do projeto do governo Lula de reconstrução da indústria naval, o Estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco, busca saídas para evitar a insolvência.

    Os acionistas –as empreiteiras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão e a japonesa IHI Marine– avaliam uma injeção de R$ 100 milhões na empresa na tentativa de poupá-la da recuperação judicial, segundo apurou a Folha.

    Os recursos dariam fôlego financeiro ao estaleiro enquanto negocia com a Sete Brasil pagamentos atrasados.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Responsável por contratar estaleiros para construir sondas para a Petrobras, a Sete Brasil havia encomendado ao Atlântico Sul sete navios-sonda, mas parou de pagar em novembro do ano passado.

    O contrato foi rescindido quatro meses depois. Sobraram para o estaleiro dívidas de R$ 1,5 bilhão com fornecedores das sondas.

    Um acordo com a empresa é considerado central para impedir que o estaleiro tenha de buscar proteção da Justiça contra os credores.

    Há pouco mais de um mês, os sócios aplicaram cerca de R$ 50 milhões no estaleiro, mas o rombo nas contas continuou. A dívida soma cerca de R$ 3 bilhões, e o caixa não chega a R$ 200 milhões mesmo após corte de gastos e a demissão de trabalhadores.

    As empreiteiras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, ambas envolvidas na Operação Lava Jato, querem evitar a recuperação judicial. Elas temem o efeito do pedido sobre outros negócios. Há receio de que bancos restrinjam ainda mais o crédito e credores fiquem impacientes.

    Por outro lado, ambas já despejaram milhões no estaleiro desde que foi criado, em 2005, e não há mais clareza do retorno que terão com o investimento.

    Caso a injeção emergencial seja realizada, o estaleiro ganhará mais tempo para tentar receber algo da Sete Brasil –o Atlântico Sul calcula que tenha a receber de R$ 4 bilhões a R$ 6 bilhões.

    Um acerto entre as duas companhias, porém, pode demorar. Primeiro, a Sete Brasil precisa concordar com o valor (nos cálculos da empresa, ela deve menos). Segundo, é preciso haver dinheiro para pagar ao estaleiro.

    Desde que a Sete Brasil foi citada na Lava Jato, o BNDES travou a liberação de um empréstimo para a empresa, que ficou também sem recursos em caixa.

    BNDES

    A situação do Atlântico Sul é preocupante para o BNDES, que responde por um terço do que deve o estaleiro na praça. Entre 2007 e 2012, o BNDES concedeu diversas linhas de financiamento ao empreendimento. Parte dela foi quitada, mas ainda há cerca de R$ 1 bilhão em aberto, apurou a Folha.

    Mesmo se escapar da recuperação judicial, o Atlântico Sul não sairá imune da atual crise. O estaleiro tem em sua carteira 17 navios encomendados pela Transpetro –subsidiária da Petrobras encarregada do transporte de petróleo e derivados. Os navios-sonda da Sete Brasil, contudo, representavam mais de 60% das receitas futuras da empresa (veja quadro).

    Procurado, o Estaleiro Atlântico Sul afirmou que estuda "diferentes alternativas de reestruturação" e "por ora a recuperação judicial não está sendo considerada". Disse ainda que os acionistas "têm suportado o estaleiro dentro de suas possibilidades".

    O BNDES afirmou que todas as operações com o Atlântico Sul foram estruturadas com garantias adequadas.

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