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    Argentina quer trocar peças brasileiras por chinesas em carros

    RAQUEL LANDIM
    DE SÃO PAULO
    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    07/05/2015 02h00

    A Argentina quer flexibilizar o acordo automotivo e exportar carros com mais peças chinesas e coreanas para o Brasil. Segundo apurou a Folha, o objetivo é baratear os veículos e aumentar as vendas externas do país, que sofre com a falta de dólares.

    Hoje a exigência é que cerca de 60% das autopeças sejam feitas no Mercosul para que o veículo circule entre os países sem pagar tarifa de importação. Na prática, o limite favorece o Brasil, que exporta um grande volume de autopeças para a Argentina.

    A proposta deve ser discutida pela primeira vez na reunião bilateral que acontece nesta sexta-feira (8) em Brasília. Do lado brasileiro, participam os ministros Armando Monteiro (Desenvolvimento) e Mauro Vieira (Relações Exteriores). Do lado argentino, Alex Kiciloff (Economia) e Héctor Timernam (Relações Exteriores).

    O acordo automotivo entre os dois países vence em junho e o pedido argentino representa uma reviravolta na posição histórica do país, que sempre defendeu regras rígidas na importação de autopeças na tentativa de incentivar a indústria local.

    O governo brasileiro prefere negociar uma extensão do atual acordo automotivo pelo menos até que um novo governo assuma na Argentina no ano que vem. O país realiza eleições presidenciais em outubro. O setor de autopeças brasileiro deve se opor ao pedido argentino.

    ELEIÇÕES

    Além da flexibilização do acordo automotivo, os argentinos também querem que o BNDES libere um financiamento de US$ 1,5 bilhão para construir um túnel e soterrar a ferrovia Sarmiento, que ligará Haedo (na grande Buenos Aires) à capital.

    O dinheiro foi prometido pelo BNDES para um consórcio liderado pela Odebrecht, mas a obra está parada desde 2012. O projeto é importante para o governo nesse momento pré-eleição.

    Segundo a Folha apurou, o governo brasileiro vai tentar utilizar esse financiamento como instrumento de barganha para convencer os argentinos a suavizar as restrições às importações de produtos brasileiros e a avançar nas negociações para o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

    Desde 2012, a Argentina passou a exigir declarações juramentadas de importadores interessados em comprar produtos do Brasil, o que criou uma burocracia para as vendas brasileiras.

    Além disso, devido à escassez de dólares, a Argentina restringe o pagamento de importações a US$ 100 mil diários por compra no exterior, dificultando que exportadores brasileiros recebam pelo que vendem no país.

    Com as restrições, a Argentina perdeu o posto de principal mercado para os produtos industriais brasileiros no ano passado.

    O encontro entre os ministros dos dois países acontece em um momento complicado para o comércio bilateral. Entre janeiro e abril deste ano, a corrente de exportações e importações de ambos os lados recuou 18%, segundo dados do governo brasileiro.

    A reunião foi proposta pelo Brasil em fevereiro durante a visita do chanceler Mauro Vieira a Buenos Aires como uma discussão técnica.

    A Argentina surpreendeu enviando políticos, visando uma agenda eleitoral.

    Kicillof é cotado para integrar a chapa oficialista que concorrerá à Presidência e, para tanto, desejará voltar a Buenos Aires com alguma conquista na bagagem.

    O interesse do Brasil é criar uma relação mais fluida com o principal parceiro do continente. Até 2010, técnicos brasileiros e argentinos mantinham um canal permanente de discussão.

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