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    Auditoria é 'espada na nossa cabeça', disse Graça a conselho da Petrobras

    ANDRÉIA SADI
    DE BRASÍLIA

    09/05/2015 02h00

    Temendo provocar ''instabilidade indesejada'' em meio às investigações da Operação Lava Jato, o conselho de administração da Petrobras autorizou em fevereiro a contratação, sem licitação, da empresa de auditoria PwC (Pricewaterhouse Coopers).

    Ata e áudio de reuniões obtidas pela Folha mostram discussões acaloradas do conselho sobre a escolha da empresa. Integrantes do grupo demonstravam preocupação com a abertura de uma licitação e a provável falta de interesse de outras empresas de auditoria de participar do processo por causa do imbróglio sobre o balanço da estatal.

    Irritada com o grau de dependência que a Petrobras passara a ter da PwC, a então presidente da estatal, Graça Foster, chegou a dizer que a Price não substituía a diretoria-executiva da Petrobras e fez duras críticas à empresa.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    A ex-presidente da Petrobras Graça Foster
    A ex-presidente da Petrobras Graça Foster

    "Podemos tomar decisões equivocadas, mas a PWC não assumiu o comando da Petrobras. [..] Ela acha que manda, ela encontrou ambiente de insegurança e instabilidade e cada vez mais ela vem botando mais essa espada para dentro da cabeça da gente''. "E é isso o que a Price está tentando desde outubro até a presente data [substituir a diretoria]. Desculpe, mas eu estava danada da vida e ainda estou", desabafou Graça.

    A renovação do contrato da PwC para auditar as contas da Petrobras vale para 2015 e 2016. O valor é de R$ 51,902 milhões. A Price vencera a licitação para prestar os serviços de 2012 a 2014. "O que percebo é que a Price está pagando para trabalhar. E vai querer tirar o desconto agora nesses dois anos'', disse Graça, ao comentar que à época da primeira contratação a PwC não imaginava que eclodiria o escândalo de corrupção.

    Em outubro, a empresa americana ameaçara não avaliar o último balanço da empresa e, em último caso, denunciá-la nos EUA se a investigação sobre desvios na estatal não fosse aprofundada.

    Em 13 de janeiro, foi apresentado ao conselho a recomendação do comitê de auditoria pela instauração do processo de contratação dos serviços da PwC.

    Justificando a renovação direta, a unidade contabilidade esclareceu ''não haver possibilidade de os serviços serem prestados por outra empresa de auditoria, já que a substituição da PwC'', em meio à Lava Jato, poderia ''provocar instabilidade indesejada'' no processo de apuração dos ajustes contábeis.

    Alguns conselheiros reagiram, afirmando que a estatal estava nas ''mãos dos auditores''. A ex-ministra e atual presidente da Caixa, Miriam Belchior, estava entre os integrantes que temiam a falta de interesse de outras empresas de auditorias de participar de processo de concorrência, embora afirmasse ser sempre favorável a fazer licitações.

    A reunião do conselho aprovou a abertura de processo para a negociação direta da PwC. A contratação só foi autorizada em 27 de fevereiro, com voto contrário do conselheiro Silvio Sinedino Pinheiro.

    Colaborou RAQUEL LANDIM, de São Paulo

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