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    Brasileiro não pensa em criar empresa bilionária, diz sócia de aceleradora

    FERNANDO SILVA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    24/05/2015 02h00

    O empreendedor brasileiro pensa pequeno e ainda não sabe planejar uma empresa que vai valer bilhões. Esse é o diagnóstico da paranaense Bedy Yang, 37, sócia da aceleradora norte-americana 500 Startups, companhia com US$ 130 milhões (R$ 394 milhões) captados.

    Na empresa, ela treina investidores e seleciona negócios iniciantes de tecnologia na América Latina para que recebam recursos. Cerca de 30 das beneficiadas estão instaladas no Brasil.

    Thiago Vitale Jayme/Divulgação
    Bedy Yang, brasileira sócia da aceleradora norte-americana 500 Startups
    Bedy Yang, brasileira sócia da aceleradora norte-americana 500 Startups

    Yang começou a trabalhar com empreendedorismo em 2005, no Vale do Silício. Lá, adquiriu a loja Bazaar Brazil (fundada pela também brasileira Mara Sallai), que vendia produtos artesanais feitos por brasileiras.

    Filha de chineses que vieram ao Brasil na década de 1970 para investir em varejo, a paranaense de Foz do Iguaçu criou em 2010 a Brazil Innovators, para promover intercâmbio comercial entre brasileiros e norte-americanos. Hoje, a empresa reúne mais de 15 mil membros.

    Em entrevista à Folha, Bedy compara o cenário para start-ups no vale do Silício e no Brasil e dá conselhos.

    *

    Folha - Como você entrou no Vale do Silício?

    Bedy Yang - Eu comecei a falar com empreendedores e investidores, para entender se havia modelos de negócio [para investimento]. Foram eles que me convidaram para dentro da rede do Vale.

    Como o Vale enxergava o Brasil na época?

    Nos eventos a que eu ia, notei que além de pouco saberem sobre o Brasil por aqui, não havia brasileiros aproveitando a rede de contatos. Aí, fundei a Brazil Innovators. Agora, mais do que intercâmbio comercial, tentamos fazer avançar o ambiente de empreendedorismo e inovação. Organizamos encontros mensais no Brasil para gerar oportunidades de negócios e para que as empresas apresentem novas tecnologias.

    Ainda há abertura para novatos no Vale do Silício?

    Existe uma rede de "insiders" no Vale, então as pessoas se conhecem, existe confiança. Mas elas são abertas ao relacionamento. Quase 50% dos empreendedores daqui são imigrantes ou não foram criados nos EUA, isso mostra que é uma cultura aberta. Mas, se você tentar entrar sem entender o contexto e os canais de confiança, pode não conseguir.

    Quais são as diferenças e as semelhanças entre os cenários norte-americano e brasileiro para start-ups?

    A principal diferença é a questão cultural. No Vale do Silício, todo mundo fala em start-up. As universidades pensam sobre start-ups, criam programas específicos para desenvolvê-las. Há uma rede forte de investidores, 40% do capital de risco dos EUA está no Vale. É uma cultura propensa a arriscar.

    No Brasil, temos um microcosmo, são poucos os fundos de investimento e os investidores-anjo [empresários que ajudam novas empresas]. Então, não temos um ambiente fortalecido para o empreendedorismo ligado à inovação. É muito incipiente. Amadureceu, mas não o suficiente.

    Como os investidores norte-americanos vêem o Brasil neste momento?

    A principal diferença em relação a cinco anos atrás é a expectativa. Em 2010, eles imaginavam que o Brasil passaria por um crescimento, o que não veio.

    Mas moderei um painel no SXSW [South by Southwest, festival de música, cinema e interatividade em Austin, EUA] e os investidores falaram ali que este é um dos melhores momentos para investir no Brasil, até pela oportunidade cambial [com a forte desvalorização do real].

    Ficou mais barato investir no Brasil. Além disso, no fim das contas, o empreendedor brasileiro amadureceu e a internet e a logística melhoraram. Os americanos se mostraram otimistas com o país no longo prazo.

    Qual sua opinião sobre os empreendedores brasileiros?

    Há três itens nos quais eu gostaria que o empreendedor brasileiro melhorasse. O primeiro deles: gostaria que ele pensasse grande. Ele é muito bom na execução, para fazer as coisas acontecerem no Brasil, mas muitas vezes ele não parte [da ideia] de que vai montar uma empresa bilionária.

    O segundo item é aumentar a aceitação ao risco. E o terceiro é ter mentalidade aberta para dividir ideias e fazer colaborações. O mercado no Vale do Silício é extremamente colaborativo. Mas o brasileiro, até pelas dificuldades que enfrenta, é resiliente e costuma buscar novos modelos de negócios.

    RAIO-X
    BEDY YANG

    Formação
    Administração pela FGV (Fundação Getulio Vargas) e mestrado em estudos sobre o leste asiático pela Universidade da Pensilvânia

    Empresas fundadas
    Bazaar Brazil, que conecta comunidades quilombolas com o mercado dos EUA. E a Brazil Innovators, que conecta investidores americanos e empreendedores brasileiros

    Investimentos
    Na 500 Startups, treina investidores e seleciona empresas da América Latina para receber recursos

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