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    Uber: veja a situação do aplicativo em diversas cidades pelo mundo

    STEPHANIE KIRCHGAESSNER
    DO "GUARDIAN"

    25/05/2015 19h44

    Como todos os executivos do Uber que estão tentando estabelecer o serviço de compartilhamento de carros, de valor avaliado em US$ 41 bilhões, em uma nova cidade do planeta, a chefe do Uber na Itália encontrou feroz resistência em seu esforço por oferecer concorrência a interesses estabelecidos poderosos.

    O Uber enfrenta oposição regulatória em muitos lugares —as autoridades da cidade chinesa de Chengdu revistaram seus escritórios na cidade na semana passada como parte de uma investigação em curso; e o serviço foi proibido no Estado norte-americano do Kansas—, mas na Itália a batalha se tornou pessoal.

    Benedetta Arese Lucini, 31, vem sendo alvo de pressão constante por parte de pessoas ferrenhamente opostas ao serviço privado de táxis em Milão, onde fica a sede italiana do Uber. Em fevereiro, uma placa a acusando de ser prostituta foi colocado em exibição perto de sua casa. Ela foi alvo de ovos, e cartazes com seu rosto e as palavras "eu roubo" foram espalhados pelos pontos de táxi da cidade.

    Seu escritório sem divisórias, em um antigo estúdio fotográfico em um bairro elegante de Milão, não tem identificação do lado de fora, e é quase impossível encontrá-lo.

    "Isso é proposital", ela diz. "Tentamos evitar que gente demais saiba onde estamos."

    Não é só Arese Lucini que se tornou alvo. Seus gerentes de marketing são insultados no Twitter todos os dias, ela conta, e existe uma preocupante sensação de "justiça pessoal" que parece dominar o pessoal do setor de táxis.

    Eles são inimigos ferrenhos do Uber, um serviço baseado em um app que permite que pessoas localizem o carro mais próximo em seus celulares e chamem uma corrida, depois de definir um preço com o motorista.

    Protestos e intervenções regulatórias contra o Uber em todo o mundo tomam por foco a acusação de que ele não passa, na prática, de um serviço de táxis não regulamentado.

    Falando de seus oponentes em Milão, ela diz que "da parte deles, o sentimento é de que o governo não faz o bastante em sua defesa. Não é um ambiente saudável".

    Ela acrescenta que Travis Kalanick, o presidente-executivo do Uber, em San Francisco, "sabe que sou batalhadora. Mas ele é muito claro em definir que as pessoas vêm em primeiro lugar".

    Este deveria ser o ano do Uber na Europa. Tendo encontrado resistência em cidades de toda a União Europeia, Kalanick declarou em janeiro que desejava dar foco a "novas parcerias" em cidades europeias, e
    prometeu que a expansão de sua companhia de capital fechado terminaria por criar 50 mil empregos.

    De lá para cá, o Uber se tornou objeto de investigação criminal na Holanda e de uma liminar em Genebra, onde foi acusado de operar um serviço ilegal de táxis. Mas a companhia —que prefere se definir como serviço
    de compartilhamento de jornadas— está contra-atacando: ela recentemente se queixou à Comissão Europeia da proibição de seus serviços pessoais não licenciados na Alemanha, Espanha e França.

    Na Itália, o Uber opera em uma área cinzenta —não é exatamente ilegal, mas tampouco é aceito pela lei.

    "Não houve um pronunciamento unificado e centralizado sobre o Uber", disse Carlo Alberto Carnevale Maffe, professor de administração de empresas na Escola Bocconi de Administração de Empresas, em Milão.
    "Temos posições políticas e diversas interpretações contraditórias da lei. Não existe jurisprudência".

    Os desafios da empresa aqui são os mesmos que qualquer grupo inovador enfrenta na Itália: interesses locais e regionais muito enraizados, um sistema judicial dolorosamente lento, burocracia imobilista e uma resistência generalizada a mudanças.

    Arese Lucini se vê como parte de uma nova guarda que vem tentando promover mudanças, mais ou menos como Matteo Renzi, 40, o primeiro-ministro italiano, que está tentando promover uma imagem de agente da mudança.

    O maior obstáculo do Uber na Itália, no momento, é uma lei de 1992 que, entre outras coisas, impõe severas restrições aos serviços de táxi e limusines, limitando o número de licenças disponíveis para os motoristas em cada cidade. Ainda que tenham acontecido tentativas de desregulamentar o sistema, no passado, nenhuma delas encontrou sucesso.

    Por enquanto o Uber vem argumentando —em geral com sucesso— que difere dos serviços públicos de táxis porque seleciona seus usuários: apenas as pessoas que adquirem o app do serviço para smartphones podem usar seus carros.

    Mudanças na lei de 1992 estão sendo debatidas, e Arese Lucini espera que elas reconheçam o Uber como alternativa privada ao transporte público.

    No futuro imediato, seu foco é a feira mundial que será realizada em Milão na metade do ano, e a parceria que ela formou com a delegação dos Estados Unidos. O Uber prometeu corridas gratuitas aos visitantes da exposição. Ela diz estar empolgada com a oportunidade, ainda que fique claro que esperava muito mais.

    Se Arese Lucini tivesse conseguido o que desejava, a exposição —que deve atrair 20 milhões de visitantes nos próximos seis meses— seria uma grande festa pela maioridade do Uber e o governo de Milão o teria promovido como meio alternativo de transporte.

    "Eu esperava que a pressão dos números e os visitantes estrangeiros encorajassem um pouco mais de abertura", ela diz. "Mas ainda não chegamos lá".

    SITUAÇÃO DO UBER EM 10 CIDADES:

    LONDRES
    Os taxistas de Londres argumentam que o Uber é um serviço de táxis não licenciado, e até cinco mil deles bloquearam o centro da cidade em protesto no ano passado.

    PARIS
    A polícia francesa revistou os escritórios do Uber no mês passado e apreendeu 1,2 mil celulares, computadores e documentos, como parte de uma investigação sobre o serviço uberPOP, que conecta motoristas privados a passageiros, e sobre o uso de dados dos clientes.

    AMSTERDÃ
    Motoristas do Uber foram bloqueados por taxistas, e um deles reportou ter tido os pneus retalhados. Um tribunal holandês proibiu o serviço uberPOP de serviços privados de carros e alguns motoristas não licenciados receberam multas.

    MADRI
    Depois que a associação dos taxistas de Madri se queixou do Uber, um juiz ordenou que a companhia cessasse suas operações na Espanha, porque os motoristas não eram licenciados e estavam envolvidos em concorrência desleal.

    BRUXELAS
    O Uber é ilegal em Bruxelas, e alguns dos motoristas do serviço dizem que seus carros foram vandalizados. Bruxelas anunciou planos para legalizar o Uber no ano que vem, mas sob severa regulamentação.

    CHENGDU
    Depois de revistas a escritórios em Guangzhou, a polícia chinesa revistou o escritório da Uber em Chengdu como parte de uma investigação expandida sobre as operações da empresa na China, onde as autoridades proibiram motoristas de carros particulares de oferecer serviços via apps.

    MONTREAL
    A província canadense de Quebec e sua maior cidade consideram o serviço do Uber ilegal e o departamento de táxis da cidade, em uma campanha repressiva, tomou 40 carros de seus motoristas, nas últimas semanas.

    DÉLI
    A capital indiana proibiu o Uber em dezembro depois que uma mulher afirmou ter sido estuprada por um dos motoristas da companhia. Mas o departamento de transporte da cidade se queixa de que o Uber continua operando a despeito da proibição.

    SYDNEY
    O Uber se fez impopular quando aumentou suas tarifas na crise de reféns de Sydney, em 2014. O governo da Nova Gales do Sul declarou o Uber ilegal este ano.

    KANSAS
    O Uber fechou seu serviço no Kansas na semana passada depois que os legisladores estaduais aprovaram uma lei que forçaria a empresa a realizar verificações de antecedentes de todos os seus motoristas e de adquirir seguros adicionais para seus carros.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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