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    Mercado teme volta de política econômica do primeiro governo Dilma

    VALDO CRUZ
    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA

    27/05/2015 02h00

    Ao manifestar sua insatisfação sobre os cortes no Orçamento, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) explicitou uma divisão no governo que levanta dúvidas no mercado sobre a disposição da presidente Dilma Rousseff em manter o roteiro no rearranjo da condução da economia.

    Quando justificou a interlocutores o convite a um economista ortodoxo para comandar a economia, Dilma disse à época que seu objetivo era organizar seu segundo mandato em duas fases.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    A presidente Dilma Rousseff e os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento)
    A presidente Dilma Rousseff e os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento)

    Dois primeiros anos de ajuste, ao estilo Levy, e os dois últimos de desenvolvimento, na linha defendida pelo economista Nelson Barbosa (Planejamento).

    Agora, o receio de analistas e o desejo de petistas, que desencadearam uma temporada de pressões contra a política econômica, é que Dilma encurte o período de ajustes recessivos na economia e opte por iniciar uma flexibilização já no segundo semestre.

    Levy, que desde sexta (22), data do anúncio do corte de R$ 69,9 bilhões, só falou por telefone com Barbosa, disse a interlocutores que segue com aval de Dilma.

    Já o ministro do Planejamento, que defendia um corte abaixo dos R$ 70 bilhões, tem dito que não vai estimular disputas. Conhecidos de ambos contemporizam, dizendo que eles até brincaram sobre o tom dado pelo noticiário sobre a relação.

    Os dois, contudo, encarnam estilos distintos na visão de colegas e aliados. Levy ganhou um carimbo que o incomoda, de tocar uma política de uma nota só, a do ajuste.

    A interlocutores diz ter propostas para a segunda fase da economia, mais orientada para o investimento, mas diz que o país não chegará a ela se não fizer o dever de casa. Ele é criticado por não mostrar a "porta de saída" para a crise.

    DESENVOLVIMENTISTA

    Barbosa, egresso do primeiro mandato de Dilma, é visto como um aliado das políticas desenvolvimentistas mais ao feitio petista.

    Não por outro motivo, Levy confidenciou a interlocutores não gostar do discurso de que o país começará a se recuperar no início do segundo semestre, mensagem dada por Barbosa na sexta.

    No campo petista, está também o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante –que, apesar de declarar apoio a Levy, não compartilha de suas convicções.

    Apesar das nuances no debate sobre o ajuste, Dilma não dá sinais de que pretende abreviar a gestão Levy na Fazenda, embora Barbosa conte com o entusiasmo do ex-presidente Lula para assumir o comando da economia.

    Mas mesmo uma saída de Levy não é garantia de que isso ocorra, segundo assessores presidenciais.

    Levy está isolado. Além de Dilma, só conta com o apoio do presidente do BC, Alexandre Tombini. Nesta terça (26), o colega fez críticas duras à política econômica dos dois últimos anos (leia ao lado).

    Se aprovado o ajuste, Levy crê que terá mais tranquilidade para tocar sua estratégia de consolidar a recuperação da credibilidade do governo.

    O desafio é grande. A economia tende a desacelerar ainda mais no segundo trimestre, reduzindo a arrecadação e dificultando o cumprimento da meta de superavit de 1,1% do PIB em 2015.

    Essa dificuldade, reconhecida por assessores de Levy, deve gerar o próximo embate encarnado nos titulares da Fazenda e do Planejamento.

    No Congresso, PT e PMDB ensaiam aprovar uma emenda à LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2016 propondo reduzir a meta de superavit deste ano de 1,1% para 0,8%, ideia que tem a simpatia de setores do governo.

    Levy não quer nem ouvir falar disso. Considera ser uma arma de quem deseja reduzir os cortes no Orçamento.

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