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    Qualidade do trabalho piora e desemprego deve continuar subindo

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    03/06/2015 12h41

    O resultado da taxa de desemprego, que no trimestre encerrado em abril atingiu 8%, mostrou que há uma piora na qualidade do trabalho com migração maior para informalidade e atividades autônomas em relação a igual período do ano passado. Os dois modelos não são protegidos pelas leis trabalhistas e, portanto, mais sensíveis às mudanças da economia.

    Ao movimento soma-se uma queda de pouco mais de meio milhão de pessoas no volume de trabalhadores com carteira assinada no intervalo de um ano. Também caiu, em quase 300 mil pessoas, a quantidade de trabalhadores sem carteira. Os dados são da Pnad Contínua, divulgados nesta quarta-feira (3) pelo IBGE.

    A queda dos trabalhadores sem carteira seria benéfica se houvesse uma migração para a formalização, mas, segundo o IBGE, o grupo que cresceu– trabalhadores por conta própria e empregadores– é também majoritariamente informal.

    As duas categorias tiveram crescimento absoluto, mas viram suas rendas encolherem entre o trimestre encerrado em abril e igual período do ano passado.

    TAXA MÉDIA DE DESEMPREGO - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

    "Temos a perda de emprego sem carteira e aumento de trabalho na forma de empregadores, que podem estar informais, e trabalhadores por conta própria, também não registrados. Ou seja, você pode estar revertendo esse trabalho com carteira em trabalhos informais", afirmou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Renda do IBGE.

    O país fechou o trimestre encerrado em abril com 36 milhões de trabalhadores com carteira assinada, queda de 1,5% em relação ao verificado em igual período de 2014– 552 mil pessoas perderam seus empregos no período. A queda dos sem carteira foi ainda maior, de 3,7%, e a quantidade absoluta fechou em 10,3 milhões. Foram 384 vagas fechadas no período.

    Na ponta oposta, o contingente de trabalhadores por conta própria cresceu em 1,02 milhão de pessoas e atingiu 21,9 milhões– a alta em relação ao verificado um ano antes foi de 4,9%. A renda dessa categoria de trabalhador, que historicamente é mais baixa que a de quem tem carteira assinada, caiu 3,3% na comparação anual e ficou em R$ 1.429, contra R$ 1.757 do trabalhador formal.

    Os empregadores, que são pessoas que empregam pelo menos uma pessoa, não necessariamente formal, também cresceram em quantidade e fecharam o trimestre em 4,03 milhões de pessoas, alta de 9%. Foram 333 mil pessoas que ingressaram na categoria que, no entanto, teve uma baixa de 0,8% na renda, que fechou em R$ 4.861.

    De acordo com Azeredo, o que pode estar ocorrendo é a migração para a autonomia dos demitidos no último ano e o ingresso de membros dessa família na fila do emprego.

    Chefes de família que perdem emprego, por exemplo, migram direto para o trabalho autônomo, enquanto outros membros da família entram na fila por uma oportunidade, fator que pode explicar, em parte, o aumento da desocupação– desempregados que estão à procura de emprego.

    "Quando aquelas pessoas chefes de família perdem o emprego, elas voltam ao mercado, em geral, como trabalhadores por conta própria. Elas montam o próprio negócio, ainda que seja não registrado, para poder continuar com seu sustento".

    TENDÊNCIA

    A taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua é feita em bases trimestrais, mas com divulgação mensal. O trimestre divulgado nesta quarta-feira foi o encerrado em abril, um mês, portando, à frente do primeiro trimestre deste ano.

    Segundo Azeredo, a alta do indicador mostra que o desemprego tem avançado para além dos três primeiros meses do ano. A queda de 1,4% no PIB do primeiro trimestre em relação a igual período de 2014 também teve impacto na taxa de desemprego divulgada nesta quarta– o trimestre encerrado em abril tem dois meses ainda do primeiro trimestre, que são março e fevereiro.

    "[O resultado] Demonstra que o país já inicia o segundo trimestre com indicação de que o ritmo de desemprego de mantém", afirmou Azeredo.

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