• Mercado

    Thursday, 02-May-2024 11:32:03 -03

    o brasil que dá certo - inovação

    'Sem indústria, país perde inovação', diz órgão de competitividade dos EUA

    RENATA AGOSTINI
    DE SÃO PAULO

    11/06/2015 02h00

    Para Deborah Wince-Smith, presidente do Conselho de Competitividade dos Estados Unidos –entidade privada que reúne grandes empresas, universidades e laboratórios americanos–, ter uma indústria em crescimento é central para estimular a inovação de um país.

    "Se você perde sua capacidade industrial, você perde a próxima geração de inovação. As duas coisas estão diretamente ligadas." Segundo ela, o Brasil ainda investe menos do que deveria em inovação e as grandes empresas do país têm de trabalhar juntas.

    INOVAÇÃO
    Desnvolvimento aposta em análise dados

    Folha - O Conselho de Competitividade dos EUA trabalha com o Brasil desde 2003. Há resultados?

    Deborah Wince-Smith - O que fizemos é muito poderoso e único. Montamos um novo padrão de colaboração entre países com a criação do Laboratório de Aprendizagem em Inovação. Já fizemos 15 deles. Convidamos universidades americanas para coordenar encontros com brasileiros, nos quais debatíamos temas críticos para a inovação como propriedade intelectual e pesquisa. Os brasileiros fizeram então laboratórios sobre os mesmos temas. Muitos dos participantes passaram a trabalhar juntos.

    Por que não há uma agenda mais ambiciosa de trabalho entre os governos de Estados Unidos e Brasil?

    Parte disso é histórica e política. O Conselho de Competitividade é totalmente privado, mas o que percebo é que houve altos e baixos.

    Há 15 anos, houve muitos problemas com tarifas altas para importação e regras difíceis. Algo que, aliás, ainda acontece e deve ser discutido, porque o Brasil está perdendo grandes oportunidades de investimento por causa de questões regulatórias. Houve ainda diferenças entre os dois países sobre temas de segurança nacional, como o relacionamento com o Irã.

    O interesse dos americanos diminuiu diante do baixo crescimento do Brasil?

    Executivos e potenciais investidores estão desapontados. Esperavam por medidas que não foram tomadas. Mas ainda há muito interesse. Boa parte das grandes corporações americanas já está no Brasil e quer expandir. O fato de haver um ambiente hostil ao investimento é um problema. Há sempre o "custo Brasil". Mas é um mercado importante e sofisticado. Os brasileiros foram uns dos primeiros usuários de tecnologias avançadas e o país tem companhias competitivas.

    Os empresários brasileiros acompanham com preocupação as negociações comerciais dos Estados Unidos com Ásia e Europa. Eles devem se preocupar?

    Editoria de Arte/Folhapress

    Acredito que sim. Você verá esses países entrando em acordo em questões regulatórias e será mais fácil [vender e comprar].

    Acho que o Brasil tem de começar a olhar para fora da mesma maneira que olha suas questões internas. Nos próximos dez anos, precisamos ter o acordo de comércio das Américas. Precisamos do acordo de investimentos entre Brasil e Estados Unidos. É preciso uma decisão política, porque a decisão econômica faz todo sentido. As maiores economias das Américas têm de se aliar. Acredite, o resto do mundo ficará feliz se os dois países insistirem em não trabalhar juntos.

    O Brasil deveria reduzir a importância dada ao Mercosul?

    O Mercosul foi um esforço de criar uma área de comércio. Não sou especialista, mas meu entendimento é que não foi tão bem-sucedido. O que seria transformador é se Brasil e Estados Unidos se colocassem como líderes. Espero que o próximo presidente americano ou brasileiro [se dediquem a isso]. Talvez a presidente Dilma possa ainda pensar em algo grande.

    As exportações brasileiras estão caindo desde o ano passado. O que o Brasil pode fazer para reverter esse quadro?

    Há cerca de dez anos, as empresas americanas começaram a pensar que não precisariam produzir. Faríamos design e pesquisa, e a fabricação ficaria com a China. Dizemos que essa é uma política perigosa. Se você perde sua capacidade industrial, você perde a próxima geração de inovação. As duas coisas estão muito ligadas.

    Temos priorizado promover o entendimento de que a indústria manufatureira tem de ser olhada em toda a cadeia de valor: pesquisa, fornecedores e produção. Até porque produzir está se tornando totalmente diferente.

    Um dos nossos membros, a Rockwell Automation, possui fábricas em que tudo é gerenciado pela infraestrutura digital. Isso é revolucionário e ameaçador para países como a China, onde o modelo econômico é baseado em milhares de funcionários em fábricas de larga escala. É importante para o Brasil e para o empreendedorismo do país terem essa visão.

    Empresários brasileiros reclamam da falta de apoio do governo para inovação. O que eles podem fazer que não dependa do Estado?

    Uma é participar da MEI [Mobilização Empresarial pela Inovação, que reúne líderes de cem grandes empresas brasileiras para debater iniciativas de apoio à inovação]. Nos Estados Unidos, não temos o melhor ambiente regulatório e temos um dos piores sistemas tributários, mas a indústria segue. As empresas têm de colaborar, e não tentar fazer as coisas sozinhas.

    Estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostrou que metade das empresas brasileiras investe até 3% de seu orçamento em inovação. Investe-se pouco no país?

    O governo e o setor privado brasileiro investem menos do que deveriam em inovação. O interessante é que o país já fez isso no setor agrícola, que tem alta tecnologia, com a Embrapa.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024