• Mercado

    Friday, 17-May-2024 10:19:03 -03

    Microsoft escolhe lugar incomum para fabricar tela de toque gigante: os EUA

    NICK WINGFIELD
    DO 'NEW YORK TIMES', EM REDMOND, WASHINGTON

    10/06/2015 23h35

    Não existe nada de comum no Surface Hub, um gigantesco computador com tela de toque que a Microsoft em breve começará a vender a empresas como substituto de alta tecnologia para os quadros de escrita das salas de reuniões.

    O maior dos Surface Hubs, com tela de 84 polegadas, diagonalmente, parece um iPad que tenha disparado a crescer. A resolução de 4K oferecida pela tela propicia imagens deslumbrantes. Ao preço de US$ 20 mil por unidade que a Microsoft anunciou na quarta-feira, isso é uma obrigação.

    Igualmente incomum é o lugar em que a Microsoft está produzindo o Surface Hub: Wilsonville, Oregon, pertinho de Portland e cerca de 320 quilômetros ao sul da sede da empresa em

    Redmond, Washington. Isso coloca o Surface Hub em uma categoria rara, já que a maioria dos produtos mais conhecidos da Microsoft, como o console de videogames Xbox, são fabricados no exterior.

    Nos últimos anos, houve uma disparada do otimismo quanto à possibilidade de que empregos industriais de alta tecnologia retornassem aos Estados Unidos, depois de algumas decisões que valeram manchetes, como a da Apple quanto a produzir o computador iMac Pro no Texas, a partir de 2013. Mas elas continuam a representar exceções em um setor que terceirizou para a Ásia a produção de absolutamente tudo, de consoles de videogames a celulares.

    O Surface Hub, porém, representa uma ilustração de um produto exótico de alta tecnologia que a empresa acredita possa ser fabricado com bom custo/benefício nos Estados Unidos. O produto é tão incomum - uma das maiores telas de toque já produzidas - que a Microsoft não conseguiu encontrar linhas de produção existentes capazes de fabricá-lo na Ásia, segundo a
    companhia.

    Com peso de 100 quilos, o maior dos Surface Hubs é dispendioso para transporte em longa distância, e seu preço salgado significa que o custo adicional de mão de obra associado à sua produção nos Estados Unidos será mais difícil de detectar pelos compradores.

    "Faz muito sentido fabricar nos Estados Unidos", disse Steve Hix, empresário que criou diversas companhias de tecnologia na região de Portland, entre as quais a fábrica de Wilsonville. "A questão chave é a qualidade".

    O número de postos de trabalho do setor industrial é sombra do que foi no passado, a despeito dos avanços do emprego no segmento nos últimos anos. No segmento de computadores e produtos eletrônicos, o nível de emprego mostra queda de 41% ante o total de 15 anos atrás, para pouco mais de um milhão de postos de trabalho, de acordo com estimativas do Serviço de Estatísticas do Trabalho do governo federal norte-americano.

    A criação de linhas de montagem de alta tecnologia nos Estados Unidos, nos últimos anos, despertou esperanças de uma retomada maior. A Apple anunciou ter investido mais de US$ 100 milhões para criar a linha de produção e montagem do Mac Pro - um computador de preço relativamente alto - em Austin, Texas. O grupo de tecnologia chinês Lenovo produz computadores com a marca Think em Whitsett, Carolina do Norte, em uma fábrica que emprega cerca de 100 pessoas na área de produção.

    Mas também aconteceram revezes. Não muito depois que a Motorola Mobility começou a fabricar o celular Moto X em uma fábrica operada pela produtora terceirizada Flextronics no Texas, as vendas decepcionantes a levaram a fechá-la. (A Motorola na época era controlada pelo Google, e depois foi vendida à Lenovo.)

    Hal Sirkin, sócio sênior do Boston Consulting Group, disse que estava acontecendo algum "retorno" de empregos transferidos ao exterior. "Isso faz bem em termos de marketing", ele disse, "mas não vemos ainda, no setor de tecnologia, uma tendência de retorno generalizado aos Estados Unidos".

    Em entrevista na semana passada na Microsoft, Mike Angiulo, vice-presidente da companhia, demonstrou o que o Surface Hub era capaz de fazer, flanqueado por um modelo de 84 polegadas em uma parede e por outro de 55 polegadas (preço de US$ 7 mil) na parede adjacente.

    Os participantes de uma reunião podem escrever na tela com uma caneta especial e usar as mãos para mover imagens. Tudo que estiver na tela, além de imagens em vídeo de participantes na reunião, pode ser compartilhado via Internet com pessoas em outros locais.

    Uma empresa que produz uma nova categoria de hardware muitas vezes pega carona na cadeia de suprimento que desenvolveu para outros produtos, para se beneficiar da economia de escala muitas vezes atingida na produção de telas, microprocessadores e outros componentes. Angiulo disse que não existia opção como essa para a tela gigante do Surface Hub.

    "Nós somos a escala", ele disse.

    Um motivo para que a fábrica da Microsoft fique em Wilsonville, uma cidade de cerca de 21 mil habitantes 20 minutos ao sul de Portland, é que o Surface Hub surgiu de uma startup chamada Perceptive Pixel adquirida pela Microsoft em 2012. A empresa iniciante tinha uma linha de montagem em Wilsonville para seu aparelho com tela de toque gigante, na época vendido por US$ 80 mil e usado por companhias de TV como a CNN para exibir resultados eleitorais e outros dados.

    A Microsoft disse que a fábrica, com área de 1,6 hectares e 18 pontos de carga para caminhões, agora emprega equipe de engenharia e produção combinada de 200 pessoas, cerca de sete vezes maior que o quadro original da Perceptive Pixel. Ainda que muitos dos componentes utilizados venham do exterior, o Surface Hub terá gravada a frase "made in Portland, OR, USA".

    Angiulo não descarta a possibilidade de fabricar o produto em outros locais, mas disse que a Microsoft teria primeiro de "lançá-lo e acertá-lo".

    Kristin Retherford, gerente de desenvolvimento econômico da prefeitura de Wilsonville, disse que a Microsoft havia ocupado um dos maiores edifícios vazios da cidade, que enfrenta baixa ocupação de seus imóveis industriais desde a recessão de 2008. Ela disse que os empregos na fábrica da Microsoft pagam melhor do que os postos de trabalho de empresas locais
    semelhantes.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024