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    De olho em mercado grande e pouco explorado, franquias vão para favelas

    FELIPE GUTIERREZ
    DE SÃO PAULO

    21/06/2015 02h00

    As favelas são o próximo mercado urbano que começa a ser desbravado pelas franquias brasileiras.

    Redes de tratamento odontológico, varejo, bares, cursos de inglês e outros tipos de negócios abriram pontos em comunidades das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro no último ano.

    Franquia é o modelo pelo qual uma marca vende o direito de usar seu nome e seus produtos em troca de taxa de adesão e royalties mensais.

    Para especialistas, uma das principais explicações para a chegada do modelo às regiões urbanas mais pobres é a saturação do mercado de áreas tradicionais.

    "Os lugares de maior potencial são ocupados primeiro e, à medida que esses vão sendo tomados, os negócios começam a surgir em outros pontos, menos óbvios", diz o professor de geografia de mercado da Fundação Getúlio Vargas Tadeu Masano.

    Além disso, um dos propósitos do esquema de franquias é ocupar mais territórios antes de outras marcas chegarem.

    "A função é expandir a presença da empresa gastando menos dinheiro, e as favelas são um dos poucos territórios que crescem mesmo na crise, por isso olha-se para elas", diz Renato Meirelles, do instituto Data Popular, que pesquisa as classes C, D e E.

    Outro motivo é o surgimento de franquias cujas taxas de abertura são muito baixas.

    Além de serem acessíveis para empreendedores que vivem nas favelas, elas são vistas como uma maneira mais garantida de abrir um negócio, porque já têm uma marca, diz o professor Leandro Cesar Diniz da Silva, especialista em varejo do centro Newton Paiva.

    "A classe B se importa ainda mais com marcas do que a classe A", afirma.

    Gerentes de marcas de franquias que já operam em favelas do Rio e de São Paulo afirmam que os resultados dos investimentos são uma surpresa positiva.

    É o caso de Santiago Ricardo, 41, que é dono, como franqueado, de oito lojas da rede de tratamento de dentes Odontoclinic.

    Raquel Cunha/Folhapress
    Recepção da franquia Odontoclinic na comunidade de Paraisópolis
    Recepção da franquia Odontoclinic na comunidade de Paraisópolis

    Há quatro meses, ele abriu uma unidade em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo e, segundo diz, o faturamento tem sido mais do que o dobro do esperado (ele prefere não divulgar números).

    Um dos sócios da franqueadora, Lucas Romi, 26, diz que a taxa de inadimplência da unidade é de 5%, o que está em linha com as demais.

    A escola de inglês Yes! é outra que abriu em Paraisópolis neste ano. O ponto pertence à própria franqueadora, que quer testar o negócio primeiro em uma favela de São Paulo para crescer com franqueados em outras.

    Clodoaldo Nascimento, presidente da rede, conta que em 2009 fizeram o mesmo com a Rocinha, no Rio. Depois, abriram franquias no Vidigal, no Complexo do Alemão, em Cidade de Deus e em Jardim Bangu.

    Uma outra franquia que faz testes na Rocinha é a Elefante Verde, agência de marketing digital para pequenos negócios. A empresa presta serviços como o envio de e-mails para clientes cadastrados, construção de páginas de empresas na web etc.

    Alexandre Itaboraí, 43, é franqueado e diz que muitos dos moradores preferem usar seu dinheiro na própria comunidade. "Quem vive lá sente um desprestígio do resto da cidade e se orgulha quando uma marca abre na Rocinha", conta.

    O negócio nas favelas tem peculiaridades em relação às lojas em outros pontos, afirmam os franqueadores.

    Por exemplo, grande parte dos pacientes da Odontoclinic em Paraisópolis só consegue fazer tratamentos à noite. Isso implica pagamento de horas extra a funcionários, diz Ricardo. Ele conta que, aos sábados, tem um baile funk na rua. "Durante a festa, muita gente vê minha marca. Eles não vão lá na hora, mas, se o dente dói, ficam com o nome na cabeça."

    Na Yes!, as mensalidades de unidades em favelas são mais baratas do que as "do asfalto", mas os franqueados pagam as mesmas taxas e royalties à rede.

    Já na Elefante Verde enfrentou uma rotatividade de funcionários mais alta do que o normal, conta o sócio Fabio Melo Duran, 32, sem apontar razões pela diferença.

    Para Tadeu Masano, da FGV-SP, franquias não devem olhar as favelas como a salvação da lavoura.

    Ele diz que, entre as pessoas que ganham até dois salários mínimos, uma fatia alta, de 70% da renda, é comprometida com habitação, alimentação e transporte. A segurança do ponto também precisa ser levada em conta.

    Renato Meirelles, do Data Popular, também lembra que os espaços, além de reduzidos, podem ter problemas de regularização fundiária.

    Editoria de Arte/Folhapress
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