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    Corretor Bolsa e gerente de RH deixam carreiras para plantar orgânicos

    GABRIELA STOCCO
    DE SÃO PAULO

    21/06/2015 02h00

    O sonho de "morar na roça e viver dela" levou Daniela Leonel Barbosa e Hernane Barbosa, os dois com 39 anos, a deixarem seus empregos na cidade para investir no cultivo de alimentos orgânicos.

    Morando em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, Daniela trabalhava como coordenadora do departamento de recursos humanos de uma empresa, e seu marido atuava como investidor autônomo na Bolsa por meio de uma corretora de ações.

    "Estávamos decepcionados com o mundo corporativo por fatores como estresse e distância da família", diz Daniela. Eles decidiram voltar para seu Estado, Minas Gerais, e analisaram algumas opções de negócios na zona rural, como apicultura, uma pequena fábrica de laticínios ou doces e compotas.

    Optaram pela agricultura familiar, que exigia menor infraestrutura e investimento, segundo Daniela.

    Alexandre Rezende/Folhapress
    O casal de agricultores Daniela e Hernane Barbosa, que cultivam orgânicos e os vendem em uma feira livre em BH
    O casal de agricultores Daniela e Hernane Barbosa, que cultivam orgânicos e os vendem em uma feira livre em BH

    Sem conhecimento prévio sobre a atividade, o casal procurou ajuda da Emater-MG (órgão de assistência técnica e extensão rural vinculado ao governo estadual) e, com orientação de agrônomos, optou desde o início das atividades por produzir apenas alimentos orgânicos.

    O processo para obtenção da certificação de produtor orgânico é complexo, lembra Daniela, que usou sua experiência com a rotina corporativa para agilizar a preparação da documentação.

    Hoje, o casal -pais de duas adolescentes de 14 e 18 anos- cultiva 30 variedades de vegetais, como hortaliças, legumes e frutas na cidade de Pequi, a 120 quilômetros da capital mineira.

    "Três vezes por semana temos ajuda de um funcionário na horta. Nosso carro-chefe são os morangos. Em 2015, plantamos quatro mil mudas dessa fruta", ela conta.

    Negócio

    "Nossa rotina de trabalho era diferente. Eu trabalhava de salto e maquiagem, e ele, de terno e gravata. Hoje, trabalhamos de botina e chapéu. Foi uma mudança de vida, mas também encaramos como empreendimento, embora seja familiar", diz Daniela.

    Ela diz que os conhecimentos profissionais anteriores ajudam o casal a cuidar do negócio. "Usamos softwares e planilhas para controlar estoque, entrada e saída de produtos e materiais."

    Apesar da organização financeira, os dois enfrentam problemas, como uma seca em 2014, que causou queda na produção, e dificuldade de financiamento.

    "Começamos com capital quase zero. Para ter capital de giro, fizemos empréstimos com familiares. Ao longo de dois anos e meio, já investimos entre R$ 80 mil e R$ 90 mil, e ainda não tivemos o retorno", diz Daniela.

    Para ter mais facilidade de acesso a um financiamento formal, o casal deve se mudar no segundo semestre para Caeté, a 40 quilômetros de Belo Horizonte. "Fizemos uma parceria com meu sogro, que tem uma terra lá.

    Ele passou o terreno para o nosso nome, vamos cultivar e morar nesse local. Isso pode nos ajudar a conseguir financiamento em um banco."

    Daniela diz que a maior parte de seus clientes está na capital. "Temos um ponto em uma feira livre em Belo Horizonte às sextas, que corresponde a 50% da nossa renda. A outra metade vem de entregas que fazemos nas casas de consumidores."

    "Hoje não temos estresse, o relacionamento e a alimentação melhoraram. Escolhemos esse negócio pela qualidade de vida. Acreditamos que a parte financeira é consequência do trabalho."

    Colaborou BRUNO FÁVERO

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