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    Correio de Cingapura investe em e-commerce para superar crise da carta

    ALEXANDRA STEVENSON
    DO 'NEW YORK TIMES'

    20/06/2015 02h00

    Quando uma marca alemã de roupas íntimas decidiu vender sutiãs via internet na Malásia, recorreu ao quase bicentenário serviço postal de Cingapura.

    O Correio de Cingapura construiu um site, desenvolveu uma estratégia de marketing e atualmente entrega pacotes para a empresa alemã Triumph International. A equipe de atendimento ao consumidor chega até mesmo a responder perguntas sobre tamanhos. Na Coreia do Sul, o SingPost, como é conhecido o correio cingapuriano, ajuda a vender jeans Levi's. Em Cingapura, estoca laptops Toshiba. Na Malásia, distribui tênis Adidas.

    Com o declínio dos serviços postais tradicionais, correios do mundo todo estão lutando para se reinventar. O do Japão está adquirindo a Toll Holdings, maior empresa privada australiana de empacotamento e entregas, na tentativa de criar uma companhia capaz de rivalizar com a UPS e a FedEx. O Serviço Postal dos EUA, que registrou prejuízo de US$ 5,5 bilhões no ano passado, está fazendo entregas dominicais para a Amazon. O Correio da Austrália fez parceria com o Alibaba, gigante chinês do comércio eletrônico, para ajudar empresas locais a fazerem contato com consumidores da China.

    Edwin Koo/The New York Times
    Comércio eletrônico responde por um quarto da receita do correio de Cingapura
    Comércio eletrônico responde por um quarto da receita do correio de Cingapura

    "Há pelo menos duas tendências em curso", disse Frank Lavin, presidente-executivo da consultoria de comércio eletrônico Export Now. "Uma é a morte dos correios. A segunda é este boom do comércio eletrônico."

    Além de suas tarefas postais regulares, o SingPost oferece um pacote de serviços para empresas, incluindo o desenvolvimento de sites, o marketing on-line, atendimento ao consumidor e, naturalmente, a entrega de encomendas. Seguindo o modelo da Amazon, a empresa de Cingapura está construindo uma rede de 24 depósitos em 12 países, onde armazenará produtos para as empresas.

    Para Wolfgang Baier, presidente-executivo do SingPost, a localização central de Cingapura faz do país um polo natural do comércio eletrônico na Ásia. Ele citou números que demonstram a dimensão dessa oportunidade: mais de 600 milhões de consumidores vivem na região ao redor de Singapura, e 2,2 bilhões de pessoas estão a no máximo cinco horas de voo. "Queremos ser a porta de entrada para o Oriente", disse ele.

    Foi uma mudança gritante para esse serviço postal, outrora estatal, que abriu seu capital em 2003. Quatro anos atrás, o comércio eletrônico mal figurava no seu balanço. Hoje, responde por mais de um quarto da receita do grupo, que cresceu 60% nesse período.

    O SingPost começou a usar a internet como um laboratório no início da década de 2000. Ele tateou várias partes da cadeia de abastecimento, até que, dois anos atrás, criou a subsidiária SP eCommerce, para aproveitar a expansão do varejo eletrônico na Ásia. Hoje, tem cerca de mil empresas como clientes, incluindo Philips, Uniqlo, Deckers e Muji.

    Marcelo Wesseler, executivo-chefe da SP eCommerce, criou seu primeiro site de comércio eletrônico em 1997 e trabalhou no Vale do Silício antes de se mudar para Cingapura. Outros funcionários vieram de grandes empresas de tecnologia, como Amazon e Hewlett-Packard.

    A empresa também criou um departamento de atendimento ao consumidor. Em seus escritórios de Cingapura, pelo menos 30 empregados respondem a perguntas e queixas por telefone. Outros 200 funcionários trabalham em outros lugares.

    No ano passado, o Alibaba pagou US$ 250 milhões por uma participação societária de 10% no SingPost. As duas empresas agora discutem a formação de uma joint venture centrada em logística de comércio electrónico no Sudeste Asiático. Como parte da expansão desse setor, o SingPost reforçou seus serviços de entrega. Ampliou a rede de armazéns e centros de distribuição, que manipulam as encomendas e tratam da liberação alfandegária das mercadorias a fim de acelerar sua distribuição nessa parte da Ásia. A região, onde há uma enorme população jovem com cada vez mais renda disponível para gastar, oferece novas oportunidades.

    O fabricante chinês de smartphones Xiaomi abriu no ano passado uma sede regional em Cingapura, que serve como trampolim para entrada na Malásia, nas Filipinas e na Indonésia. Seus próximos alvos são Vietnã e Tailândia. A empresa se associou à SingPost para receber apoio logístico nas suas atividades de comércio eletrônico, que representam 80% do faturamento da Xiaomi no Sudeste Asiático.

    O SingPost está ajudando a empresa de telecomunicações chinesa ZTE a oferecer seus produtos em âmbito regional por intermédio de um site que entrará no ar em algumas semanas. A ZTE está tentando vender seus smartphones diretamente aos consumidores em novos mercados como Malásia, Indonésia e Índia.

    No caso da Triumph International, a empresa passou anos de olho no Sudeste Asiático, à espera de que o número de consumidores on-line alcançasse um volume considerável. No ano passado, a Triumph procurou inicialmente o SingPost. "Usando Cingapura como base, pode-se alcançar 680 milhões de pessoas na região", disse Teo Doy, diretora-gerente da Triumph em Cingapura. "Isso é praticamente meia China."

    Agora, a Triumph planeja se expandir na Indonésia com a ajuda do SingPost. "Eles evoluíram", disse Teo. "Veja bem, quem ainda manda cartas hoje em dia?"

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