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    Novo plano de negócios da Petrobras agrada analistas, mas ações caem

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO
    ANDERSON FIGO
    DE SÃO PAULO

    29/06/2015 13h31

    Daniel Marenco/Folhapress
    Ações da Petrobras operavam em leve queda nesta segunda (29)
    Ações da Petrobras operavam em leve queda nesta segunda (29)

    O novo plano de negócios da Petrobras, que apresentou queda nas estimativas de investimentos para os próximos cinco anos e sinalizou com venda de ativos no valor de US$ 42,6 bilhões, agradou analistas ouvidos pela Folha.

    Mesmo assim, as ações da Petrobras fecharam em queda nesta segunda-feira (29), em um pregão marcado pelo estresse global com a proximidade do calote da dívida da Grécia com o FMI (Fundo Monetário Internacional), após o governo grego não ter obtido sucesso em suas negociações com credores internacionais. Os papéis, no entanto, chegaram a subir mais de 2% ao longo do dia.

    A Petrobras reduziu em 37% sua estimativa de investimento, para US$ 130,3 bilhões entre 2015 e 2019. O plano anterior, para o período de 2014-2018, previa investimentos no valor de US$ 206,6 bilhões.

    A redução se faz necessária diante da realidade de caixa da empresa, que sofreu no último ano com as perdas com a corrupção investigada pela operação Lava Jato, com a queda do preço do petróleo e com o aumento da dívida, impulsionada pela alta do dólar.

    Segundo o analista-chefe da Gradual Investimentos, Daniel Marques, o corte de 37% foi positivo e veio um pouco acima do que esperava o mercado. Ele esperava um corte de 35% e a média do mercado era na casa de 30%. "Eu gostei do que foi divulgado. Veio um pouco mais forte do que estávamos esperando", disse.

    Em sua avaliação a empresa acertou em reduzir seu investimento por ano a um patamar abaixo de US$ 30 bilhões –o plano prevê aportes anuais de US$ 26,06 bilhões.

    Segundo ele, a Petrobras vê o custo de sua dívida encarecer, seja por conta da alta do dólar –a maior parte da dívida da empresa está em moeda estrangeira– seja pelo aumento da percepção do risco da empresa pelas instituições financeiras no exterior, o que faz subir a taxa de juros de dívidas contraídas fora do Brasil.

    A dívida líquida da Petrobras bateu, no primeiro trimestre deste ano, R$ 332 bilhões. No plano apresentado nesta segunda, a empresa prevê reduzir a relação entre dívida e geração de caixa para três vezes até 2018, algo que Marques considerou como factível, visto que esse percentual no primeiro trimestre estava em 3,8 vezes.

    Marques também considerou como bom o sinal o fato de a empresa concentrar investimentos na área de exploração e produção, que garante o maior retorno para a estatal, e reduzirá os aportes nas áreas de refino e distribuição de combustíveis, que têm retorno mais baixo.

    "Você pode reduzir essa relação [dívida líquida/Ebitda] de duas formas: diminuir a dívida ou gerar mais caixa. O que podemos ler, nesse momento, é que a empresa, talvez na impossibilidade de reduzir sua dívida mais rapidamente, optou por gerar mais caixa, deixando sua estrutura mais enxuta e cortando gastos", disse.

    O que não ficou claro, segundo Marques, é qual tipo de ativo a empresa irá se desfazer no plano de desinvestimento. No comunicado enviado ao mercado, a empresa não explicita exatamente o que será posto a venda. Diz apenas que desinvestirá US$ 15,1 bilhões neste ano e no ano que vem, e que a cifra chegará a R$ 42,6 bilhões em 2018. Nesse total, 30% serão em exploração e produção e 70% nas áreas de abastecimento, gás e energia.

    AÇÕES

    Na esteira da divulgação do plano, as ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, fecharam o pregão com perda de 3,48%, para R$ 12,75 cada uma. As ordinárias, com direito a voto, recuaram 4,10%, a R$ 14,05. A expectativa de cortes havia feito as ações da empresa subirem na última sexta-feira (26), com avanços de 4,84% das ordinárias e de 4,79% das preferenciais.

    "O mercado ainda está digerindo os dados e isso leva a certa volatilidade", disse Marques. É a mesma percepção do analista João Pedro Brügger, da Leme Investimentos, que acredita que, agora, os investidores devem focar nos resultados que as medidas tomadas pela empresa devem trazer no longo prazo.

    "Foi um corte próximo ao nível máximo que o mercado estava especulando. Os ativos que foram colocados à venda também animaram, porque vão permitir que a empresa foque em áreas mais rentáveis. É lógico que o trabalho para recuperar a saúde financeira da companhia será grande, mas esse é um bom começo", afirmou Brügger.

    Segundo o analista, o forte avanço dos papéis da Petrobras nos últimos meses, diante da expectativa positiva pelo corte em investimentos, pode ter colaborado para a ligeira correção nesta segunda. Apenas em abril, as ações preferenciais da companhia subiram 34,12%, enquanto as ordinárias, 48,75%.

    "O plano vai fazer as ações subirem nos próximos dias", afirmou Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

    PRODUÇÃO

    Crítico contumaz da gestão do governo na Petrobras, Pires afirmou que em última análise os cortes de investimento foram uma boa notícia. Segundo ele, a estatal divulgou "pela primeira vez um plano realista e condizente com sua situação financeira".

    Ele faz, contudo, ressalvas quanto às reduções estimadas para a produção. "Ninguém deve comemorar queda de produção, mas mostra que a diretoria tem mandato [independente] do governo. Não é fácil cortar 40%", disse.

    Na avaliação de Pires, o recado dado foi que o modelo de negócios pensado para a Petrobras em 2010, quando da mudança do marco regulatório da exploração de petróleo no Brasil, não deu certo para a empresa. Na época, o governo mudou a lei e determinou que a estatal seria a operadora única do pré-sal e que teria no mínimo de 30% de todos os blocos exploratório.

    "Deixa claro que o governo precisa rever a política de óleo e gás no Brasil. A Petrobras enfrenta o desafio de reduzir dívida e aumentar sua liquidez. Não dá para fazer isso com a empresa do tamanho que estava. A empresa não estava dando conta", disse.

    Pires citou também a questão do congelamento dos preços da gasolina no país, que não acompanhou altas no passado do preço do petróleo. A disparidade de preço entre o combustível comprado no exterior pela petroleira e o vendido no Brasil consumiu parte do caixa da empresa nos últimos anos. "Nesse ano não deve ter altas nos combustíveis, por conta da inflação e também da popularidade baixa do governo".

    Ele considerou como importante o foco na exploração e o desinvestimento maior nas áreas de refino e distribuição. Pires afirmou que o plano de desinvestimento precisa ser melhor detalhado para que o mercado saiba exatamente o que está sendo posto à venda.

    "A empresa poderia se concentrar na produção, que dá o maior rendimento, e liberar, por meio de venda de ativos, refinarias, terminais e dutos para a iniciativa privada".

    Folhainvest

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