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    Bolsa tem maior queda diária em um mês com aproximação do calote grego

    ANDERSON FIGO
    DE SÃO PAULO

    29/06/2015 18h06

    A tensão causada pela falta de acordo entre Grécia e seus credores internacionais para evitar o calote de uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional) na terça-feira (30) derreteu os mercados de ações globais nesta segunda-feira (29).

    O principal índice de ações brasileiro, o Ibovespa, teve perda de 1,86%, para 53.014 pontos. Foi a maior queda diária do índice desde 29 de maio, quando cedeu 2,25%. O volume financeiro foi de R$ 5,087 bilhões.

    No exterior, as Bolsas de Nova York mostraram baixas de mais de 1,9%. Na Europa, os principais índices acionários também caíram mais de 1,9%, puxados pelos mercados de Milão (-5,17%), Lisboa (-4,76%), Madri (-4,56%), Paris (-3,74%) e Frankfurt (-3,56%).

    A preocupação dos investidores, segundo analistas, é que a Grécia deixe a zona do euro e que o mesmo possa acontecer com outras economias "frágeis" do bloco, como Portugal, Espanha e Itália, caso a crise econômica nestes países se agrave.

    "Nunca houve a saída de alguma economia do bloco, por isso o receio de que a saída da Grécia possa abrir portas para outras situações desse tipo", disse João Pedro Brügger, analista da Leme Investimentos. "Apesar de os governos, bancos e outras grandes empresas privadas já terem reduzido bastante sua exposição a ativos gregos, ninguém sabe ao certo o impacto que uma saída [de um país da zona do euro] teria sobre os demais mercados."

    A agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou a nota da Grécia para "CCC-" nesta segunda-feira, ante "CCC", dizendo que a probabilidade de o país deixar a zona do euro está agora em cerca de 50%.

    Em meio a negociações emperradas com seus credores, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras convocou um plebiscito para decidir no próximo domingo (5) se o país aceita as exigências para ter liberadas verbas que permitiriam o pagamento da dívida com o FMI.

    Os bancos gregos amanheceram fechados nesta segunda-feira e houve um anúncio de controles de capital no país –medidas para evitar que haja saques em massa de recursos dos bancos, diante do receio de saída da Grécia da zona do euro, o que agravaria a situação da economia do país.

    O economista Marco Maciel, da Fator Corretora, disse que um calote grego provocaria o aumento dos prêmios de risco em ativos de renda fixa da Grécia, países periféricos ou com elevadas relações dívida/PIB na zona do euro (Portugal, Espanha e Itália) e em economias credoras mais frágeis da dívida pública grega –como a Turquia.

    Assim, o resultado seria a desvalorização do euro, do real e de uma cesta de moedas em relação ao dólar americano, além da queda nos rendimentos dos títulos públicos dos EUA de dois a dez anos, segundo Maciel.

    "Portanto, para a já difícil vida do risco brasileiro não ficar mais complicada ainda, resta torcer pela prevalência do bom senso e contar com a ajuda até da mitologia grega na solução de uma equação que envolve ajuste e sacrifício."

    PLANO DE NEGÓCIOS

    Internamente, o mercado repercutiu o anúncio de corte de investimentos pela Petrobras, que está altamente endividada, nos próximos anos. A medida chegou a ser recebida com otimismo logo após a abertura dos mercados, com as ações da estatal atingindo alta de mais de 2%, mas o ânimo perdeu força e os papéis passaram a cair.

    As ações preferenciais da companhia, mais negociadas e sem direito a voto, fecharam o dia em queda de 3,48%, para R$ 12,75 cada uma. Já as ordinárias, com direito a voto, mostraram recuo de 4,10%, para R$ 14,05.

    De acordo com o plano de negócios da Petrobras para o período de 2015 a 2019, divulgado nesta segunda, a estatal vai cortar investimentos e colocar à venda US$ 42,6 bilhões em ativos nos próximos cinco anos. A redução dos investimentos será de 37% em relação ao planejamento anterior, para o período de 2014 a 2018.

    As avaliações de analistas foram positivas, uma vez que a Petrobras vê o custo de sua dívida encarecer, seja por conta da alta do dólar (a maior parte da dívida da empresa está em moeda estrangeira) ou pelo aumento da percepção do risco da empresa pelas instituições financeiras no exterior, o que faz subir a taxa de juros de dívidas contraídas fora do Brasil.

    "Foi um corte próximo ao nível máximo que o mercado estava especulando. Os ativos que foram colocados à venda também animaram, porque vão permitir que a empresa foque em áreas mais rentáveis. É lógico que o trabalho para recuperar a saúde financeira da companhia será grande, mas esse é um bom começo", afirmou Brügger.

    Segundo o analista, o forte avanço dos papéis da Petrobras nos últimos meses, diante da expectativa positiva pelo corte em investimentos, pode ter colaborado para a ligeira correção nesta segunda. "Agora, as cotações tendem a se estabilizar, com os investidores à espera de resultados efetivos das medidas tomadas pela empresa", disse Brügger. Apenas em abril, as ações preferenciais da companhia subiram 34,12%.

    PAPÉIS

    Apenas dez das 66 ações do Ibovespa fecharam no azul ou estáveis. Os ganhos foram puxados por Natura (+1,41%), Marfrig (+0,71%) e Gerdau (+0,65%).

    Além da Petrobras, a Vale também teve expressiva desvalorização, diante da queda nos preços do minério de ferro da China. O país asiático é o principal destino das exportações da mineradora brasileira. A preocupação com o crescimento da economia chinesa também pressionou os papéis da mineradora.

    Surpreendendo o mercado, o Banco Central do Povo da China cortou no sábado (27) as duas taxas de referência da economia e o montante de reserva de depósito de alguns bancos, em nova tentativa do governo de alcançar o crescimento em torno de 7% para 2015. As ações preferenciais da Vale desvalorizaram-se 2,69%, para R$ 16,25. As ordinárias caíram 2,14%, a R$ 19,20 cada uma.

    O setor bancário, segmento com maior participação dentro do Ibovespa, também empurrou o índice para baixo. Fecharam no vermelho o Itaú Unibanco (-1,27%), o Bradesco (-2,20%), o BB (-2,86%) e o Santander (-2,53%).

    DÓLAR EM ALTA

    O clima de aversão ao risco generalizado elevou a procura por aplicações consideradas mais seguras, como a moeda americana, o que motivou o fortalecimento do dólar em relação às principais divisas globais nesta segunda-feira.

    A tensão causada pela crise grega, porém, foi amenizada, segundo operadores, pela briga para a formação da Ptax (taxa média de câmbio calculada diariamente pelo Banco Central, cujo valor no último dia útil de cada mês serve como referência para contratos no mercado financeiro) e pela expectativa de entrada de mais recursos no Brasil, diante do aumento de juros no país.

    O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve leve valorização de 0,12% sobre o real, cotado em R$ 3,128 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, recuou 0,28%, para R$ 3,119. Mais cedo, a cotação da moeda americana chegou a bater R$ 3,152.

    Entre as 24 principais moedas emergentes do mundo, o dólar subiu em relação a 14 delas. Já entre as dez mais importantes divisas globais, o dólar mostrou recuo ante oito.

    As atuações do Banco Central do Brasil no câmbio continuaram sendo observadas pelo mercado, após a autoridade monetária ter reduzido ao longo do mês suas intervenções através da rolagem de contratos de swap cambial (operação que equivale a venda futura de dólares).

    Na quarta-feira (17), o BC anunciou que passaria a fazer leilão de até 5.200 swaps cambiais diários para estender o vencimento do lote de contratos que vence em julho. Na semana anterior, a autoridade monetária vinha ofertando até 6.300 papéis por dia e, antes disso, até 7.000. Nesta segunda-feira, o BC vendeu todos os 5.200 swaps oferecidos na rolagem, por US$ 253,9 milhões.

    Folhainvest

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