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    Potências europeias querem derrubar governo grego, diz economista

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    02/07/2015 15h50

    Sipa/Associated Press
    O economista e especialista em políticas públicas James K. Galbraith
    O economista e especialista em políticas públicas James K. Galbraith

    James Galbraith fala diariamente com Yanis Varoufakis, ministro grego das finanças. Seu diagnóstico é contundente: as potências europeias querem derrubar o governo da Grécia, que não aceita implantar mais medidas de austeridade, e substituí-lo por um comando mais complacente.

    Professor da Universidade do Texas em Austin (EUA) e autor de "The End of Normal", o norte-americano elaborou com o colega grego um novo projeto de "New Deal" para a Europa.

    Descartando a saída grega do euro, ele defende o "Não" no plebiscito do próximo domingo. "A independência do país está em jogo", diz.

    Para Galbraith, 63, o atual momento lembra o que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, em agosto de 1914, e o Tratado de Versalhes, de 1919. "A política vingativa das potências em relação à Grécia vai envenenar toda uma geração contra a Europa", afirma.

    Veja abaixo entrevista concedida por Galbraith à Folha.

    12 pontos para entender a crise grega

    Entenda a crise grega

    *

    Folha — Quais são as possíveis consequências da atual crise na Grécia?

    James Galbraith — Nesse momento, as potências europeias estão esmagando Grécia de todas as maneiras possíveis. Claramente, elas pretendem derrubar o governo eleito da Grécia e substituí-lo por um governo mais complacente.

    Qual deve ser o voto no próximo domingo? Se você fosse grego, como o sr. votaria?

    Eu certamente votaria "Não". A independência política do país está em jogo.

    A Grécia deve sair do euro?

    Não. Não há nenhum mecanismo legal que possa forçar a Grécia a sair, e o país não vai deixar voluntariamente o euro sob este governo.

    Quais seriam as consequências políticas e econômicas de uma saída da Grécia do euro?

    As consequências da política vingativa das potências europeias em relação à Grécia serão muito graves. Ela vai envenenar toda uma geração contra a Europa e encorajar partidos anti-europeus. Incluindo, especialmente, a Frente Nacional, na França.

    Em qual dimensão essa crise pode afetar o projeto de Europa?

    A liderança europeia parece inclinada a sacrificar a Europa para o seu próprio projeto de controle político e financeiro.

    Como o sistema bancário europeu deve reagir a esta crise? Há risco de quebras?

    O Banco Central Europeu pode lidar com o sistema bancário e poderia também ter protegido os bancos gregos se não se guiasse por forças políticas para destruí-los.

    Há paralelos entre a situação grega atual e Argentina no início do século 21?

    Possivelmente.

    Há paralelos entre a situação atual e a que antecedeu a Primeira Guerra Mundial?

    Certamente. O momento lembra agosto de 1914, quando a Europa tombou em uma guerra destrutiva. Também se assemelha à "Paz cartaginesa" de 1919, quando o Tratado de Versalhes impediu a criação de uma solução de paz justa e durável, exigindo o pagamento de dívidas impagáveis pela Alemanha.

    Grécia

    Por que as alegações de que a Grécia é "preguiçosa" e "perdulária" estão erradas?

    São estereótipos racistas, vis e condenáveis como são todos os estereótipos racistas.

    Qual é o papel do sistema financeiro na crise grega?

    Não há "crise grega". É uma crise da Europa e uma consequência da crise financeira global. É claro que o sistema financeiro tem desempenhado um papel central.

    Nas causas da crise, é correto afirmar que a dívida privada grega se transformou em pública e que houve fraude de bancos?

    A dívida grega, em grande parte para bancos franceses e alemães, foi assumida em 2010 pelos outros Estados europeus, o BCE e o FMI, a fim de resgatar esses bancos. A Grécia não obteve nenhum benefício dessa operação. Os bancos, que fizeram empréstimos terríveis, não tiveram perdas e escaparam.

    Diretores não-europeus do FMI objetaram e previram que poderia ser um desastre.

    Com Yanis Varoufakis [ministro grego], o sr. defendeu um novo modelo de desenvolvimento para o continente. Como seria este modelo? O sr. tem falado com ele?

    Estamos em comunicação todos os dias. Estou orgulhoso de estar com Yanis Varoufakis que é, a meu ver, uma das pessoas mais extraordinárias que tive o privilégio de conhecer.

    Qual é a sua avaliação do desempenho do governo grego e das instituições europeias nesta crise?

    Nenhum governo lida com tudo perfeitamente. Mas o governo grego tem tido uma posição honesta. As instituições europeias (e o FMI) têm um comportando que a história julgará.

    Como explicar a posição da Alemanha no caso? O país não é o maior beneficiário do euro e não deverá perder muito se o projeto fracassar?

    A Alemanha, a França e os países do Norte europeu são comandados por lideranças com visão tacanha, mais interessadas em se manter no poder e avançar em suas ambições políticas.

    A Grécia deveria buscar apoio na Rússia ou na China?

    Não há esperança razoável para afirmar que isso iria funcionar.

    arte

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