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    ANÁLISE

    Na Grécia, conflito político se agrava e economia para

    VINICIUS TORRES FREIRE
    COLUNISTA DA FOLHA

    06/07/2015 02h00

    O colapso da Grécia pode começar hoje, caso o BCE (Banco Central Europeu) desligue os aparelhos que mantêm vivos os bancos gregos. Pode ser que a indefinição se arraste até dia 20, quando o governo grego deve pagar € 3,5 bilhões que não tem ao BCE. Discutia-se ontem até uma "saída organizada" da Grécia, com ajuda humanitária e auxílio financeiro temporário a bancos e governo.

    Mas ninguém sabe como abrir fresta mínima no beco sem saída onde estão o governo de esquerda do Syriza e a União Europeia. As posições políticas se tornaram mais extremadas e a situação econômica muito mais grave nos últimos dez dias, desde a convocação do plebiscito que deu talvez vitória de Pirro ao premiê Alexis Tsipras.

    Sem dinheiro extra do BCE, os bancos gregos não podem reabrir. Sem o crédito ainda restante, estarão quebrados, a não ser que o governo grego tome medidas heróicas para evitar o desastre imediato: confisco parcial de depósitos dos clientes e/ou injeção de dinheiro grego (que não pode criar euros), com o que a Grécia estaria logo fora da zona do euro.

    Caso a Grécia não pague o que lhe deve no dia 20, em termos apenas técnicos o BCE não pode mais dar crédito à banca grega. Fim.

    Parecia ontem mais provável que o BCE não adotaria decisão drástica em sua reunião marcada para hoje. Esperaria decisão política, praticamente nas mãos de Angela Merkel, chanceler alemã, que se encontra hoje com o presidente francês, François Hollande (aliado restante da Grécia, com os italianos).

    Porém, no final de semana, a elite política e econômica da Alemanha deixou claro que a Grécia deve sair, a não ser que se renda ao pacote econômico rejeitado faz dez dias. Quase todos os ministros de finanças europeus ainda defendem um ultimato.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Tsipras disse ontem que vai negociar, mas que nenhum acordo será possível sem perdão de dívida e empréstimo novo, recomendado até pelos economistas do FMI, na sexta-feira (3). Mas, no curto prazo, um talho na dívida grega não é o maior dos problemas.

    Aceitar acordo nos termos da União Europeia implica aceitar recessão adicional e abandono do programa do Syriza. Isto é, aceitar mais sofrimento e, em tese, derrota política ou racha partidário. Tsipras recorreu ao plebiscito também porque a ala esquerda do Syriza rejeitaria o acordo com os credores.

    Do lado da União Europeia, render-se ao Syriza não faz sentido. O impasse se deveu, do ponto de vista político, à decisão da elite europeia de matar no nascedouro movimentos "antiausteridade" e "antiestablishment" europeu.

    Isto é, tratava-se de evitar que partidos de esquerda pela Europa se inspirassem em um vitória do Syriza nas negociações. Mais: de evitar revoltas contra os partidos de centro que dominam os governos dos países da eurozona (por "bancar os gregos malandros"); de evitar o fortalecimento de partidos antieuropa em si ou antieuropa tecnocrática.

    Ainda que se negocie, a Grécia segue desmoronando. Ontem de noite, reunião de emergência tratava dos bancos, que estão ficando mesmo sem cédulas, para não dizer fundo bastante, para os saques de € 60 por dia, por cabeça. A Grécia está parando.

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