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    Ministro das Finanças grego deixa cargo para facilitar negociações

    FERNANDA GODOY
    ENVIADA ESPECIAL A ATENAS

    06/07/2015 03h03

    O ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, 55, renunciou ao cargo na manhã desta segunda, com o objetivo de facilitar as negociações de um terceiro pacote de resgate com os líderes da União Europeia.

    O anúncio, feito no blog de Varoufakis, veio pouco mais de 12 horas após o encerramento da votação no plebiscito em que 61% dos eleitores disseram não a mais medidas de austeridade fiscal, como aumento do imposto sobre o consumo.

    A substituição de Varoufakis parece ser o primeiro movimento do governo grego no tabuleiro das negociações que se reiniciam nesta semana sob intensa pressão.

    Sem nova ajuda do Banco Central Europeu (BCE), os bancos gregos podem ver suas reservas evaporarem em poucas horas se as agências reabrirem nesta terça. Informações extra-oficiais colocam essas reservas agora em € 500 milhões, ou cerca de € 45 por cabeça, neste país de 11 milhões de habitantes.

    O BCE se reúne nesta segunda para decidir se estenderá a assistência emergencial de liquidez (ELA, na sigla em inglês) aos bancos gregos. O BCE já injetou € 89 bilhões no sistema bancário da Grécia, mas a assistência foi suspensa na semana passada.

    Desde a segunda-feira, 29, os gregos só podem sacar € 60 por dia dos caixas automáticos. Os bancos foram fechados, e reabriram apenas para o pagamento de pensões de aposentados, com saques limitados a € 120 semanais.

    Grécia

    Nesta segunda, as filas cresceram diante dos caixas automáticos, onde os gregos aceitaram com resignação e alívio a saída de Varoufakis. O agora ex-ministro é uma figura controvertida na Grécia, mas até seus apoiadores acreditam que a saída do temperamental economista será positiva.

    A demissão de Varoufakis deve facilitar a retomada das negociações com os líderes dos demais 18 países que integram a zona do euro. De estilo desafiador, Varoufakis ganhou a inimizade dos negociadores alemães.

    A chanceler alemã, Angela Merkel, estará em Paris na noite desta segunda para um encontro com o presidente da França, François Hollande, na véspera da reunião do Eurogrupo.

    O ministro da Economia da França, Michel Sapin, disse que o governo grego deve apresentar novas propostas o mais rapidamente possível. O ministro das Finanças da Espanha, Luis de Guindos, afirmou que a economia da Grécia precisa voltar a crescer e, para isso, são necessárias reformas.

    Varoufakis afirmou em seu blog que havia tomado conhecimento da "preferência de certos membros do Eurogrupo e parceiros variados" por sua ausência nas negociações. Segundo ele, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, concordou com a ideia de que sua saída seria potencialmente benéfica para que se chegasse a um acordo.

    "Considero meu dever ajudar Alexis Tsipras a explorar, como ele considere melhor, o capital que o povo grego nos concedeu no referendo", disse Varoufakis.

    Ele havia anunciado que renunciaria em caso de derrota no plebiscito, mas a saída após uma vitória política contundente causou surpresa.

    Economista marxista e especialista em teoria dos jogos, Varoufakis jogou duro contra a "troica" formada pelo BCE, pela Comissão Europeia e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) desde sua nomeação, em 27 de janeiro, com a vitória do Syriza.

    O principal motivo de irritação dos dirigentes do Eurogrupo durante as negociações interrompidas há dez dias, quando o primeiro-ministro Tsipras convocou o plebiscito, teria sido a insistência de Varoufakis em um acordo para o perdão de parte da dívida grega.

    Em seu discurso na noite de domingo, após a vitória, Tsipras adotou tom conciliatório, prometendo a retomada das negociações, mas voltou a falar que será necessária a redução da dívida, que já atingiu 177% do PIB do país.

    A posição do governo grego foi reforçada pela divulgação de relatório do FMI na semana passada afirmando que a dívida grega não tem sustentabilidade.

    Espera-se que agora Tsipras nomeie uma equipe econômica com perfil menos controvertido, tentando avançar rapidamente na construção de um acordo que permita à Grécia continuar na zona do euro.

    Tsipras se reuniu pela manhã com os líderes de todos os partidos no Parlamento para buscar uma solução de consenso.

    BOLSAS

    Os mercados operavam em baixa nesta segunda. O euro, no entanto, registrava alta após o anúncio do pedido de demissão de Varoufakis, cotado a US$ 1,108.

    A Bolsa de Paris operava em baixa de 2,06%, Madri perdia 2,41%, Frankfurt estava em queda de 2,11% e Milão de quase 3%. Londres operava em queda de 1,07%.

    Na Ásia, a Bolsa de Tóquio fechou em baixa de 2,08%, Seul perdeu 2,40% e Hong Kong registrou forte queda de 3,18%.

    Na Oceania, Sydney caiu 1,14% e Wellington 1,10%.

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