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    Grécia pede à União Europeia novo resgate financeiro e promete reformas

    FERNANDA GODOY
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM ATENAS

    08/07/2015 08h01

    O governo da Grécia apresentou formalmente nesta quarta (8) o pedido de um terceiro pacote de resgate à União Europeia, com duração de três anos. O pedido terá que ser detalhado até sexta-feira, mas na carta já são delineados compromissos com aumentos de impostos e com reforma previdenciária a serem implementados imediatamente.

    A ajuda seria concedida por meio do Mecanismo de Estabilidade Europeu, criado em 2012 para assegurar a estabilidade da zona do euro. O pedido inicial não contém uma cifra, mas estima-se que seria de cerca de € 50 bilhões.

    Os ministros do Eurogrupo (integrado pelos 19 países da zona no euro) começaram a analisar o pedido, mas esperam o detalhamento para fazer uma avaliação profunda no sábado, em Bruxelas. Uma cúpula dos chefes de Estado e governo de todos os 28 países da União Europeia foi convocada para domingo (12).

    As Mais: 12 pontos para entender a crise grega

    O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, pediu que o resgate represente "uma luz no fim do túnel" para seu país, em discurso diante do Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), na manhã desta quarta.

    O discurso de Tsipras teve um tom político antiausteridade, respaldado pelo resultado do plebiscito de domingo, no qual 61% dos gregos disseram "não" a novas medidas que possam aprofundar a recessão.

    A economia grega encolheu 25% nos últimos cinco anos, desde que começaram os programas de resgate.

    Tsipras, que está no poder desde janeiro, disse que a Grécia foi convertida em um "laboratório de austeridade". Segundo ele, a experiência não foi bem-sucedida e exauriu a capacidade de resistência do povo grego.

    "Nos últimos cinco anos, vimos uma explosão da pobreza e do desemprego, a marginalização social aumentou, assim como a dívida pública, que é agora de 180% do PIB grego",disse Tsipras.

    O líder do partido de esquerda Syriza foi enfático ao afirmar que a Grécia precisa de uma agenda para o crescimento. "Queremos um acordo com nossos sócios que nos dê um sinal de que estamos saindo da crise, de que há uma luz no fim do túnel", disse o premiê.

    Tsipras prometeu apresentar em dois dias as propostas de reformas que os líderes da UE exigem, mas não deu pistas sobre quais medidas serão colocadas no papel.

    A imprensa grega especula que ele pode aceitar aumentos de impostos, mas resiste a uma reforma previdenciária profunda e a aprofundar os cortes no orçamento militar.

    Tsipras disse ainda que é preciso discutir a sustentabilidade da dívida grega, e que "não pode haver assuntos tabu", em um recado à chanceler alemã, Angela Merkel, que se nega a discutir a reestruturação da dívida grega antes que um novo acordo seja firmado.

    Outros governos europeus, como os da França e da Itália, são mais receptivos a esse tema. Mas, ao fim da reunião do Eurogrupo desta terça, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, descartou a possibilidade de essa discussão ser aberta antes de outubro.

    Dos mais de € 329 bilhões que foram emprestados à Grécia nos últimos anos, € 194 bilhões são devidos ao Eurogrupo.

    Tsipras disse que o dinheiro emprestado foi destinado ao resgate de bancos e não trouxe benefícios para a maior parte da população.

    "Esse dinheiro foi dado para salvar os bancos gregos e europeus. Nunca chegou ao cidadão grego comum", disse Tsipras.

    Ao final do discurso, o premiê disse que, apesar das críticas aos credores, ele não põe a culpa dos problemas gregos nos "estrangeiros malvados". Tsipras afirmou que a Grécia "chegou às portas da bancarrota porque durante muitos anos os governos gregos têm sido clientelistas e corruptos, têm permitido a evasão fiscal".

    Ele disse que as reformas implementadas até agora não aumentaram a capacidade de arrecadação nem melhoraram a eficiência do Estado grego, e prometeu apresentar medidas que "mudarão a face do país".

    Grécia

    ENTENDA A CRISE GREGA

    1. Qual a razão da crise?

    A economia grega, já pouco competitiva, foi abalada pela crise de 2008. No final de 2009, descobriu-se que o país maquiava suas contas e tinha uma dívida maior, o que agravou a sua situação

    2. Por que o país negocia com UE e FMI?

    Com a descoberta das fraudes, o país ficou sem dinheiro e sem crédito e foi obrigado a recorrer à UE e ao FMI, que impuseram cortes de gastos públicos e reformas econômicas. Houve demissões, aumento de impostos e redução de salários e pensões, detonando protestos e greves gerais

    3. O que mudou com o novo governo?

    A economia grega encolheu 25% nos últimos cinco anos, desde que começaram os programas de resgate.

    O atual governo, do partido esquerdista Syriza, foi eleito com um discurso antiausteridade.

    Os credores se recusaram a liberar mais recursos sem que a Grécia se comprometesse com mais cortes e mais impostos.

    4. Qual o tamanho da dívida?

    São € 320 bilhões, ou quase 180% do PIB. No dia 30 de junho, o país deu calote de € 1,6 bilhão no FMI. Em julho e agosto, a Grécia terá que pagar € 6,7 bilhões ao BCE

    5. O que a Grécia pediu nesta quarta?

    Um terceiro pacote de socorro, que deve chegar a € 50 bilhões. Em troca, diz que adotará medidas de austeridade, ainda não detalhadas

    6. O que querem os credores?

    As negociações estão suspensas até domingo. Em rodadas anteriores, pediam aumento na arrecadação, fim de subsídio fiscal às ilhas, corte em gastos militares e na Previdência

    7. Criar uma nova moeda seria a solução?

    Traria risco de hiperinflação, desabastecimento, incentivo ao mercado negro e empobrecimento do país.

    A Grécia seria forçada a sair da zona do euro –e, até mesmo da UE, reduzindo a confiança na união monetária do continente

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