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    Preocupação com China leva dólar a R$ 3,23, maior valor em três meses

    DE SÃO PAULO

    08/07/2015 17h50

    Sam Yeh/AFP
    Homem analisa gráfico de ações em Bolsa asiática
    Homem analisa gráfico de ações em Bolsa asiática

    A queda de mais de 30% do mercado acionário chinês desde o pico de junho reforçou dúvidas sobre o rumo da segunda maior economia do mundo e principal destino das exportações brasileiras, fazendo o dólar fechar esta quarta-feira (8) em alta sobre o real, para o maior valor desde março.

    O avanço, porém, foi amenizado pela ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos). O documento indicou que a autoridade americana precisa ver mais sinais de fortalecimento da economia antes de elevar os juros naquele país.

    O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 1,27% sobre o real, cotado em R$ 3,229 na venda –o maior valor desde 30 de março, quando a moeda americana valia R$ 3,246. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,53%, a R$ 3,233.

    Após atingirem a maior alta em sete anos há cerca de um mês, as ações chinesas têm sofrido uma estrondosa queda, gerada por restrições ao empréstimo de dinheiro para a compra de ações em resposta a preocupações quanto a uma bolha. As ações já perderam US$ 3 trilhões em valor.

    Pequim, que vem lutando há mais de uma semana para dobrar o mercado, lançou mais uma saraivada de medidas para interromper a venda generalizada, e o banco central disse que aumentará o suporte para corretoras listadas para sustentar as ações.

    O preço do minério, segundo mais importante produto da pauta de exportação brasileira, despencou 11% nesta quarta-feira, para uma mínima desde 2009. Entre janeiro e junho, a receita do Brasil com as exportações de minério de ferro para a China desabou 49%. Isso afeta os termos de troca e acaba exercendo pressão por mais desvalorização cambial.

    "Não é uma reação exagerada", disse João Pedro Brügger, analista da Leme Investimentos. "Uma desaceleração da economia chinesa vai ter impacto muito forte sobre os preços das commodities e isso afetará negativamente vários países, principalmente o Brasil", completou.

    Para o Credit Suisse, um dos principais efeitos negativos do movimento na China é provavelmente o nível de confiança. O banco notou que o governo tem sido incapaz de dar suporte ao mercado de ações e por isso há dúvidas sobre sua capacidade de controlar a economia.

    Em nota a clientes, estrategistas do Credit Suisse também chamaram atenção sobre o risco das últimas medidas, como a proibição de ofertas primárias de ações (IPOs, na sigla em inglês), representarem um retrocesso nas reformas pró-mercado.

    LEILÕES

    A avaliação de operadores é que a redução das atuações do Banco Central do Brasil no câmbio pode pressionar ainda mais a cotação da moeda americana para cima, especialmente porque o mercado já começa a prever quando se encerrará o ciclo de aumento dos juros no país.

    Uma taxa de juros maior tende a atrair mais estrangeiros ao mercado brasileiro, em busca de retornos mais atraentes, ampliando a oferta de dólares no Brasil e, assim, reduzindo a pressão sobre o preço da divisa –mesmo que seja um movimento apenas de curto prazo, segundo analistas.

    Nesta quarta-feira, o BC deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em agosto –operação que equivale a uma venda futura de dólares para estender o prazo de contratos. A oferta de 6 mil papéis foi integralmente vendida, por US$ 292 milhões. Nos primeiros leilões deste mês, haviam sido ofertados até 7,1 mil swaps.

    Mantendo a oferta de até 6 mil contratos por dia até o penúltimo dia útil do mês, o BC rolará o equivalente a US$ 6,396 bilhões ao todo, ou cerca de 60% do lote total. Se continuasse com as ofertas anteriores, a rolagem seria de 70%, como a do mês anterior.

    BOLSA EM QUEDA

    No mercado acionário, o principal índice da Bolsa brasileira acompanhou a queda dos mercados de ações nos Estados Unidos e fechou no vermelho nesta quarta-feira. A desvalorização de bancos, Petrobras e Vale sustentou a perda do indicador.

    "A paralisação da NYSE afetou o Ibovespa porque trouxe uma volatilidade adicional ao mercado na parte da tarde", disse Brügger. "Com o quadro externo desfavorável, o estrangeiro realiza lucro [vende ações compradas por um preço mais baixo que o atual] nas Bolsas emergentes. Metade do mercado brasileiro é representada por estrangeiros."

    O movimento de realização de lucros, segundo analistas, também pode ter sido gerado pelo feriado da Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo nesta quinta-feira (9), que vai manter a BM&FBovespa fechada.

    No exterior, a Bolsa de Nova York suspendeu as negociações de todos os seus ativos financeiros por volta de 11h32 no horário local (12h32 em Brasília) desta quarta devido a "problemas técnicos". As ações listadas na NYSE continuaram sendo negociadas em outros mercados. A situação na NYSE só foi normalizada às 15h10 no horário local (16h10 em Brasília).

    O Ibovespa cedeu 1,07%, para 51.781 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,720 bilhões. As ações preferenciais (mais negociadas e sem direito a voto) da Petrobras e da Vale recuaram 1,95% e 4,03%, respectivamente, para R$ 11,55 e R$ 14,54.

    Entre os bancos, setor com a maior representatividade dentro do Ibovespa, fecharam no vermelho o Itaú Unibanco (-1,15%), o Bradesco (-1,79%), o Santander (-1,62%). O Banco do Brasil teve baixa de 1,11%.

    Além do quadro chinês, a crise grega continuou sendo monitorada pelo mercado. O governo da Grécia apresentou formalmente o pedido de um terceiro pacote de resgate pelo Mecanismo de Estabilidade Europeu nesta quarta, que terá de ser complementado com uma proposta detalhada de reformas da economia do país, a ser apresentada em no máximo dois dias.

    Com agências de notícias

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