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    Indústrias siderúrgicas russas se aproveitam do rublo fraco

    ANDREW E. KRAMER
    DO 'NEW YORK TIMES'
    EM CHEREPOVETS, RÚSSIA

    11/07/2015 02h00

    Os robustos trabalhadores da siderúrgica desta cinzenta cidade industrial usam à vontade os serviços gratuitos no spa da companhia, na mesma rua.

    Trinta massagistas cuidam de costas e músculos doloridos. O cardápio do spa Rudnik (a Fonte) inclui banhos minerais quentes, imersão em lama, acupuntura e sauna -tudo servido com chás orgânicos para diminuir a tensão.

    A vida é boa para os funcionários da aciaria Severstal.

    Assim como os benefícios do spa, a Severstal cobre o custo das férias em Sochi, no mar Negro. Um dentista da empresa oferece duas obturações grátis por ano. Os trabalhadores também tiveram 8% de aumento nos salários neste ano, além dos bônus.

    "Parece que houve uma crise", disse Andrei Meledin, que trabalha em uma linha de produção. "Mas aqui nós não a sentimos."

    Enquanto o resto da Rússia se retranca diante da recessão, as companhias de aço como a Severstal estão florescentes. No primeiro trimestre, a empresa teve lucros de US$ 343 milhões, depois de relatar prejuízos no mesmo período do ano passado.

    A queda dos preços do petróleo, o aumento das tensões geopolíticas e as sanções ocidentais causaram um extenso turbilhão na economia russa. O Banco Mundial calcula que ela encolherá 2,7% neste ano.

    Porém, essas mesmas condições se mostraram extraordinariamente favoráveis a companhias de matérias-primas russas, especialmente nos setores de aço e química.

    Tais empresas, que não foram atingidas pelas sanções, estão se beneficiando do rublo fraco. Elas têm custos significativos de matérias-primas e mão de obra, que são cotadas em rublos. Seus produtos, porém, são vendidos nos mercados globais com preços geralmente definidos em dólares.

    Enquanto o rublo se recuperou um pouco nos últimos meses, ainda está cerca de 39% abaixo de seu pico no ano passado. O Banco Central russo tenta manter um limite para o valor do rublo, o que beneficia o lucro das empresas.

    A Rússia funde cerca de 75 milhões de toneladas de aço de baixo custo por ano, das quais 30 milhões são exportadas. Como um bolsão inesperado de força na economia russa, o aço está ajudando o país a suportar o ataque das sanções ocidentais, trazendo ganhos para investidores que entraram no mercado neste inverno. As ações da Mechel, companhia de aço e carvão russa, subiram mais de 80% desde o início do ano, tornando-a uma das ações de melhor desempenho no mundo.

    Os preços das ações de cerca de uma dúzia de outras companhias de exportação de matérias-primas (fora petróleo) também dispararam neste ano, levando a uma alta geral de 19% no índice Morgan Stanley de ações russas.

    "Nós temos tudo" na indústria de aço russa, disse Vladimir Zaluzhsky, diretor de relações com investidores da Severstal, sobre os benefícios de uma moeda fraca e preços globais ainda relativamente fortes do aço.

    O sucesso do aço reflete o efeito esparso das sanções sobre a economia russa. Certas indústrias não são afetadas pelas restrições, enquanto outras titubeiam.

    Estranhamente, as sanções atingem duramente comunidades com um histórico de oposição política ao presidente Vladimir Putin, como a classe média urbana de Moscou, que sofre os efeitos da inflação. As restrições não atingiram os principais apoiadores de Putin em algumas cidades mineiras e industriais, mas greves e protestos econômicos irromperam em outras.

    A dinâmica da indústria, porém, mudou. Enquanto o crescimento da China caiu ligeiramente, as marolas foram sentidas no setor. No primeiro trimestre deste ano, os preços globais de um dos principais tipos de aço que a Severstal forja, as bobinas laminadas a quente, caíram de cerca de US$ 400 a tonelada para US$ 320, ou cerca de 20%. Porém, os custos para a Severstal e outras companhias russas caíram ainda mais, junto com o rublo.

    Para se concentrar nas operações russas com a melhora das condições para as siderúrgicas do país, a Severstal vendeu no último verão uma usina que tinha adquirido há uma década em Michigan (EUA). A companhia está investindo dezenas de milhões de dólares para reformar fornalhas na Rússia.

    Os empregados da usina daqui disseram que não sentiram a mordida das sanções, como muitos russos sentiram.

    "Nós fazemos aço, e fazemos muito", disse Nikolai Vaulin, operário da aciaria, enquanto relaxava no spa. "Por isso ganhamos muito dinheiro. E parte dele acaba aqui." Acrescentou: "Puxa, como isto é bom!"

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