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    Crise no setor canavieiro provoca fechamento de usinas e demissões

    MARCELO TOLEDO
    DE RIBEIRÃO PRETO

    13/07/2015 17h32

    Joel Silva - 15.jul.2014/Folhapress
    Vista da usina Albertina, no distrito de Cruz das Posses, em Sertãozinho, que foi desativada
    Vista da usina Albertina, no distrito de Cruz das Posses, em Sertãozinho, que foi desativada

    Crise na economia brasileira, excesso de açúcar no mundo e custo de produção superior ao valor de venda. Esse conjunto de problemas nos meses iniciais da safra de cana-de-açúcar confirmou a previsão pessimista feita pelo setor sucroenergético para a safra 2015/16 e já resultou no fechamento de usinas, em demissões e pedidos de recuperação judicial.

    A Usina Albertina, em Sertãozinho (noroeste de São Paulo), teve falência decretada, após seis anos de recuperação judicial. Na mesma região, a Usina Ibirá, de Santa Rosa de Viterbo, interrompeu as atividades. No Triângulo Mineiro, outras duas usinas foram fechadas e há uma com as atividades suspensas. Já em Rio Verde (GO), uma usina entrou em recuperação judicial.

    Uma das explicações para o problema, segundo diretores de usinas ouvidos pela Folha e especialistas, é a baixa remuneração do açúcar e do etanol, frente a custos de mão de obra que crescem cerca de 10% ao ano. Isso deixou o setor sem recursos financeiros.

    Para o diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), Antonio de Padua Rodrigues, resta aos produtores processar a cana e colher, até pensando nas próximas safras, independentemente do cenário atual.

    "Não tem o que fazer, tem é que enfrentar esses problemas. É preciso processar e colher, caso contrário no ano que vem não haverá canavial a ser colhido", afirmou.

    MAIS FECHAMENTOS

    Segundo ele, o fechamento de usinas e pedidos de recuperação judicial ainda persistirão no decorrer da safra.

    "Temos notado uma deterioração da margem das usinas ao longo dos anos. A saída tem duas portas, que são a da geração de energia elétrica e corte na pele, de mão de obra e custos", afirmou o pesquisador Haroldo Torres, do Pecege (Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas), da Esalq/USP.

    Dados do programa mostram que o custo do açúcar chegou a R$ 942 (tonelada) na safra passada, ante o preço de venda de R$ 916 (-2,8%). Enquanto isso, o metro cúbico de etanol hidratado (usado diretamente nos carros flex) custou R$ 1.410, mas foi vendido a R$ 1.242 (-11%). Já a eletricidade teve custo de R$ 107 por MWh, com preço de venda de R$ 266.

    Para esta safra, a previsão do mercado é que a tonelada de cana gere um custo total entre R$ 87 e R$ 90 às usinas, que só devem receber cerca de R$ 70 com o mesmo volume da planta.

    A falta de rentabilidade do açúcar se explica pelo excesso do produto no mercado global. Em junho, a cotação chegou a ser a menor em seis anos e meio na Bolsa de Nova York.

    Reflexo imediato da safra –iniciada em abril– são as demissões. A Raízen, gigante do setor, demitiu em Barra Bonita, Jaú e Dois Córregos, segundo sindicatos de trabalhadores. Já a Usina Batatais, com unidades em Batatais e Lins, cortou mais de cem trabalhadores.

    A previsão do setor é que cerca de dez usinas encerrem as atividades na atual safra. Desde 2008, foram 50 paralisações, de um total de cerca de 370.

    A Raízen informou, por meio de nota oficial, que os desligamentos ocorridos fazem parte de medidas necessárias de reestruturação de cargos operacionais relacionados principalmente pela sazonalidade característica no setor nas áreas de plantio, preparo de solo e transporte agrícola.

    O redesenho, segundo a empresa, servirá para dar mais agilidade aos processos internos da empresa e tornar as unidades melhor preparadas e mais competitivas para enfrentar os atuais desafios do mercado

    Em Sertãozinho, aliás, a crise do setor atingiu em cheio as indústrias –foram cerca de 3.000 demissões desde 2014. A cidade tem 650 indústrias, das quais 90% produzem componentes usados em usinas, segundo o Ceise-BR (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis).

    Com isso, a distribuição de cestas básicas pela prefeitura subiu 20%. No Triângulo Mineiro, os municípios também alegam aumento de gastos na assistência social.

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