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    Há problemas em comum, mas Brasil está longe de ser uma Grécia

    TONI SCIARRETTA
    DE SÃO PAULO

    15/07/2015 02h00

    O Brasil está longe da situação vivida pela Grécia, mesmo considerando a recessão e a deterioração dos indicadores econômicos. Após o calote ao FMI, o país europeu está sem crédito, não tem como pagar o funcionalismo, e os bancos estão insolventes.

    Em comum, os governos grego e brasileiro têm dificuldade para controlar os gastos públicos e pouca margem de manobra política para mexer nos benefícios sociais, especialmente aos aposentados.

    Ambos os países não conseguem construir uma rota de crescimento sustentável, reduzindo custos, investindo em produtividade e fomentando novos investimentos.

    Presa na armadilha da moeda única, a Grécia não tem autonomia sequer para emitir o próprio dinheiro, pagar as contas internas mais urgentes, mesmo que isso signifique inflação e empobrecendo a população. Por outro lado, não pode aumentar sua competitividade, mesmo que momentânea, por meio da desvalorização da moeda.

    Editoria de Arte/Folhapress

    A situação grega atual só é comparável àquela do Brasil no final de 1998, quando o país negociou um socorro do FMI para tentar defender o real. O socorro saiu, mas, apesar disso, as reservas cambiais acabaram, e o Brasil desvalorizou o real e abandonou o câmbio fixo.

    Grécia e Brasil também vivem uma instabilidade política crescente. O Brasil com os desdobramentos da operação Lava Jato, possibilidade de rejeição das contas do governo pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e até discussão de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

    A Grécia experimentou a troca sucessiva de governos desde que o socorro europeu começou. Tem hoje o parlamento e a população divididos em relação às exigências de austeridade dos credores.

    Para sair do atoleiro, ambos os países têm metas parecidas de superavit primário (saldo das receitas e despesas antes do pagamento dos juros) que não deverão ser cumpridas. O superavit primário é a economia feita pelo governo para evitar o descontrole da dívida pública.

    A Grécia promete fazer um superavit de 1% do PIB em 2015, devendo subi-lo para 2% em 2016 até atingir 3,5% em 2018. No Brasil, a meta atual é de 1,1% do PIB, mas dificilmente será cumprida.

    Por outro lado, a dívida brasileira bruta está na casa de 66,2% do PIB, patamar elevado para um país com o chamado grau de investimento das agências de risco, espécie de selo de bom pagador.

    Para essas agências, o ideal seria abaixo de 50%. No entanto, o país tem reservas internacionais de US$ 370,7 bilhões, o que reduz o chamado endividamento líquido para confortáveis 34,3% do PIB.

    Na Grécia, a dívida pública já atinge quase duas vezes o tamanho do PIB (177%). Esse patamar só é comparável ao dos países europeus nos anos 50, devido à emissão maciça dos bônus de guerra.

    PRODUTIVIDADE

    O tamanho da economia grega é menos de um décimo da brasileira. Com 11 milhões de habitantes, a Grécia vive do turismo nas ilhas, da indústria naval, além da exportação de frutas e azeites.

    O mercado consumidor é pequeno e o desemprego atinge um em cada quatro trabalhadores.

    O Brasil tem mais de 200 milhões de pessoas e uma economia diversificada. A previsão do FMI é que o desemprego fique em 6% neste ano (foi de 8,1% no trimestre encerrado em maio).

    Finalmente, a população brasileira ainda é jovem, o que poderá sustentar os aposentados até os anos 30.

    O custo do INSS, que foi de 2,5% do PIB em 1988, deve chegar a 7,5% neste ano, segundo o economista Fabio Giambiagi.

    Na Grécia, um quarto da população está aposentada, com custo na casa de 17,5% do PIB, o maior da Europa.

    "Grécia e Brasil têm um Estado caro, com gastos e serviços ineficientes. Ambos os governos têm muita dificuldade para endereçar esses problemas", disse Alexandre Chaia, professor do Insper.

    "O Brasil não está à deriva como a Grécia. Mas os dois países se esforçam só para sair do buraco atual. Não resolvem os gargalos tributário, fiscal e de infraestrutura para ganhar eficiência e produtividade", diz Nicola Tingas, economista da Acrefi.

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