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    Na Grécia, até padarias viram polêmica com a crise e futuro do pão é incerto

    DO "FINANCIAL TIMES", DE ATENAS

    17/07/2015 12h57

    Entre os muitos setores da economia da Grécia que terão de passar por reformas abrangentes, um é notável pelas estranhezas: as padarias.

    "Ri quando li no jornal que, nas 17 horas da conferência de cúpula, eles discutiram o que vai acontecer com o pão", disse Michael Mousios, presidente da federação dos padeiros da Grécia. "É hilário pensar que o problema da Grécia é determinar se salões de beleza poderão ou não vender pão".

    Ainda que as padarias talvez não tenham causado diretamente a crise da Grécia, as exigências dos credores quanto a uma reforma do setor são um dos indicadores dos termos altamente intrusivos do pacote de resgate proposto, no valor de € 86 bilhões, sobre o qual os credores e os gregos chegaram a acordo na manhã de segunda-feira (13). O acordo não é só uma maneira de manter Atenas à tona, mas deve abrir e repaginar a economia que todos encaram como a mais protecionista da Europa.

    As farmácias, até agora protegidas contra a concorrência de parte dos supermercados, e o setor grego de laticínios, onde um emaranhado de regulamentos responde pelos preços incomumente alto do leite, também foram alvo de reformas exigidas pelos credores, determinados a criar uma Grécia mais competitiva.

    No setor do pão, a queixa mais antiga era a de que as pequenas padarias eram protegidas por regras que impediam a venda de pão em outras lojas, por exemplo, supermercados. Essas restrições foram abandonadas, mas os credores internacionais da Grécia agora devem pressionar por reformas em duas outras áreas contenciosas: os pesos padronizados e o imposto sobre valor adicionado (IVA). Os padeiros gregos tradicionalmente empregam pesos padrão para seus pães. Theodoros Dimou, padeiro no subúrbio ateniense de Aghia Paraskevi, disse ao "Financial Times" que produzia pães de dois pesos: 500 gramas e um quilo. Ele acrescentou que o peso de suas roscas koulouri foi padronizado em 80 gramas já há 30 anos.

    Grécia

    A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que congrega países ricos, recomendou abandonar esses padrões como forma de ampliar a escolha dos compradores e abrir o mercado para mais exportações.

    No lado mais industrial da panificação, George Mavromaras, da associação grega de indústrias panificadoras, identificou os impostos como questão chave. Ele argumentou que as reformas precisam estreitar o diferencial na alíquota do VAT entre os 13% pagos pelas padarias e os 23% para os pães comprados em supermercados. "Trata-se de uma grande discriminação, uma grande desvantagem", ele disse.

    O maior temor para os pequenos produtores como Dimou é que liberalizar o setor signifique que empresas como os cafés e os vendedores de doces, que não fabricam pães, passem a poder utilizar o nome "fournos", ou padaria. "Isso confundiria os consumidores e não é certo", ele se queixou.

    Mousios concorda. "Não podemos permitir que uma loja que vende pão fabricado no Marrocos se descreva como padaria", ele disse, afirmando que as 15 mil pequenas padarias artesanais da Grécia criam 140 mil empregos.

    Enquanto os padeiros esperam que as reformas sejam definidas pelo Legislativo, os boatos correm. Dimou disse que havia muita especulação quanto a um possível aumento para 23% no IVA dos pães que contenham grãos na crosta. "Há o rumor de que pães com sementes serão definidos como produto de luxo", ele disse.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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