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    'Empreendedor brasileiro ainda pensa pequeno', diz empresário

    CAMILA VIEGAS-LEE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    DE NOVA YORK

    19/07/2015 02h00

    A maior diferença entre o empreendedor de novas tecnologias no Brasil e nos EUA é que o "americano pensa grande", diz Daniel Heise, 42, sócio fundador da Scup -fornecedora de monitoramento de mídias sociais.

    Morador de Miami desde 2013, ele vendeu recentemente sua empresa para a Sprinklr, líder americana em plataformas de relacionamento.

    "Quando meus sócios e eu conversamos com o CEO da Sprinklr, ficamos surpresos de como tivemos a mesma ideia. Só que a gente pensou no impacto que a nossa start-up teria em São Paulo, e ele pensou no impacto que a dele teria no mundo."

    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    Daniel Heise, executivo da Scup, diante da sede da empresa, em São Paulo
    Daniel Heise, executivo da Scup, diante da sede da empresa, em São Paulo

    Segundo Heise, é comum os empresários nacionais pensarem apenas em atuar no Brasil.

    "Essa mentalidade tem consequências infinitas, desde que tipos de investidores você quer atrair até o nível de experiência dos profissionais que você vai contratar", diz.

    A língua, para ele, não é barreira, pois as start-ups americanas encomendam traduções e formam parcerias para atuar em outros países.

    "Para os americanos, a língua é apenas uma variável do negócio", diz.

    Fundada em 2009, em São Paulo, a Scup recebeu dinheiro de investidores brasileiros e americanos e foi a primeira plataforma brasileira de mídias sociais certificada pelo microblog Twitter.

    Ela oferece uma ferramenta para gerir e analisar menções nas redes sociais e atende empresas como o banco Bradesco e a TAM.

    DIFICULDADES

    Heise acredita que uma aproximação entre Brasil e EUA pode ajudar a impulsionar o empreendedorismo no país e minimizar a falta de profissionais qualificados.

    "Os que existem são muito bons, muito bons mesmo, mas são poucos", diz. "Só é possível contratar um engenheiro se você oferecer um super Mac, porque ele só trabalha com Mac. E, se você tiver que comprar 70 Macs, não tem dinheiro."

    Por outro lado, ele aponta como ponto positivo dos brasileiros a flexibilidade e o jogo de cintura.

    Heise conta que, quando trabalhava em parceria com uma empresa dos EUA, os americanos costumavam chamar indianos ou chineses quando precisavam de um trabalho que não podia atrasar.

    Já quando o prazo era maior, preferiam brasileiros. "Apesar de atrasado, o trabalho voltava com um relatório de todos os erros encontrados, todos os problemas de design, sugestões e especificações melhores."

    "Porém quando ligavam para os brasileiros, no dia em que o trabalho deveria ser entregue, nem os encontravam no escritório."

    Ele também vê a burocracia como entrave para a expansão. "Tenho vergonha de explicar para os gringos o sistema tributário no Brasil", diz Heise. "É um pesadelo."

    Outro problema é o isolamento das universidades, diz. "Há uma cultura patética no Brasil, quase religiosa, que trata o capitalismo como inimigo, uma coisa bizarra."

    Além disso, Heise defende mais intercâmbio entre universitários de diferentes disciplinas como forma de fomentar empreendedorismo.

    O empresário diz que o brasileiro não sabe lidar de forma produtiva com o fracasso.

    "No Brasil, quem abre uma empresa que não é bem sucedida vira um fracassado. Nos EUA, ele é visto como um veterano pronto para abrir a próxima", afirma.

    RAIO-X

    FORMAÇÃO
    Administração na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP)

    CARREIRA
    - Co-fundador da Internest Tech & Par, da Direct Talk e da Scup
    - Mentor voluntário na Endeavor em 2009
    - Gerente geral da Sprinklr, que acaba de comprar a Scup

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