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    Preço de frutas descascadas e cortadas na bandeja pode compensar

    ANAÏS FERNANDES
    DE SÃO PAULO

    20/07/2015 02h00

    Comprar a fruta cortada, descascada e embalada nem sempre sai mais caro que sua correspondente natural. A Folha visitou alguns supermercados em São Paulo para pesquisar.

    O preço do quilo do abacaxi pode ser 21,4% superior que sua versão fatiada e descascada em uma unidade do supermercado Pão de Açúcar da capital paulista. No St Marche, a melancia natural é 56% mais cara que a vendida em tiras na bandeja.

    O debate sobre a "gourmetização" das frutas dominou as redes sociais na semana passada, após um internauta publicar no Twitter a foto de uma mexerica —bergamota, tangerina ou até mimosa, dependendo da região— comercializada sem casca e em gomos em uma unidade da rede Carrefour no Paraná. Nesse caso, houve aumento no preço do quilo, que passou de R$ 2,49 a granel para R$ 2,89 processada.

    O Carrefour afirma, em nota, que disponibiliza frutas em porção em algumas unidades "em atendimento à crescente demanda dos consumidores por conveniência."

    O Pão de Açúcar explicou que, dependendo da negociação com fornecedores, consegue para os processados preços similares ou próximos aos dos produtos em suas versões inteiras. O St Marche não se posicionou sobre a diferença de preços.

    Para Marcelo Secemski, diretor comercial da Fruits Express —empresa que entrega frutas picadas e prontas para consumo em São Paulo—, a ação é uma estratégia para desovar estoques e evitar a perda de produtos com prazo de vencimento próximo. "Frutas são muito sensíveis e perecíveis. Pode ter chegado um carregamento de abacaxi grande, por exemplo, e ficar com o produto é prejuízo para o estabelecimento. Por isso, eles criam atrativos para o cliente comprar."

    Frutas sem Casca

    Paulo Pompilio, vice-presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados), diz que todo produto processado tem valor agregado e, por isso, é mais caro. Ele credita a existência de frutas fatiadas mais baratas que as naturais ao sistema "oferteiro" do varejo brasileiro.

    Adriano Amui, professor da ESPM-SP, explica que o consumidor, em geral, rejeita frutas com cascas manchadas ou feias, ou até quando um pedaço da polpa está estragada. "Como só as partes boas do produto são aproveitadas, o varejo cobra mais barato porque está vendendo algo que seria perdido", diz.

    Ele também pondera, no entanto, que a mão de obra envolvida no serviço e a embalagem necessária deveriam tornar o produto mais caro. "Acredito que seja um teste de mercado para criar um hábito de consumo. Se a população aderir, os preços vão subir".

    Segundo Pompilio, os alimentos processados ainda são um nicho de mercado pequeno, mas vêm ganhando espaço nas prateleiras. No Pão de Açúcar, é crescente a demanda por saladas cortadas, frutas picadas e produtos de rotisseria.

    O público-alvo é de consumidores que moram sozinhos ou em família pequenas e pessoas em busca de uma alimentação mais saudável nos intervalos do trabalho.

    "É o reflexo da vida moderna, as pessoas não têm mais tempo de preparar a comida em casa. Parece exagerado, mas há mercado", diz Eugenio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria especializada em varejo e bens de consumo.

    Além da praticidade, a possibilidade de ver o estado da fruta por dentro antes de comprar pesa na escolha. "O mais importante é a certeza de levar um produto bom, sem correr o risco de estar estragado", diz Foganholo.

    Foi o que pensou o professor aposentado Paulo Vick, 74. "A outra [natural] tem aparência de fermentada, essa consigo ver que está belíssima", comenta ele sobre as duas bandejas de melão fatiado em sua cesta.

    VALOR NUTRICIONAL

    Mesmo descascadas e cortadas, as frutas mantêm os valores nutricionais praticamente intactos por períodos que variam de acordo com a fruta e de como é realizado o processo.

    Segundo a nutricionista Carolina Godoy da Silva, do Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo, o ato de descascar uma fruta não faz com que o total das vitaminas e minerais presentes se perca.

    "O valor nutricional não vai mudar muito. Óbvio que, durante o processo, um pouquinho de cada nutriente presente irá se perder, mas isso varia muito entre cada tipo de fruta e o tipo de manuseio", diz.

    "A casca é como se fosse uma embalagem, ela [fruta] está perdendo apenas um pouco da proteção. Na mexerica, por exemplo, a vitamina C pode oxidar um pouco em contato com o ar, mas se o produto for apenas descascado e cortado, ele ainda irá manter muitos dos benefícios nutricionais", afirma.

    Para a nutricionista, para não haver contaminação no processo, ao lidar com frutas, os supermercados devem manter as mesmas regras de higiene dos demais alimentos.

    "O risco de contaminação existe. O cuidado tem que ser tomado como qualquer outro processamento de alimento. Respeitar as normas sanitárias e manter os utensílios sempre limpos afastam este possível risco de contaminação, diz.

    Colaborou VINICIUS PEREIRA

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