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    BRF reage e usa a volta da Perdigão em campanha contra rival Seara

    TATIANA FREITAS
    DE SÃO PAULO

    19/07/2015 02h00

    A briga pelo mercado brasileiro de alimentos industrializados esquentou nas últimas semanas -e promete ficar ainda mais acirrada.

    De um lado, a BRF, gigante de alimentos dona das marcas Sadia e Perdigão, tenta retomar a participação de mercado perdida nos últimos três anos, período em que a Perdigão esteve fora de alguns segmentos, exigência do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para aprovar a fusão entre as empresas.

    Do outro, a JBS, maior produtora de proteína animal do mundo, tenta consolidar a Seara como sua grande marca de alimentos processados.

    Nas últimas duas semanas, as empresas protagonizaram uma disputa judicial envolvendo um comercial de Seara, que usou a letra "S" para remeter ao seu nome. O filme provocou a rival, que conseguiu tirá-lo do ar temporariamente após ação judicial.

    Reprodução
    cena de campanha da Seara que foi suspensa pela justiça e depois liberada por usar a letra S, identificada com a Sadia
    cena de campanha da Seara que foi suspensa pela justiça e depois liberada por usar a letra S, identificada com a Sadia

    Neste final de semana, a reação da BRF foi para a TV. Na sexta (17), a Perdigão estreou um filme com os apresentadores Luciano Huck e Angélica anunciando a volta da marca nas categorias de linguiça defumada e de presunto. Na tarde deste domingo (19), um novo comercial "mais impactante" vai ao ar, afirma o diretor de marketing da Perdigão, Fábio Miranda.

    Criados pela DM9, ambos têm o slogan "evite surpresa, vai na certeza" -uma clara resposta à Seara, cujas campanhas têm o mote "a qualidade vai te surpreender".

    A partir desta segunda (20), a Perdigão passará a ser patrocinadora do "Jornal Nacional", da Globo -posto hoje ocupado pela Sadia.

    "Pretendemos destacar a tradição da Perdigão, que tem 80 anos, e mostrar que ela continua sendo a segunda marca de alimentos do Brasil, atrás da Sadia", diz.

    A BRF também quer polarizar a disputa entre Perdigão e Seara, que têm posicionamento de preço semelhante, e tirar o foco da Sadia -marca líder, em geral mais cara.

    "Entendemos que a competição da Seara é com a Perdigão, e não com a Sadia", afirma Miranda.

    Executivos da JBS, por sua vez, têm afirmado que a Seara não concorre com determinada marca, mas sim pelo mercado consumidor.

    A disputa publicitária ilustra uma nova fase no mercado de alimentos industrializados. Com a volta da Perdigão nas categorias em que ela era líder (linguiça defumada) e vice-líder (presunto), após o fim da quarentena determinada pelo Cade, a BRF pretende recuperar a participação perdida nos últimos anos.

    Entre 2013 e 2015, o "market share" da BRF em alimentos industrializados caiu de 52,8% para 50,8%, segundo dados da Nielsen disponibilizados pela empresa. A JBS cresceu na mesma proporção, de 10,7% para 12,8%.

    Para Adalberto Viviani, consultor especializado no mercado de alimentos e bebidas, a briga também deve se acirrar nos pontos de venda.

    "O que estamos vendo na TV é a ponta do iceberg. A disputa será grande por espaço nas gôndolas e por rápido giro no varejo", afirma.

    ENTENDA O CASO

    A briga de JBS e BRF na Justiça aconteceu por causa do "S", que durante anos ilustrou campanhas da Sadia.
    Lançado no início
    deste mês, o comercial da Seara, criado pela WMcCann, mostra uma mulher com dois filhos que pede ao funcionário de uma padaria 200 g de presunto.

    Quando ele pergunta qual marca elas preferem, uma das crianças diz que é a que começa com "S", enquanto a outra completa que termina com "A".

    O balconista, então, diz: "Seara, lógico!".

    Sob o argumento de que a propaganda "usurpava" o slogan da Sadia, a BRF conseguiu uma liminar obrigando a rival a retirar o filme do ar.

    O juiz afirmou que que o uso da marca "S" na publicidade da Seara "de certo modo torna implícita a comparação que, embora não pejorativa, acaba por se aproveitar dos sucessos alcançados com as peças publicitárias anteriores" da Sadia.

    A decisão suspendendo a publicidade da Seara englobava todas as mídias.

    Em caso de descumprimento, havia sido fixada multa diária de R$ 50 mil.

    Dias depois, a JBS pediu a derrubada da liminar, argumentando que a propaganda não violava marca e direitos autorais.

    O Tribunal de Justiça de São Paulo revogou a suspensão de peça publicitária diante da probabilidade de "prejuízos de problemática reparação".

    O magistrado ressaltou também que, em princípio, é admitida a publicidade comparativa, salvo em casos de utilização abusiva.

    O desfecho do caso ainda deverá aguardar julgamento de mérito pelo tribunal.

    brf/2015 - 1º tri
    lucro líquido
    R$ 461,6 milhões
    receita
    R$ 7,0 bilhões
    número de funcionários
    104,4 mil (em 2014)

    JBS/2015 - 1º TRI
    Lucro líquido
    R$ 1,4 bilhão
    Receita líquida
    R$ 33,8 bilhões
    número de funcionários
    215 mil (em 2014)

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