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    Presidente da Toshiba renuncia após empresa superestimar lucro

    KANA INAGAKI
    DO "FINANCIAL TIMES", EM TÓQUIO

    21/07/2015 10h04

    Franck Robichon/Efe
    O presidente honorário da Toshiba, Masashi Muromachi (esq), o presidente de Toshiba, Hisao Tanaka (centro) e o vice-presidente executivo Keizo Maeda (ao fundo), fazem uma reverência durante a renúncia de Tanaka
    O presidente da Toshiba, Hisao Tanaka (centro) faz uma reverência durante sua renúncia

    Hisao Tanaka, presidente-executivo da Toshiba, renunciou na terça-feira depois que uma investigação independente constatou que a companhia havia inflado seus lucros, em um dos maiores escândalos contábeis da história do Japão.

    Depois de uma mesura de contrição que durou 15 segundos, em uma entrevista coletiva lotada em Tóquio, Tanaka declarou que a Toshiba havia sofrido "o que talvez seja a pior erosão de nossa marca em 140 anos de história".

    Masashi Muromachi, o presidente do conselho da empresa, assumirá interinamente a presidência executiva, enquanto a companhia busca restaurar a confiança dos investidores por meio de uma reforma em sua estrutura de governança. A Toshiba anunciou que estava considerando apontar pessoas de fora da companhia para mais da metade dos postos de seu conselho.

    O caso representa o maior abalo para a imagem das grandes empresas japonesas desde o escândalo da Olympus em 2011, quando surgiu a revelação de que a companhia de tecnologia havia ocultado prejuízos de US$ 1,7 bilhão no começo dos anos 90.

    A decisão de Tanaka surgiu um mês depois que uma comissão de advogados e contadores de fora da empresa divulgou um relatório detalhando tentativas "sistemáticas" e "deliberadas" de inflar os números dos lucros do conglomerado japonês.

    Hannibal Hanschke - 4.set.14/Reuters
    Visitante no estande da Toshiba durante a feira IFA, em Berlim
    Visitante no estande da Toshiba durante a feira IFA, em Berlim

    O relatório descreve uma cultura empresarial na qual os funcionários tinham medo de expressar oposição aos chefes quando estes propunham metas irrealistas de receita.

    A comissão disse que Tanaka, que começou na Toshiba há quatro décadas, e Norio Sasaki, o vice-presidente do conselho, estavam cientes de que os lucros reportados eram incorretos e que não tomaram quaisquer providências para corrigir a contabilidade manipulada.

    Tanaka negou ter instruído seus subordinados a manipular as contas, mas acrescentou que encarava com seriedade as constatações da comissão.

    O presidente demissionário disse que sentia "a necessidade de executar uma grande reforma em nossa equipe de gestão a fim de reconstruir nossa empresa". Ele acrescentou que a indicação de Muromachi para a presidência executiva era uma "medida temporária".

    A comissão afirmou que a Toshiba, que fabrica laptops, chips de memória e reatores nucleares, teria de revisar seus números para os lucros anteriores aos impostos em 152 bilhões de ienes (US$ 1,2 bilhão), em um período de sete anos iniciado em 2008. Também teria de considerar os 4,4 bilhões de ienes em lucros superdimensionados estimados pela empresa para um período de sete anos que se estende até o terceiro trimestre do ano fiscal de 2014.

    Os 152 trilhões de ienes respondem por cerca de 30% dos lucros anteriores aos impostos totais da empresa no período.

    Não se sabe que prejuízos terão de ser contabilizados ou que perdas adicionais a empresa terá de declarar como resultado da revisão contábil.

    Taro Aso, ministro das Finanças do Japão, disse que o escândalo destacava a necessidade de uma reforma na governança corporativa do Japão. "Podemos destruir a confiança nos mercados japoneses e na Bolsa de Valores de Tóquio se uma governança empresarial real não estiver em vigor", ele disse a jornalistas.

    O relatório de 294 páginas diz que a cultura de exercer pressão sobre os funcionários para cumprir metas de lucro de curto prazo agressivas vigorou na companhia durante três gerações de presidentes-executivos.
    A comissão afirma que ela data do mandato de Atsutoshi Nishida, que comandou a Toshiba entre 2005 e 2009 e continua a ser consultor da empresa. A Toshiba anunciou na terça-feira que ele deixaria o posto.

    Um exemplo das pressões exercidas sobre os funcionários da Toshiba, revelada pela investigação, envolve uma reunião em dezembro de 2008, antes da divulgação dos resultados do terceiro trimestre daquele anho financeiro. Na reunião, os presentes foram informados de que a projeção de lucro operacional era de um prejuízo de 18,4 bilhões de ienes, ao que Nishida respondeu que "esse número é tão embaraçoso que não podemos anunciá-lo em janeiro". A companhia manipulou os números para transformar os 18,4 bilhões de ienes de prejuízo em um lucro de 10,5 bilhões de ienes.

    A pressão vinda de cima pelo cumprimento de metas cada vez menos realistas cresceu quando a receita da companhia começou a se deteriorar como resultado da crise financeira mundial e do terremoto e consequente acidente nuclear de Fukushima, em 2011.

    "Acreditamos que tenha havido uso sistemático de técnicas contábeis indevidas, envolvendo os principais executivos", disse Koichi Ueza, antigo promotor público que presidiu a comissão de quatro integrantes.
    Além de Tanaka, Sasaki e outros cinco membros do conselho renunciaram terça-feira. Sasaki também renunciou como assessor de política externa do primeiro-ministro Shinzo Abe.

    A Toshiba informou que buscaria conselhos de especialistas externos para formar sua nova equipe de gestão e tomar medidas que impeçam que a contabilidade indevida persista.

    As ações da companhia caíram em 26% desde que ela apontou para problemas contábeis, no começo de abril, depois de denúncias anônimas à organização de fiscalização do mercado japonês de valores mobiliários.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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