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    Famílias brasileiras perdem R$ 16 bi de seu poder de compra mensal

    BRUNO VILLAS BÔAS
    DO RIO

    26/07/2015 02h00

    Eduardo Knapp/Folhapress
    À esq., vegetais que valiam R$ 100 em julho de 2014; 12 meses depois, compra com cédula do mesmo valor deu para 75% da quantidade e não conseguiu encher as mesmas cestas
    À esq., vegetais que valiam R$ 100 em julho de 2014; 12 meses depois, compra com o mesmo valor

    A capacidade das famílias brasileiras de consumir bens e serviços ao longo de um mês encolheu em R$ 16 bilhões neste ano.

    Com a inflação em alta, o desemprego crescente e o crédito restrito, o poder de compra das famílias, propulsor da economia nos últimos anos, está em queda pela primeira vez desde 2003 e deve se manter em baixa nos próximos meses.

    Estudo da consultoria Tendências, obtido pela Folha, mostra que o poder de compra das famílias foi de R$ 240 bilhões na média mensal de janeiro a maio —6,2% menor do que em igual período de 2014 (R$ 256 bilhões).

    "Depois de anos de aumento da capacidade de consumo, fica até difícil falar em empobrecimento do brasileiro, mas é exatamente o que está acontecendo", afirmou Rodrigo Baggi, economista da consultoria Tendências.

    Isoladamente em maio, o poder de compra estava em R$ 229 bilhões, o que representava um retrocesso ao patamar de janeiro de 2012 (R$ 228,5 bilhões).

    Para chegar aos números, a consultoria considera a massa de renda (inclusive da previdência) descontando a inflação, a oferta de crédito (com imobiliário) e os gastos das famílias com pagamento de dívidas.

    O poder de compra das famílias encolheu porque a inflação corroeu a renda dos brasileiros e o ritmo das novas concessões de crédito –componente básico do consumo­— desacelerou.

    SUPÉRFLUOS

    O empresário Bruno Gorodicht, 34 anos, é um dos que sentem na pele esses efeitos. Com custo de vida 10% maior em 2015, ele precisou readequar seus gastos, cortando supérfluos como restaurantes e viagens.

    "Só o colégio da minha filha aumentou 20%. Mas minha renda não acompanhou", diz o empresário, dono da rede Espetto Carioca.

    As famílias de baixa renda são as que mais sofrem. Elas têm menos supérfluos para cortar do orçamento e acesso restrito a investimentos que superam a inflação.

    Outro problema é que, com um mercado de trabalho em deterioração, o ambiente para as negociações salariais está desfavorável.

    "O trabalhador não consegue cobrar aumento acima da inflação. A prioridade é manter o emprego", afirma Hélio Zylberstajn, coordenador do site Salários.org.br e professor da USP.

    Nas projeções da Tendências, o poder de compra deve recuar, ao fim do ano, 6,1% na comparação com 2014. No ano que vem, com a expectativa de desaceleração da inflação, o poder de compra pode ter pequeno aumento, de 0,6%.

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