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    Dólar tem 4ª alta e segue no maior valor desde 2003; Bolsa cai pelo 7º dia

    DE SÃO PAULO

    27/07/2015 18h00

    Mark Wilson/AFP
    Dólar sobe pelo quarto dia com cautela em relação à economia chinesa e à política brasileira
    Dólar sobe pelo quarto dia com cautela em relação à economia chinesa e à política brasileira

    Sinais de desaceleração da economia chinesa intensificaram o clima de aversão ao risco entre os investidores nesta segunda-feira (27), derrubando as Bolsas globais e pressionando a cotação do dólar para cima. Internamente, a preocupação com o quadro político do Brasil elevou o grau de tensão no mercado.

    O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou com valorização de 0,64% sobre o real, cotado em R$ 3,356 na venda. É a maior cotação nominal desde 28 de março de 2003, quando estava em R$ 3,373 –em valor real (descontadas as inflações do Brasil e dos EUA no período) seria em torno de R$ 5,285.

    Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,47%, para R$ 3,364. É também o maior valor de fechamento desde 28 de março de 2003, quando estava em R$ 3,372.

    No mercado de ações, o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, caiu 1,04%, para 48.735 pontos –maior valor desde 13 de março, quando estava em 48.595 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,913 bilhões.

    Foi a sétima queda consecutiva do Ibovespa, a mais longa sequência de baixas desde fevereiro de 2013. Naquela época, a derrocada das empresas "X", de Eike Batista, e a decisão da Petrobras de reduzir o dividendo (parte do lucro distribuída aos acionistas) pago às ações ordinárias –com direito a voto– para fazer frente aos investimentos do pré-sal assombravam o mercado.

    O mau humor também foi visto em Nova York, onde o S&P 500 teve baixa de 0,58%, enquanto Dow Jones recuou 0,73% e o Nasdaq, 0,96%. As Bolsas europeias caíram mais de 1%. A aversão ao risco generalizada, segundo analistas, foi motivada pelo tombo de 8,48% do mercado de ações de Xangai nesta segunda, a maior baixa diária nos últimos oito anos.

    "O mercado se sente desamparado pelas informações desencontradas da China. Há incerteza mesmo. A grande questão que fica é o quão 'mão forte' está o governo chinês junto ao mercado de capitais por lá. Será que o banco central do país já fez tudo o que poderia fazer para conter a queda das Bolsas ou ainda pode fazer mais?", disse Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

    A China informou nesta segunda que está preparada para comprar ações para estabilizar o mercado acionário e evitar "riscos sistêmicos". Mas a avaliação é que o pouso forçado da segunda maior economia do mundo deve continuar empurrando para baixo os preços de algumas importantes commodities, como o petróleo.

    O barril tipo WTI encerrou o dia cotado a US$ 47,39 por unidade em Nova York, no menor patamar desde 20 de março. Em Londres, o barril de petróleo do tipo Brent cedeu 2,11%, a US$ 53,47 por unidade.

    Com isso, as ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, cederam 5,28% nesta segunda-feira, para R$ 9,51. Investidores seguiram aguardando as deliberações da reunião do conselho de administração da estatal na última sexta-feira.

    Internamente, o cenário político adicionou ainda mais tensão ao mercado. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse durante evento em São Paulo que a nova meta de superavit primário anunciada pelo governo federal não será cumprida.

    Ele ainda condicionou a votação na Câmara do projeto sobre repatriação de capitais, apontado pelo governo como essencial para se atingir o novo objetivo fiscal, a um envio de uma proposta sobre o tema pelo Executivo.

    AÇÕES

    Em sentido oposto ao do petróleo, o preço do minério de ferro subiu 1,4% na China nesta sessão, para US$ 51,40 por tonelada. Mesmo assim, a ação preferencial da Vale não conseguiu sustentar o ganho registrado durante boa parte da sessão e fechou em baixa de 0,21%, para R$ 14. A China é o principal destino das exportações da mineradora brasileira.

    No setor bancário, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, o avanço de Bradesco (+0,94%) e Banco do Brasil (+3,04%) amenizou a queda do índice. Já o Itaú Unibanco viu suas ações caírem 0,21%.

    A Secretaria do Tesouro Nacional comunicou em nota que a venda de ações do BB que estavam na carteira do Fundo Soberano atingiu 5,63 milhões de papéis e foi encerrada em 15 de julho. O preço médio de venda foi de R$ 23,84 por ativo, totalizando R$ 134 milhões.

    O papel da petroquímica Braskem recuou 10,12%, para R$ 10,83, liderando as perdas do Ibovespa no dia. O Ministério Público Federal denunciou executivos da Odebrecht no âmbito da operação Lava Jato no final da tarde da sexta-feira, responsabilizando os mesmos por um dano de R$ 6 bilhões causado por contrato de fornecimento de nafta pela Petrobras à Braskem.

    Já a companhia aérea Gol subiu 8,36%, para R$ 6,09. Foi a maior alta do Ibovespa na sessão. A empresa divulgou seus dados operacionais de junho, com aumento de 3,5% na oferta de voos domésticos em junho, em comparação a igual mês de 2014. A demanda doméstica cresceu 5,6%. A taxa de ocupação desses voos subiu 1,5 ponto percentual, para 77,2% em junho.

    O vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Gol, Edmar Lopes, afirmou nesta segunda-feira em teleconferência com analistas que o cenário atual requer mais cautela, e que ainda é cedo para falar em possíveis melhorias em relação ao ano passado. O executivo disse acreditar, no entanto, que "o fundo do poço" já foi atingido em termos de tarifas baratas.

    JUROS

    O dado melhor que o esperado das encomendas de bens duráveis nos Estados Unidos reforçou a visão de que a economia americana segue no caminho de recuperação, o que abre espaço para o Federal Reserve (banco central americano) começar a subir a taxa básica de juros. As encomendas de bens duráveis nos EUA subiram 3,4% em junho, ante expectativa de alta de 2,7%.

    O aperto monetário americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA –que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco– mais atraentes do que aplicações em emergentes como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias. Com a menor oferta de dólares, a cotação da moeda americana seria pressionada para cima.

    Mesmo com a recente escalada do dólar, o Banco Central manteve o ritmo de rolagem do lote de US$ 10,675 bilhões em swaps cambiais que vencem em agosto e renovou nesta segunda-feira mais 6.000 contratos. A operação equivale a uma venda de dólar no mercado futuro.

    O mercado, contudo, já começa a cogitar a possibilidade de o BC aumentar o volume de rolagem no próximo mês para tentar amenizar o movimento de alta do dólar frente ao real. A recente alta do dólar reforçou as apostas de que o BC deverá manter o ritmo de alta de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), cuja decisão será anunciada na quarta-feira (29).

    O Boletim Focus, divulgado nesta manhã, mostrou uma mudança das apostas para a taxa Selic (juro básico) no fim deste ano. A mediana das projeções passou de 14,50% para 14,25% ao ano. Já a mediana da projeção para o IPCA (índice oficial de inflação) subiu de 9,15% para 9,23% em 2015 e ficou estável em 5,40% para 2016.

    Com agências de notícias

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