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    Para governo, Congresso precisa entender recado dado pela S&P

    VALDO CRUZ
    NATUZA NERY
    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    29/07/2015 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O ministro da fazenda Joaquim Levy, em evento de retomada dos trabalhos do Carf, órgão que julga multas tributárias
    O ministro da fazenda Joaquim Levy, em evento de retomada dos trabalhos do Carf, órgão que julga multas tributárias

    A mudança no viés da nota brasileira pela Standard & Poor's foi mais uma notícia negativa para o Brasil, mas assessores da presidente Dilma enxergam um lado positivo na decisão da agência de classificação de risco.

    Ela pressiona o Congresso Nacional a aprovar medidas de aumento de receita propostas pela equipe econômica para cumprir a nova meta fiscal de 0,15% do PIB.

    O governo já temia que a agência colocasse a nota brasileira, hoje no último patamar de grau de investimento, numa perspectiva negativa para a próxima revisão.

    A partir de agora, o Brasil fica a um passo de perder o selo de bom pagador pela S&P, o que é visto como "muito preocupante" pela equipe econômica de Dilma.

    As previsões da S&P para o Brasil

    Assessores presidenciais consideram, porém, que essa decisão da agência viria mais cedo ou mais tarde depois da redução drástica da meta de superavit primário de 2015 de 1,1% para 0,15% do PIB.

    A mudança antes do fim do recesso parlamentar é vista como uma chance de que deputados e senadores, ao voltar ao Congresso, saibam que sem a aprovação de medidas de aumento de receita cresce muito o risco de o Brasil perder o grau de investimento.

    Agora, diz um auxiliar presidencial, fica mais claro que o Congresso tem sua parcela de responsabilidade para garantir o reequilíbrio das contas públicas do país.

    A S&P, ao divulgar sua decisão, explicitou esperar que o Congresso aprove medidas como a tributação da regularização de dinheiro de brasileiros no exterior, com a qual o governo espera arrecadar R$ 11 bilhões neste ano.

    Listou ainda a aprovação da DRU (desvinculação de receitas da União, que permite ao governo gastar livremente parte do Orçamento que tem receitas vinculadas a gastos específicos). O governo propôs até elevar o percentual de 20% para 30%.

    Nesta terça (28), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rechaçou a responsabilidade do Congresso sobre a crise. "Todas as medidas do ajuste fiscal foram aprovadas. Não foi o Congresso que deprimiu a economia."

    Risco de rebaixamento

    TAMANHO DO CORTE

    Do lado negativo, assessores presidenciais consideraram que a medida da S&P foi tomada não muito pela revisão da meta em si, mas pela "magnitude" da redução do superavit, e também porque a Fazenda não preparou o mercado para a mudança.

    A Folha apurou ainda que outra agência de classificação de risco, Moody's, ficou irritada com a equipe econômica porque teve reunião na Fazenda e não recebeu nenhuma sinalização de que o superavit poderia sofrer "tamanho choque" de redução.

    No Congresso, o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), disse que a perspectiva negativa da nota é um reflexo da crise política que o governo enfrenta.

    "A crise com o Congresso é consequência, e não causa, dos problemas do governo."

    Já o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que o enfraquecimento do apoio do governo não pode ser usado como argumento para reduzir o grau de investimento do Brasil.

    "Não levo muito em conta a avaliação dessas agências, que ficam dando carão nesse ou naquele país. O Brasil tem uma economia sólida. As agências têm que se preocupar com a China e com a Europa, que degringolaram."

    Classificação de risco

    DILMA X CONGRESSO
    Legislativo amplia gastos ou reduz economia de medidas

    1. Benefícios trabalhistas
    Medida provisória endurece regras para seguro-desemprego e abono salarial

    Situação
    Foi aprovada, mas com restrições mais brandas do que as previstas pelo governo

    2. Benefícios previdenciários
    Medida provisória dificulta acesso a pensões por morte e reduz tempo de pagamento do benefício

    Situação
    Aprovada com modificações, incluiu alternativa ao fator previdenciário que foi vetada por Dilma

    3. Desoneração da folha de pagamento
    Projeto de lei reverte parte do programa de alívio tributário do 1º governo Dilma

    Situação
    Governo já cedeu em alguns pontos, mas projeto ainda está no Congresso

    4. Reajuste do Judiciário
    Projeto previa reajuste de até 78,56% para servidores do Poder Judiciário Federal

    Situação
    Dilma vetou a proposta, mas o veto pode ser derrubado

    5. Reajuste do salário mínimo
    Congresso estendeu a regra que garante ganhos acima da inflação para todos os beneficiários do INSS

    Situação
    Dilma deve vetar

    6. Mudança na correção do FGTS
    Projeto fixa a correção dos recursos pelo índice de poupança

    Situação
    Em análise na Câmara

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