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    OPINIÃO

    Bancos navegando nas águas turbulentas do crédito

    ROBERTO TROSTER
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    30/07/2015 13h30

    A nota de crédito do Banco Central do Brasil é mais uma na sequência mostrando uma deterioração das condições de crédito, apontando para a estagnação de seu saldo total, a piora na sua composição, aumentos nas taxas e na inadimplência e redução nas concessões. Mais grave é o imobilismo frente ao quadro.

    O saldo total das operações de crédito do sistema financeiro nacional aumentou 9,8% em doze meses. Considerando que a inflação no período foi de 8,9% e excluindo pagamentos à vista no cartão como parte da oferta, em valores reais, observa-se um encolhimento real do mesmo.

    Os financiamentos mais caros aumentaram mais seus saldos, o que se explica em parte, pela rolagem das operações e pelo efeito taxas. As concessões totais só aumentaram 1,3%, portanto, apresentaram um encolhimento real de 7,6% nos últimos doze meses.

    Para pessoa física com recursos livres, 80% das concessões de crédito foram no cartão de crédito e no cheque especial, 7% em crédito pessoal tabelado —consignado do INSS e de funcionários públicos e apenas 13% em todas as demais linhas.

    As taxas cobradas bateram novos recordes nacionais e mundiais: o cheque especial para pessoa jurídica alcançou 216,7% e para pessoa física 241,3%, o rotativo do cartão chegou a 372,0% e registraram-se alguns bancos que em média superaram os 600,0%. Um despautério!

    Obviamente, é uma dinâmica insustentável. A mora (atrasos e inadimplência) dos créditos renegociados supera os 30% da carteira e para o rotativo do cartão de crédito extrapola os 50%.

    O país está num círculo vicioso de piora de qualidade das condições de crédito que está agravando o quadro macroeconômico e as perspectivas do país. Note-se que o sistema está operando num quadro com problemas, não é problemático.

    Os balanços dos bancos Bradesco e Santander surpreenderam os analistas mostrando que conseguiram recompor margens encolhidas por conta de mais impostos, inadimplência e o quadro macroeconômico com taxas mais altas, serviços e aumentos de produtividade. Mostra que o sistema bancário é sólido, rentável e está bem gerenciado.

    A questão é que dez bancos que operam aqui conseguem ter margens de lucro semelhantes no Chile com taxas que são em média 80% menores que as brasileiras; será que não é hora de mudar a política bancária do Brasil?

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