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    Para analista do SR Rating, país não merecia selo de bom pagador

    ISABEL VERSIANI
    DE BRASÍLIA

    01/08/2015 00h00

    Zanone Fraissat/Folhapress
    O economista Paulo Rabello de Castro, diretor-presidente da SR Rating
    O economista Paulo Rabello de Castro, diretor-presidente da SR Rating

    O Brasil nunca mereceu receber a nota de grau de investimento, mas o atual cenário de turbulência política e crise econômica não representa tampouco um panorama de "terra arrasada".

    A avaliação é do economista Paulo Rabello de Castro, diretor-presidente da SR Rating, agência local especializada em medir o risco de emissões feitas por instituições financeiras e empresas.

    Para Castro, os progressos obtidos pelo país desde 2007 decorreram essencialmente do aumento dos preços das commodities, e não de avanços estruturais na economia, e o país não tem ainda uma gestão de dívida nem uma política fiscal compatíveis com o selo de bom pagador.

    Na contramão das principais agências internacionais, que desde a segunda metade da década passada classificam o Brasil como grau de investimento, na SR Rating o país tem há nove anos a nota BB +, considerado de risco mediano de inadimplência.

    A classificação, um degrau abaixo do grau de investimento, foi reafirmada no mês de junho.

    PROJEÇÕES

    Para frente, a SR trabalha com diferentes projeções para a dívida pública. No cenário menos favorável, que considera que o país pouco fará para enfrentar problemas como o descasamento entre receitas e despesas, a relação dívida/PIB chega ao final de 2020 a 97,3%.

    No cenário mais positivo, que leva em conta uma guinada forte na política econômica, com a adoção da reforma tributária, queda de juros e controle de gastos, o endividamento chega a 59,5% do PIB em cinco anos.

    Castro avalia que a perspectiva real está em algum ponto intermediário, e que a tendência é que o país aproveite a crise para promover algumas mudanças importantes para o controle do endividamento.

    "Estamos apostando que vai haver uma reação da sociedade, inclusive eleitoral, de colocar ordem na casa."

    Uma das saídas para conter o desequilíbrio fiscal, na opinião do economista, seria estabelecer uma trava emergencial para as despesas públicas, a exemplo do que foi adotado pela Alemanha na última década.

    AGÊNCIAS DE RISCO

    Castro é crítico à atuação das grandes agências de risco internacionais. Para ele, ao invés de antecipar os movimentos econômicos com base em análises aprofundadas elas "surfam na onda do mercado" e apontam as alterações de risco depois que elas já são evidentes.

    "Chamam o rabecão depois que o defunto já passou", brincou.

    No caso brasileiro, as agências deveriam ter sinalizado há mais tempo que as condições não eram favoráveis.

    Na semana passada, a agência Standard & Poor´s alterou de estável para negativa a perspectiva da nota brasileira, indicando que um rebaixamento, que levará o país a perder o selo de bom pagador, virá em breve.

    Para Castro, a prática de adotar uma perspectiva para a nota dos países cria uma incerteza desnecessária.

    "Empresa de rating não faz alerta, não fica entre A e B. Ela atribui uma opinião de risco de não pagamento."

    Editoria de Arte/Folhapress

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