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    Capital brasileira da lingerie sente na pele o aperto da crise econômica

    DO "GUARDIAN"
    EM NOVA FRIBURGO (RJ)

    04/08/2015 02h00

    Em uma loja deserta, em uma rua vazia, à sombra de um outdoor de 15 metros que porta a imagem de uma mulher de calcinha e sutiã, Fátima Vieira reconsidera sua opção de carreira.

    Vieira, 54, proprietária da loja Switch Women, mudou-se do Rio para Nova Friburgo há cinco anos, a fim de criar seu negócio na chamada "capital brasileira da lingerie".

    "Quando cheguei aqui, a cidade era o lugar ao qual brasileiros de todo o país vinham para comprar lingerie", diz. "Agora parei de renovar meu estoque e estou só tentando vender aquilo que tenho. Para ser honesta, estou pensando em desistir."

    Com a economia brasileira a caminho da pior recessão em 25 anos, muitos dos comerciantes dessa antiga colônia de alemães e suíços enfrentam dificuldades.

    Na Tanga Rosa, a história é a mesma. Rafaela Fagundes, 27, diz que os últimos meses foram sombrios. "Ninguém quer comprar nada."

    De acordo com o Sindvest, a organização patronal do setor de lingerie local, um quarto dos 200 mil moradores de Nova Friburgo depende do setor têxtil. Em algumas categorias de roupa de baixo, a cidade responde por até 25% da produção brasileira.

    Em 1968, a fabricante alemã Triumph abriu uma grande fábrica na cidade. Quando ela começou a demitir, nos anos 1980, muitos decidiram usar seus conhecimentos para abrir novas empresas. Agora, a cidade conta com mais de 1.300 fabricantes e varejistas de lingerie. Outras centenas operam informalmente.

    "Não é mau ter tantas empresas pequenas no mesmo lugar, mas em uma recessão as menores tendem a ser canibalizadas pelas de maior porte, que podem arcar com um baque temporário e desenvolver produtos especializados", diz Marcelo Prado, diretor do Iemi (Instituto de Estudos e Marketing Industrial), especializado em moda.

    INOVAÇÃO PARA FUGIR DA CRISE

    Apesar de a crise econômica afetar o desenvolvimento do polo em Nova Friburgo, os produtores locais tentam se renovar e apostam na inovação para sobreviver ao momento.

    Nesta semana, cerca de 100 expositores participam da 25ª edição da Fevest (Feira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria-Prima). De acordo com os organizadores do evento, o balanço parcial mostra que a meta de aumentar em 4,5% o volume de negócios ante o ano passado já foi atingida, principalmente graças a inovação.

    "O movimento no domingo e segunda já ultrapassa essa previsão e a maior procura não é por produtos de baixo custo, e sim por novidades e tecnologia de ponta. Só teremos o valor definido ao final do evento, mas acredito que as vendas superem os R$ 58 milhões", afirmou em nota o Marcelo Porto, presidente do Sindvest (Sindicato das Indústrias de Vestuário de Nova Friburgo e Região).

    Além de bons resultados na exposição, os produtores locais também tentam fugir do crescente corte de vagas que atinge a indústria do país.

    Segundo dados disponibilizados pelos organizadores da Fevest, o polo de Nova Friburgo registra menos de 1% de saldo de demissões, o que, para o órgão, demonstra que as empresas locais vêm apostando na crise como uma janela de oportunidades.

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