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    Pequenos negócios recorrem à energia solar com financiamento subsidiado

    FELIPE GUTIERREZ
    DE SÃO PAULO

    10/08/2015 02h00

    Zé Carlos Barreta/Folhapress
    Walter Marquart, da Vila dos Cães, em Santana do Parnaíba
    Walter Marquart, da Vila dos Cães, em Santana do Parnaiba

    Nos últimos 12 meses, o custo da energia ficou 60% mais caro no Brasil, segundo o IBGE. Mas a conta do hotel para cachorros Vila dos Cães, em Santana do Parnaíba, passou de R$ 1.300 por mês para apenas R$ 210.

    O alívio foi resultado dos painéis solares instalados no início do ano.

    O diretor da hospedagem, Walter Marquart, 52, conta que os aparelhos para secar os cachorros gastam muita energia e, temendo uma alta da tarifa de luz, decidiu investir na fonte alternativa.

    Desde 2013, o número de edifícios com painéis solares cresceu quase dez vezes, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

    A previsão da associação do setor, a Absolar, é que o número chegue a mais de 1.000 até o fim do ano.

    A maioria das instalações, cerca de 71%, está em edifícios residenciais. Mas bancos oferecem linhas de crédito subsidiado para pequenas empresas comprarem tecnologia que possibilite captar a irradiação solar.

    A instalação na Vila dos Cães saiu por R$ 80 mil, mas os donos só desembolsaram R$ 14 mil.

    O resto foi subsidiado por uma linha de crédito do Banco do Brasil a juros menores por se tratar de um projeto que reduz o impacto ambiental do negócio.

    Em São Paulo, a agência estadual Desenvolve SP também oferece crédito subsidiado para esse fim.

    O presidente da agência, Milton Luiz de Melo Santos, afirma que, além de interessados em gerar energia, ele negocia com cinco empresas a instalação de fábricas de painéis solares.

    Já o Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo) tem planos para criar centrais de captação para fornecer energia para seus associados.

    O projeto prevê que um fundo de investimentos faça aportes para custear a instalação das placas.

    FAÇA AS CONTAS

    Segundo Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, não existem produtores nacionais dos painéis e dos inversores -os aparelhos que transformam a irradiação em watts.

    No entanto, essa tecnologia ficou mais barata porque a China aumentou muito a sua produção.

    Apesar do interesse crescente nesse tipo de energia, Sauaia alerta que há muitas variáveis que influenciam o cálculo para saber se o investimento vale a pena.

    Ele cita a incidência de irradiação solar no lugar, o consumo, o tipo de tarifa cobrado da empresa (na maioria dos Estados, as indústrias pagam um valor menor pela energia) e quanto custa a instalação.

    Em média, afirma, em um período entre 6 e 12 anos a diminuição do valor da conta mensal vai "pagar" o investimento nos painéis.

    Isso sem levar em conta eventuais aumentos do preço da conta de luz.

    A PGM Sistemas, empresa que produz softwares em Uberlândia (MG), investiu R$ 85 mil em 2011 para instalar os painéis.

    Segundo o diretor Vítor Moura, 28, a projeção atual é que o valor será compensado em 2019.

    Ele diz considerar que, além do retorno financeiro, empresários devem se preocupar com o ambiente, e a medida foi, em parte, para reduzir o impacto que seu negócio causa.

    IMPOSTO

    O imposto sobre o consumo de luz é um dos entraves para o investimento em energia solar, afirmam empresários que instalaram painéis.

    A questão chave é como os Estados devem tributar os edifícios que geram parte da energia que consomem.

    Ao instalar um painel, o dono pode optar por acumular a energia captada excedente em baterias ou compartilhar com a rede.

    Esta última foi a opção de Márcia Fernandes, 47, diretora da Farmácia Biológica, de Cuiabá. A empresa acumula créditos por esses kilowatts.

    O problema é que, em Mato Grosso, o cálculo do imposto é feito usando como base todo o consumo de energia, e não somente o que Fernandes usou além daquilo que ela mesma gerou.

    "É um imposto sobre circulação de mercadoria, mas não tem circulação. Eu mesma produzi e consumi a energia", afirma a empresária.

    Em abril, o Confaz, órgão oficial que toma decisões sobre benefícios fiscais, definiu que os Estados só devem cobrar o consumo líquido de energia (ou seja, o que excede a geração). Mas, até agora, apenas seis Estados aderiram (São Paulo, Goiás, Tocantins, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará).

    Em Minas Gerais, essa regra só vale para os cinco primeiros anos depois da instalação do equipamento.

    A Absolar e outras entidades fazem campanha para que a determinação seja adotada no país inteiro.

    Veja quanto tempo leva para o investimento em painel solar se pagar:

    Farmácia Biológica, de Cuiabá (MT)

    Investimento: R$ 281 mil em empréstimo subsidiado a juros menores

    Conta mensal: de R$ 3.000 para zero

    Prazo para troca ser compensada: 8 anos

    Vila dos Cães, de Santana do Parnaíba (SP)

    Investimento: R$ 80,4 mil, dos quais R$ 14 mil próprios e o resto em financiamento

    Conta mensal: de R$ 1.300 para R$ 210

    Prazo para troca ser compensada: 7 anos

    PGM Sistemas, de Uberlândia (MG)

    Investimento: R$ 85 mil do próprio bolso

    Conta mensal: de R$ 800 para R$ 100

    Prazo para troca ser compensada: 37 anos (leva em conta rendimento do dinheiro se tivesse sido aplicado)

    Cresce número de edifícios com microgeradores de energia solar no Brasil:

    Fim de 2012: 3
    Fim de 2013: 75
    Fim de 2014: 417
    Atualmente: 725
    Fim de 2015: 1.000

    Estados com maior número de geradores no momento:

    MG: 128
    CE: 82
    RS: 73
    SP: 69
    RJ: 63

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